CAMPO GRANDE (MS),

  • LEIA TAMBÉM

    26/11/2020

    Sequelas da Covid-19 equivalem a dez anos de envelhecimento do cérebro, diz estudo

    Até mesmo pacientes menos afetados pelo coronavírus podem apresentar alterações cerebrais durante meses 

    ©iStock
    Problemas respiratórios são apenas o primeiro desafio que os contagiados pelo coronavírus precisam enfrentar, isso porque a Covid-19 deixa rastros também no cérebro. Um estudo realizado pelo médico Adam Hampshire, do Imperial College de Londres, sugere que as sequelas da doença nas capacidades cognitivas dos pacientes sejam equivalentes ao envelhecimento de dez anos do cérebro ou à redução de 8,5 pontos no QI. 

    O estudo, realizado com mais de 84 mil pessoas, ainda não foi completamente comprovado e precisa ser submetido à comunidade científica, mas sugere que capacidades como lembrar palavras, compreender emoções, resolver problemas de lógica e ter orientação espacial, que são todas do campo cognitivo, são afetadas. 

    As avaliações de desempenho cerebral utilizadas para acompanhar os pacientes do estudo são as mesmas utilizadas para mensurar os efeitos de doenças como o Alzheimer, e mostraram que mesmo quem já havia sido curado da Covid-19 continuou apresentando dificuldades para cumprir tarefas. “Pessoas que se recuperaram, incluindo aquelas que não relatam mais sintomas, exibiram déficits cognitivos significativos”, disseram os pesquisadores no relatório de descobertas. 

    Acredita-se que, apesar de haver melhora em relação às alterações mentais na maioria dos casos, o problema pode durar meses e ainda não é possível concluir se há casos de danos permanentes. Os pesquisadores ressaltam também que mesmo os casos mais leves da doença afetaram o cérebro. "Pessoas que se recuperaram, incluindo aquelas que não relataram mais os sintomas, exibiram déficits cognitivos significativos ao controlar por idade, sexo, nível de educação, renda, grupo étnico-racial e distúrbios médicos preexistentes. Eles foram de tamanho de efeito substancial para pessoas que haviam sido hospitalizadas, mas também para casos leves, mas biologicamente confirmados, que não relataram dificuldade respiratória", conclui o estudo. 

    Como o cérebro é afetado? 

    Médicos que vêm atendendo pacientes pessoalmente ou por telemedicina, assim como pesquisadores, buscam compreender como o vírus age no tecido do cérebro. Uma pesquisa que aborda o tema é nacional, foi realizada por diferentes grupos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade de São Paulo (USP), financiada pela FAPESP e divulgada em setembro de 2020 na plataforma medRxiv. 

    De acordo com a investigação feita em pessoas que morreram de Covid-19, concluiu-se que o vírus é capaz de infectar, em especial, os astrócitos. Essas são as células mais abundantes no sistema nervoso central e têm diversas funções importantes, como manter os nutrientes dos neurônios, regular a entrada de substâncias que interferem no funcionamento neuronal, como o potássio, e proteger o cérebro contra toxinas. Se essas células são atacadas, como acontece com doentes com coronavírus, esses e outros processos ficam desregulados. 

    Por: Aline Reis

    ***