CAMPO GRANDE (MS),

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    04/12/2020

    País que menos testa população contra Covid-19 também poderá jogar mais de 6,5 milhões de testes fora

    Estoque tem vencimento entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021, e corresponde a 73,75% dos testes já aplicados desde o começo da pandemia 

    ©iStock
    A luta contra o coronavírus tem sido diária — em especial, pelos desafios que a doença impôs ao país, seja no atendimento e na proteção dos profissionais de saúde, número de leitos disponíveis, combate aos fatores sociais para retardar a dissipação do vírus ou na produção da vacina. Essa luta, entretanto, também foi afetada pela organização política da saúde brasileira, com casos comprovados de má distribuição dos testes. 

    De acordo com reportagem do Estado de S. Paulo, o Brasil pode jogar fora mais de 6,5 milhões de testes para a Covid-19 pelo prazo de validade, uma vez que ficaram estocados em um armazém do Governo Federal em Guarulhos, sem distribuição para a rede pública. Os exames RT-PCR vencem entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021. 

    O número de testes armazenados — que possuem validade de oito meses — é, inclusive, maior do que a quantidade de testes já aplicados desde o começo da pandemia pela rede pública de saúde. Conforme o balanço feito pelo Ministério da Saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS) realizou até o começo de dezembro cerca de 5 milhões de testes, valor correspondente a 73,25% do número total dos testes armazenados em Guarulhos. 

    O investimento fornecido pelo Governo Federal para a compra dos testes foi de R$ 764,5 milhões. As unidades que estão próximas da data de vencimento custaram R$ 290 milhões. Para a responsabilidade sobre o ocorrido, há um impasse, principalmente porque a compra é feita pelo Governo Federal, mas a distribuição é de responsabilidade dos governadores e prefeitos. 

    Um segundo motivo para a não disseminação dos testes, de acordo com os secretários estaduais, está atrelado também ao recebimento de kits incompletos para o diagnóstico, sobretudo nos materiais básicos, como cotonetes e tubos de laboratórios para coletar amostras. 

    As principais faculdades de biomedicina do país — entre elas, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) — também destacam que o teste de validade não pode ser renovado. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também anunciou que a entrega de testes vencidos é considerada uma infração sanitária. 

    Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) produziu um estudo para verificar a estabilidade de utilização dos testes, estudo este que será divulgado nos próximos dias. 

    Um dos países que menos testa sua população 

    No começo de 2020, o Brasil já havia sido classificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um dos países que menos testam seus residentes — número calculado pela quantidade de testes a cada mil habitantes —, apesar de ser um dos mais atingidos pela Covid-19, com um saldo de mais de 6 milhões de casos confirmados e um acúmulo de cerca de 172 mil óbitos. 

    Em julho deste ano, o Ministério da Saúde divulgou que o Brasil realizou um total de 13,7 testes por habitante, um número muito inferior a outros países até menos atingidos pela doença no mundo. Hoje, não é possível ter dados mais recentes do número de aplicação dos testes em virtude da restrição de acesso e divulgação de novos casos por parte do Governo Federal. 

    O Brasil estava posicionado, no começo do segundo semestre, atrás de países como Chile, Canadá, Rússia, Peru, Irã, Índia, Itália, Reino Unido e Estados Unidos no número de testes realizados, de acordo com o Ministério da Saúde e Our World In Dara, da Universidade de Oxford, ocupando a 50ª posição no ranking de testagem mundial contra a Covid-19.

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