Para o juiz federal, Lula e os advogados 'pretendem transformar um ato normal do processo, o interrogatório, oportunidade que o acusado tem para se defender, em um evento político-partidário'.
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Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve depor ao juiz Sérgio Moro na quarta-feira (10), em Curitiba © Marcelo Camargo/Agência Brasil |
Os advogados de Lula pediram alterações na forma como será feita a gravação do depoimento, alegando que a prática vigente não permite um registro fidedigno de todo o ato processual e expõe uma imagem negativa do réu. A defesa também havia pedido para fazer um vídeo próprio como uma prerrogativa funcional do advogado.
O G1 tenta contato com a defesa do ex-presidente.
“Será mantida a forma de gravação atual dos depoimentos, focada a câmara no depoente, pois é o depoimento a prova a ser analisada, e fica vedada a gravação em áudio e vídeo autônoma pretendida pela Defesa de Luiz Inácio Lula da Silva”, disse o juiz.
No despacho, o juiz federal afirmou que “não há qualquer intenção de prejudicar o acusado ou sugerir a sua culpa com esse foco, tanto assim que o depoimento das testemunhas, que não sofrem qualquer acusação, é registrado da mesma forma. ”
Sérgio Moro ainda relatou que este procedimento – de gravar os depoimentos com o foco no depoente – é adotado por toda a Justiça Federal da 4ª Região.
“Não assiste razão à Defesa de Luiz Inácio Lula da Silva em afirmar que a forma de gravação dos depoimentos em audiência resulte em prejuízo aos acusados”, disse o juiz na decisão.
Para o juiz federal, Lula e os advogados “pretendem transformar um ato normal do processo, o interrogatório, oportunidade que o acusado tem para se defender, em um evento político-partidário, tendo, por exemplo, convocado militantes partidários para manifestações de apoio ao ex-presidente na referida data e nessa cidade [Curitiba], como se algo além do interrogatório fosse acontecer”, pontuou Sérgio Moro.
"Há um risco de que o acusado e sua defesa pretendam igualmente gravar a audiência, áudio e vídeo, não com a finalidade privada ou com propósitos compatíveis com os admitidos pelo processo, por exemplo permitir o fidedigno do ocorrido para finalidades processuais, mas sim com propósitos políticos-partidários, absolutamente estranhos à finalidade do processo”, acrescentou o juiz.
Pedido de filmagem
Os advogados do ex-presidente pediram ao juiz Sérgio Moro, na quarta-feira (3), mudanças na forma como são feitos os vídeos das audiências. Eles queriam que a câmera registrasse quem está falando e não ficasse parada no interrogado.
Eles ainda comunicaram que desejavam fazer uma gravação própria, com som e imagem.
Na quinta-feira (4), Moro pediu que os advogados dessem mais detalhes sobre o que pretendiam fazer, para que se evitem "perturbações desnecessárias". Os advogados informaram o equipamento que seria usado e que o profissional Ricardo Stuckert faria as imagens. Stuckerto foi o fotógrafo oficial de Lula nos dois mandatos do ex-presidente.
O juiz também abriu espaço para manifestações das defesas dos outros réus no processo e do Ministério Público Federal (MPF).
O MPF se posicionou contrário à gravação. O mesmo foi feito pela defesa de José Adelmário Pinheiro Filho.
Presença da OAB-PR
A seccional paranaense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR) enviou ao juiz Sérgio Moro um pedido para que o procurador-geral da entidade possa participar da audiência. O requerimento foi feito a partir de um pedido do advogado Cristiano Zanin Martins, que representa Lula. Ele recorreu à entidade, para que ela enviasse um representante à audiência.
Ao decidir sobre a gravação, Moro autorizou a presença de um representante da OAB. “Muito embora inexista qualquer razão concreta para que a OAB/PR esteja presente, resolvo deferir o requerido, sem maiores considerações”.
Moro pede para apoiadores da Lava Jato não irem a Curitiba
No sábado (6), Moro pediu para que as pessoas que apoiam a Operação Lava Jato não vão a Curitiba no dia do interrogatório do ex-presidente. O pedido foi feito em um vídeo divulgado nas redes sociais. Assista.
"Eu tenho ouvido que muita gente que apoia a Operação Lava Jato pretende vir a Curitiba manifestar esse apoio, ou pessoas mesmo de Curitiba pretendem vir aqui manifestar esse apoio. Eu diria o seguinte: esse apoio sempre foi importante, mas nessa data ele não é necessário. Tudo que se quer evitar nessa data é alguma espécie de confusão e conflito e, acima de tudo, não quero que ninguém se machuque", afirmou o juiz que é responsável pelas ações da Lava Jato na primeira instância.
Por Adriana Justi, Bibiana Dionísio e Thais Kaniak, G1 PR, Curitiba