CAMPO GRANDE (MS),

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    04/09/2016

    ELEIÇÕES 2016| Quem são os marqueteiros dos candidatos quebrados que querem virar prefeito?

    Em 4 segundos, interpretação de candidato rendeu risadas. (Foto: Divulgação)

    Enquanto alguns candidatos se esbaldam em campanhas elaboradas por uma equipe atenta aos mínimos detalhes, tem gente que precisa se virar com pouco ou quase nada no bolso. Mesmo assim faz o possível usando a criatividade que muitas vezes fazem mais o eleitor rir do que votar.

    No ranking de 15 candidatos em busca de assumir a Prefeitura de Campo Grande, Adalton Garcia de Freitas, de 48 anos, do PTRB, está entre os "quebrados" nesta campanha, mas também é o que vem chamando atenção pelo uso do tempo que lhe restou na TV. "Fizemos em casa mesmo, em uma canto que a gente chama de cafofo. Colocaram um pano na parede e gravamos”, diz.

    Em apenas cinco segundos, o candidato corre contra o relógio usando o bom humor. No vídeo, falando rápido, o candidato é direto. “Olá amigos, meu nome é Adalton, sou candidato a prefeito em Campo Grande. Não tenho mais tempo, tenho que ir pedir voto". E se despede dando os cumprimentos com o chapéu que virou estratégia de marketing, já que muita gente o reconhece pelo acessório. "Eu ganhei ele em uma aposta com o meu irmão durante uma pescaria. E a promessa é usar até acabar", justifica.

    A gravação amadora foi feita em casa e com R$ 1 mil sacado da própria conta, o jeito é fazer milagre com o dinheiro que tem e por isso é o marqueteiro na rua, quando sai em busca de eleitores. 

    Fora da TV, ele usa das artimanhas da política da boa vizinhança, conversando, visitando amigos e comparecendo a locais públicos. "Cinco segundos na televisão fica inviável fazer uma campanha com esse tempo, a gente tem que usar das engenharias do marketing para fazer o efeito e por incrível que pareça deu certo. Passei pelo mercadão e teve gente que me reconheceu, pede autógrafo e para tirar foto", comemora.

    Trocou santinhos pelo cartão de visitas e prefere as reuniões, sempre optando pelo figurino social que segundo ele, também foi fruto de doação. "Me deram um terno novo e disseram que o meu não estava muito bom. Aí abri mão dos santinhos que só serve pra criança jogar bafo e resolvi fazer seis mil cartões de visita para distribuir a quem busca saber das propostas", comenta.
    Rosana concorre a prefeita pela primeira vez. (Foto: reprodução Facebook)

    José Flávio Arce de Oliveira, de 34 anos, candidato do PCO é o com menor valor declarado de bens entre todos. Com apenas R$ 10 mil em patrimônio e até hoje nada de recursos para financiar a campanha, o marketing, segundo ele, tem sentido a caminhada. 

    "Tive 4 segundos na TV, achei pouco e por isso nossa campanha é pé no chão. Para falar aos eleitores começo pelos vizinhos, parentes e amigos. Hoje temos o WhatsApp como ferramenta que contribui para marcar reuniões e também o Facebook. Realmente não tem como concorrer, mas o jeito é usar da simplicidade", afirma.

    Apesar da experiência de 10 anos na luta pelos direitos humanos e políticas sociais, a universitária Rosana Santos do PSOL, é iniciante no quesito candidatura. É a primeira vez que ela entra na disputa para ser protagonista na administração municipal.

    Com R$ 46 mil em bens e uma conta zerada para campanha, ela não se assusta com a falta de verba. Mesmo assim, admite a dificuldade pela primeira vez na televisão, já que ao contrário dos demais, tem um tempão: 30 segundos de visibilidade.

    "Olha, sou terapeuta ocupacional e sou mega tímida. Sou desinibida pessoalmente, mas eu vi que 30 segundos é muita coisa para quem foi à frente das câmeras pela primeira vez. Foi uma surpresa", conta. 

    E não muito diferente conta com com apoio da militância e do coletivo fazer o próprio marketing. "Dentro de um processo nunca fui educada para isso (aparecer na TV), realmente faço essa ligação com o povo. Vamos até as pessoas para explicar o nosso trabalho, sempre usando a camiseta do partido. Pra gente sempre vai ser mais difícil, por isso contamos com os amigos e aqueles que querem saber das nossas propostas. O comício é doméstico e o marketeiro é o povo, através deles que também se consegue chegar a outras pessoas”, explica.
    Suél ainda não conseguiu gravar a propaganda. (Foto: Alcides Neto)

    Veterano na disputa eleitoral, aos 58 anos, o servidor público Suél Ferranti, do PSTU, disputa a quarta candidatura. Sem dinheiro para financiar a campanha, de forma colaborativa ele também corre a cidade.

    Com 4 segundos na propaganda eleitoral, por enquanto nenhuma gravação do candidato foi exibida. "O fundo partidário é tão pequeno e nós estamos saindo sozinhos. Garantimos o material por escrito, mas ainda não conseguimos produzir e gravar", justifica. 

    Trabalhador, Suél afirma que não vai abrir da bicicleta que é um dos poucos bens que poderiam ser vendidos. "As pessoas até perguntam porque eu não vendo minha bicicleta, mas eu não vou vender para investir em um processo desigual, porque como vou me apresentar em 4 segundos?", questiona. 

    Acompanhado pela militância, Suél disse que se preocupa em manter a aparência simples, mas que não pareça forçado. “Meu marketing é a camiseta identificando o partido. Porque esse é o cotidiano da classe trabalhadora e eu não vou chegar de terno em reunião. Eu vejo candidato que nunca usou terno na vida e durante a campanha está usando”, crítica.

    Em busca de votos, aos fins de semana é que a campanha tem mais efeito. "Nossas reuniões geralmente são só aos finais de semana, porque a classe estuda e trabalha. Não importa o número, vamos e conversamos com as pessoas. Muito mais fácil conversar com 4 pessoas do que fazer um empréstimo para comício e me endividar", declara.