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    10/10/2016

    Opinião | Estônia elege sua primeira presidente mulher

    Kersti Kaljulaid toma posse da presidência segunda-feira, dia 10 de outubro 

    Kersti Kaljulaid assume a função de Presidente da Estônia nesta segunda-feira, dia
    10 de outubro - Divulgação

    Segunda-feira, dia 10 de outubro, Kersti Kaljulaid torna-se a primeira mulher a ocupar o cargo de presidente da Estônia, pequeno país do leste europeu que, juntamente com Letônia e Lituânia, é um dos três estados bálticos. Com apenas quarenta e seis anos de idade, Kaljulaid é também a pessoa mais jovem a ocupar o cargo em seu país. Há muitos anos demonstrando um forte engajamento em causas políticas e sociais, Kersti Kaljulaid, à frente de causas como imigração e caridade, está longe de ser uma estranha para seus correligionários estonianos. Não obstante, sua carreira política ainda é considerada recente, e como tal, têm um terreno promissor a ser conquistado, cujo respeito dependerá muito de sua capacidade de obter, ou não, resultados sólidos para diversos fatores concernentes à política doméstica. Este foi o principal argumento a ser apontado pelo Partido Conservador, ao justificar sua objeção pela sua candidatura. 
    Kaljulaid é a primeira mulher, e o quinto indivíduo, a exercer o cargo no país - Divulgação

    Tendo nascido a 30 de dezembro de 1969 em Tartu, a segunda maior cidade da Estônia, hoje com uma população inferior a 95.000 habitantes, Kaljulaid graduou-se em 1992 em biologia, e em 2001, obteve uma certificação em gestão de negócios. Trabalhando em companhias estatais sem demonstrar quaisquer vínculos ou ligações com agremiações políticas, a partir de 1999 Kaljulaid começou a oferecer serviços de consultoria financeira para o então Primeiro Ministro da Estônia, Mart Laar. Uma carreira política propriamente dita começaria apenas em 2004, quando a Estônia tornou-se membro da União Europeia. Por conseguinte, Kaljulaid foi nomeada a representante estoniana na Corte Europeia de Auditorias. 

    Se por um lado a carreira política de Kaljulaid pode ser considerada sem dúvida nenhuma como sendo muito recente, ainda carente de conquistas monumentais e de resultados plausíveis, ela pode representar, por outro lado, um vigoroso sopro de renovação e audácia na política doméstica. Com disposição, energia e determinação, ela tem demonstrado uma enorme vontade e um grande entusiasmo em atender às necessidades e às reivindicações da população, bem como às expectativas políticas do parlamento. Respondendo ao fato de que ainda é uma pessoa relativamente nova no atual cenário político, não tão conhecida quanto seus contemporâneos, Kaljulaid comprometeu-se em visitar todas as regiões do país, e conversar diretamente com as pessoas, fazendo-se próxima do cidadão estoniano. Definindo-se a si própria como uma conservadora liberal, Kaljulaid esteve vinculada ao partido União Pro Patria de 2001 a 2004, quando desligou-se do partido, e tornou-se então uma figura política de atuação independente, sem afiliação partidária. Com uma agenda própria, repleta de objetivos, ela defende arduamente os direitos e as liberdades da sociedade civil, com a menor interferência possível do estado, e têm publicado artigos em veículos midiáticos estonianos, como uma maneira de deixar visível para a população suas posições políticas, seus objetivos, metas, intenções, valores, reivindicações e ideologias.

    Não obstante, até mesmo a política de coalizão de pequenos países europeus carece de estatutos um pouco mais fortes e decididamente mais democráticos e esclarecidos, com suas variantes regionais que se abstêm de avaliações gerais de maior ou menor resolução. A eleição de Kersti Kaljulaid, no final das contas, parece ter sido uma espécie de recurso político parlamentar, que teria recorrido a ela após esgotar suas opções. Tendo ganhado o posto presidencial no Riigikogu, o parlamento estoniano, por 81 votos contra 17 abstenções – na Estônia o presidente não é eleito por voto direto –, Kaljulaid teria sido o resultado final de três seções eleitorais arruinadas pela falta de consenso: nenhum dos candidatos oficiais à presidência teria recebido o número necessário de votos dos membros do parlamento para ser oficialmente eleito como presidente da Estônia. Entre os candidatos, haviam outras mulheres, com notoriedade e atuação política superior a Kersti Kaljulaid, como Marina Kaljurand, que serviu como embaixadora da Estônia em diversos países, e Mailis Reps, que exerceu o cargo de Ministra dos setores de Educação e Pesquisa, de 2002 a 2003, e de 2005 a 2007. 

    A despeito da maneira como foi eleita, isso não tira os méritos de Kaljulaid. E como o seu mandato está começando agora, evidentemente todas e quaisquer críticas serão, no mínimo, equivocadas e insensatas. E a qualquer eventual fracasso, que seja igualmente criticado o parlamento, responsável direto pela sua aprovação em governar o país. Não obstante, seu entusiasmo, energia, engajamento e vontade em estabelecer o progresso, além de facilitar a vida dos cidadãos em diversos aspectos, até o momento, têm falado por si só. O atual presidente da Estônia, Toomas Hendrik Ilves, que têm governado o país desde 2006, por estar em seu segundo mandato, não pode concorrer a um terceiro termo, o que seria inconstitucional. 
    Toomas Hendrik Ilves exerceu o cargo por dois mandatos, de 2006 a 2016 - Divulgação

    A Estônia, pequeno estado báltico localizado no noroeste da Europa, com sua diminuta população de aproximadamente um milhão e trezentos mil habitantes, é mais um daqueles países que usufrui de pouca visibilidade global. Não obstante, sua capacidade de fazer a diferença a nível regional têm se mostrado relevante, e seu nível de prosperidade social, econômica e política, apesar de momentos históricos inflamados e turbulentos, fazem da Estônia uma economia de mercado em ascensão, com um formidável nível de progresso que a coloca entre os expoentes da União Europeia. O país também conta com um dos maiores índices de desenvolvimento humano já registrados. 

    Com um sistema governamental muito bem organizado, primariamente centralizado no Parlamento, a constituição da Estônia garante à população o controle do estado. O presidente têm poderes limitados, estando livre, no entanto, para nomear o Primeiro Ministro. Este, por sua vez, só poderá exercer a designação se for aprovado pelo Parlamento.

    Abrindo um novo capítulo em sua história, a Estônia terá agora como líder da nação uma mulher, o que pode representar uma renovação interessante, não apenas no âmbito da política doméstica, mas internacional. Se for suficientemente sábia, audaz, flexível e ponderada, Kersti Kaljulaid será capaz de fazer muito em benefício dos estonianos, contanto que, evidentemente, suas reformas recebam o merecido apoio e o devido suporte. Com ideias neoliberais, progressistas e inovadoras, liderar um país que encontra-se em pleno crescimento pode não apenas fazer toda a diferença em nível social, educacional, político e econômico, mas certamente consolidará de forma ainda mais pragmática, abrangente e indivisível a formatação de um modelo salutar de desenvolvimento, expansão e progresso. Aos entusiastas da boa luta, do engajamento humanitário e social, e da política de crescimento vertical, só resta desejar boa sorte à Kersti Kaljulaid, e à Estônia, neste novo capítulo de sua história.