CAMPO GRANDE (MS),

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    05/09/2017

    TRÊS LAGOAS| Após visita técnica, doutor em Ecologia da UFMS afirma que retirar as capivaras da Lagoa Maior não é a solução

    O mais indicado é fazer o controle da população por meio de vasectomia dos machos dominantes

    © Divulgação
    Após dois dias de observação, o pesquisador e doutor em ecologia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) de Campo Grande, Gustavo Rodrigues, que veio a Três Lagoas a pedido da Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Agronegócio (SEMEA), deu alguns pareceres importantes no que se trata do manejo das capivaras que habitam a Lagoa Maior, como: não retirar parte dos animais e, ainda, utilizar-se de vasectomia para esterilizar os machos dominantes.

    Segundo Celso Yamaguti, secretário da pasta, o estudioso vem pesquisando e monitorando há dois anos as capivaras que vivem na área urbana da capital sul-mato-grossense. “Por conta disso, podemos dar crédito e confiança ao parecer dele, afinal tem conhecimento técnico e de campo no que se trata do manejo de capivaras. Essa ação, na realidade, nada mais é do que uma orientação profissional para as nossas ações até que o Plano de Manejo das Lagoas se torne realidade”, explica.

    O QUE FOI IDENTIFICADO

    Conforme o doutor em ecologia, foi definido quatro frentes, sendo que a primeira se trata de entender melhor a situação real dos animais, tomando por base a contagem realizada pela própria Prefeitura que estima cerca de 150 a 160 capivaras entre adultos e filhotes. “Realizamos uma nova contagem e chegamos a número muito parecido, além ainda de, por alto, termos conseguido distinguir a existência de até cinco grupos”, explica.
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    Visto isso, Gustavo alega que se a lagoa tem essa quantidade de animais é porque o ambiente comporta esse número, ou seja, há uma harmonia entre o que a natureza provê e o que os animais consomem. “Se o gramado melhorar, a quantidade aumenta, do contrário, diminui, porém creio que fique nesse número”, ressalta.

    A segunda frente sugerida é criar métodos de controlar a natalidade desses grupos, e o mais indicado é realizar a vasectomia dos machos dominantes e, com isso, diminuir a população em longo prazo. “A vasectomia não impede os animais de copularem, pois isso é apenas uma técnica que impede a chegada do espermatozoide, não retirando o libido e o instinto de reprodução das capivaras, afinal nem o macho, nem as fêmeas perceberão essa esterilização”, explica.

    Já a terceira frente foca em evitar atropelamentos. “Isso já era uma ação prevista pela Administração, afinal estamos providenciando placas que alertam a presença desses animais e do risco eminente de atropelamento, além, ainda, de a Secretaria de Infraestrutura, Transporte e Trânsito [SEINTRA] ter instalado diversas lombadas na Avenida Aldair Rosa de Oliveira a fim de controlar a velocidade que os carros trafegam pela via”, explica Celso.
    © Divulgação
    Além disso, Gustavo indica que seja feita uma identificação mais precisa dos pontos de maior risco de atropelamento e criar mecanismos de alerta e conscientização sobre qual o risco para a integridade das pessoas e dos animais que aquela área representa. 

    A quarta e última frente seria a educação ambiental, mostrando a necessidade de preservar e as ações que estão sendo feitas. “É importante divulgar isso maciçamente, pois a partir do momento em que a população tem real ciência do que está ocorrendo, ela passa a tomar providência no sentido de preservar”, enfatiza Gustavo.

    RETIRAR OS ANIMAIS É UMA SOLUÇÃO?

    A resposta para esse questionamento, conforme o doutor em Ecologia é: não! “Pois, temos experiências em outros locais do país que não deram certo. Isso porque quando se retira uma quantidade grande de animais, além do custo financeiro, há a problemática de encontrar outro local para que essas sejam levadas”, explica.

    Mais do que isso, o problema maior se trata do fato de quando há a retirada maciça de animais, o ambiente continua produzindo alimento para a quantidade a qual ele se adaptou, ou seja, aumenta as áreas de pastagem. “Por exemplo, se retirarmos 1/3 das capivaras, o ambiente continua entendendo que há 150 e não 100 animais. Com isso, há a possibilidade de um desenvolvimento melhor e mais rápido. As fêmeas, por exemplo, reconhecendo isso, acabam por entender que se há mais alimento, há melhores condições de se reproduzirem”, diz.

    Sendo assim, a estimativa é que dentro de um ou dois anos essa população se recupere e, até mesmo, possa se tornar ainda maior. Outro ponto é que a retirada deixaria espaços vagos, o que pode atrair novos bandos locais para reocupar. “Há ainda a quebra do link entre parasitas e hospedeiros, como ocorreu em algumas cidades de São Paulo e Minas Gerais, onde após a retirada desses animais ocorreu o aumento do número de carrapatos na população, pois deixaram de acometer as capivaras e passaram a atacar os humanos”, finaliza.

    “Munidos dessas informações, vamos traçar planos, com devida autorização do IMASUL, para que possa ser feito o melhor manejo possível desses animais, pois é uma preocupação direta do prefeito Angelo Guerreiro e da SEMEA. Graças ao conhecimento do Gustavo, foi possível visualizar o que para nós estava obscuro, agradecemos imensamente a disposição dele em vir até aqui para nos passar essas orientações”, comenta Celso Yamaguti.

    CUSTOS DA VISITA

    A vinda do pesquisador e mais uma técnica quase não teve custo, sendo que os mesmos não cobraram nenhuma diária para fazer essa visita e a Prefeitura pagará apenas dois pernoites, transporte e a refeição deles durante a estadia.

    Fonte: ASSECOM


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