CAMPO GRANDE (MS),

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    15/01/2020

    Janeiro Branco: uma aposta em saúde mental e vital


    Separar um mês especialmente para falar sobre as questões relacionadas à saúde mental é um grande avanço social e cultural, visto que o modo como, na contemporaneidade, os efeitos de sujeito são negados e/ou escamoteados, muitas vezes, aponta para uma supervalorização do que é da ordem do material, do corpo físico, do consumo, da cognição e não do afeto, da emoção, do psiquismo.

    Após ler um texto da psicanalista Marie-Hélene Brousse (O inconsciente é a política, 2003) e destacar duas frases que mais me chamam atenção na campanha, surgiram algumas questões. Primeiramente, se quando falamos de saúde mental conseguimos dizer algo para além das funções cognitivas como atenção, memória, senso etc.? As neurociências já estão aí para explicá-las. Mas, até onde? Em seguida, como podemos articular aquilo que escapa ao controle da ciência dura, a angústia, o inconsciente, os sintomas, de maneira geral, dentro da psicanálise (e das outras áreas psis), para pensar a saúde mental como um saber, uma prática e um efeito?

    Por isso, a proposta de saúde vital, uma tratativa, uma escuta direcionada para os discursos tecidos no infantil até a vida atual do sujeito. Desse modo, a saúde é um conceito particular, construído nas trocas com o meio, mas que atravessa cada um de um jeito singular. Cada um faz a sua arte para lidar com as suas angústias, com os seus sintomas.

    Ao oferecermos um espaço de escuta e acolhimento qualificado, percebemos os tipos de efeitos que um novo discurso causa no indivíduo. Nas políticas de saúde fala-se muito em práticas de liberdade, o que podemos entender, nesse contexto, como uma saúde desenhada à medida da própria existência, das próprias condições. Saúde para mim pode não significar saúde para você, nesse país, nessa comunidade, pelo meu viés cultural e histórico. 

    E o que isso tem que ver com a saúde mental, com a psicanálise, psicologia, com a política [...]?

    Apostando, acredito que não é possível calar aquilo que é inerente ao ser, a sua angústia e o seu sofrimento. Assim como não é possível tamponar a falta constituinte, do um e do coletivo, através de um sistema econômico ou de um modo de produção de coisas (e de gente) superficial, uma tentativa falsamente bem sucedida de adaptar as pessoas a um mecanismo doente.

    Acho que, agora, faz sentido a frase de Freud "A voz do inconsciente é sutil, mas ela não descansa até ser ouvida." Essa voz ganhou um mês, uma cara. É tempo de escutá-la. "O mal estar" demanda condução.

    E essa voz aparace nos índices de violência, de expectativa de vida, de acesso a bens e serviços, de necessidades básicas atendidas ou negadas. A saúde está para além dos muros hospitalares, das clínicas e das unidades de atenção. O sujeito é circulante e onde ele estiver é imprescindível pensar sua saúde.

    Assim, ser saudável não é só estar com exames "OK", com os remédios em dias, sem dor ou prejuízo físico. Passou da hora de extrapolarmos o reducionismo do que é ser gente e parar de tratar o psiquismo e as "coisas de humanos" como "frescura", "falta do que fazer" ou "só vou se não tiver mais jeito".

    Espero que essa campanha faça ondas e impacte em mudanças para se pensar no potencial da vida e do ser que fala, em qualquer lugar!

    Os profissionais de saúde mental: psicólogos, psicanalistas, psiquiatras, assistentes sociais, dentre outros capacitados para tal serviço.

    Frases da campanha:

    "Uma campanha dedicada a mostrar às pessoas – e à sociedade – que os seres humanos são seres de conteúdos psicológicos e subjetivos, que suas vidas, necessariamente, são estruturadas em torno de questões mentais, sentimentais, emocionais, relacionais e comportamentais, sendo, portanto, imperioso e necessário, que a subjetividade humana possua lugar de destaque em nossa cultura e em nossos cotidianos, sob pena de sermos vítimas de nós mesmos e de quem despreza as próprias necessidades psicológicas e as necessidades psicológicas alheias."

    "Uma campanha dedicada a colocar os temas da Saúde Mental em máxima evidência no mundo em nome da prevenção ao adoecimento emocional da humanidade."

    Outras informações no site janeirobranco.com.br


    Por: Kamila de Souza - É psicologa especialista em Saúde Mental, psicanalista em formação. 



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