“Nem todos os integrantes das comitivas que vinham do Rio Grande do Sul, via Argentina e Paraguai, se dirigiam, logo de chegada, para os campos mato-grossenses, visando à fundação de fazendas. Muitos, pelos mais variados motivos, preferiam acampar no vilarejo de (Punta Porã) Ponta Porã” Elpídio Reis.
Causo é a maneira simples de um povo contar uma estória, algo que era feito pelos mais velhos, os anciões em outras épocas, as novas gerações. O respeito aos mais velhos era prioridade nesses tempos, todos se conheciam e se respeitavam.
Para sempre manter vivos nas lembranças fatos acontecidos nessa região o causo era assunto entre amigos, cheio de detalhes, onde a crença e a religiosidade se põe a prova, principalmente de respeito, mesmo a assuntos ocultos, causo era contado para matar saudades de outros tempos, lembrando-se daqueles que por aqui passaram e para manter viva sua história, vira mais um causo da região.
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“O primeiro Acordeon (popularmente chamado de sanfona) que chegou ao Brasil chamava-se concertina (Acordeon cromático de botão com 120 baixos)”. |
“O Acordeon tornou-se popular principalmente no nordeste, centro-oeste e sul do Brasil. Os primeiros gêneros (fado, valsa, polca, bugiu, caijun) retratavam o folclore dos imigrantes portugueses, alemães, italianos, franceses e espanhóis”. Fonte e imagem: http://www.mundomax.com.br/blog/tag/sanfoneiros-brasileiros/
Este é um causo cheio de mistério que se tornou uma lenda, algo de arrepiar, só de imaginar, passar por está situação, conta um fato sobre a cabeceira 25 que antes era conhecida como Jaha Jova’y, (guarani, significa Vamos Juntos), essa cabeceira já não existe nos dias de hoje, sua lenda, já esta esquecida, mas através de pesquisas será rememorada, graças aqueles que cresceram escutando esse causo antigo da região de fronteira.
Século XIX época difícil para região de fronteira a pouco a guerra acabara, esse período era de reconstrução, Ponta Porã (Porã em guarani quer dizer bonita), não levava nome por acaso, aqui nestes tempos um lugar de parada de comitivas e tropeiros, mas também existiam muitos quatreros (bandidos, assaltantes) que vinham para essa região pela fartura de seus pequenos riachos, córregos, muitos deles deixaram de existir com o passar dos anos, a cabeceira jaha jova’y segundo informação e relatos de quem escutou esse causo, de quem viveu nesses tempos, se localizava próximo à carvoaria de Sanja Pytã (em Guarany significa córrego vermelho) neste local era um ponto de parada, pois poderiam dar de beber aos cavalos se abastecer de água, descansar e seguir viagem.
Certa vez conta a lenda, que dois jovens se apaixonaram, o rapaz de boa presença e um bom gaiteiro a moça prendada e tinha como instrumento uma rabeca uma espécie de violino um pouco mais rustico, os dois se conheceram em reuniões entre as famílias da região enquanto um tocava sua gaita o outro acompanhava com a rabeca, mas quis o destino separar os dois, a família da moça seguiria rumo à região de Capitan Bado, o rapaz por sua vez seguiria rumo a capital Assunção, antes de seguirem viajem os dois prometeram se reencontrar na capital.
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Arquivo pessoal de Nilza Terezinha: Foto década de 40, região do maemi. |
Os jovens tocaram sua ultima musica juntos no encontro das famílias na cabeceira Jova’y, pois deste ponto cada um seguiria sua viajem, a família do jovem rapaz seguiu viajem primeiro rumo a capital Assunção, a família da moça seguira sua viajem ao amanhecer, pois esperavam mais membros da família, segue o fato, que quando os outros familiares chegaram para se juntar ao restante da família, não perceberam que foram seguidos por quatreros, e esses surpreenderam a todos, o restante da lenda segue que todos foram mortos impiedosamente por tais bandidos.
Sem saber o jovem rapaz esperou sua amada por longo tempo, triste e abandonado por seu amor, sem saber o que havia ocorrido, seguiu viajem para outro continente, para tentar curar sua dor.
Os anos se passaram o rapaz envelheceu e na sua velhice resolveu voltar a esta região fronteiriça, que tanta saudade tinha dentro do seu coração, ele que por anos não esquecia sua amada, nunca se casou.
Chegando à fronteira, perguntando da família nenhuma noticia tinha a respeito os anos tinham apagado da memória dos moradores da região, mas como ele conhecia seguiu rumo à cabeceira jova’y, que mudara de nome, chamava de cabeceira 25, isso o intrigava, por que tinham mudado o nome da cabeceira, mas convicto em seguir viajem em direção a Capitan Bado, para tentar reaver sua amada ou ao menos noticias da família, foi em direção da Cabeceira, ao chegar, atrelou seu cavalo tirou de dentro de uma bolsa uma bela gaita empoeirada, mas com um som que se misturava ao som do vento, um tropeiro que passava por perto, chegou ao seu lado questionando velho gaiteiro sobre sua presença naquele local, mencionando que aquele lugar não é bom para fazer parada, descanso, pois coisas estranhas acontecem nesta região, o velho gaiteiro sem entender, queria saber sobre estes fatos.
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Foto década de 40 familiares em pose para foto na região do Maemi em outra época sociocultural. Arquivo pessoal de Nilza Terezinha - Foto Cabo Ítrio |
“Aos bravos pioneiros que desbravaram florestas e campos das terras que construíram o outrora extenso Município de Ponta Porã, aos que ali lutaram como autênticos heróis dos sertões contra todas as dificuldades e infortúnios, aos que não estudaram e aos que morreram de doenças comuns, porque nas lonjuras onde moravam não havia escolas nem médicos, aos que cruzaram campinas e matas abrindo trilhas que depois se transformaram em estradas para o progresso, aos que trabalharam muitas vezes em condições desumanas em ranchadas ervaterias, em fazendas sem conforto, para o enriquecimento da região e do Brasil”. Reis. Elpidio – Ponta Porã polca Churrasco e Chimarrão, p. 13.
O tropeiro sem titubear disse contou tudo que ele sabia ou ouviu falar, que neste local existem espíritos que não descansam muito choro, gritos, e um som triste de violino (rabeca), o senhor não sabe aqui houve há muito tempo uma tragédia, uma família foi massacrada e dizem que uma linda jovem que tocava o violino (rabeca) assombra essa cabeceira.
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Foto década de 40. Família em pose para foto na região do Maemi, casamento na fazenda eram muito comum em outra época sociocultural - Arquivo pessoal de Nilza Terezinha, Foto: Cabo Itrio |
Segundo a lenda o velho gaiteiro ficou mudo e começou a chorar, por saber que sua amada não tinha abandonado como ele imaginava, ela estava morta há muito tempo. Foi quando começou escutar um som de violino (rabeca) que ecoava pela cabeceira, o tropeiro chamou o velho gaiteiro, vamos embora, pois os espíritos já estão por aqui, mas o velho gaiteiro seguiu em direção à cabeceira tocando sua gaita acompanhando o som do violino, até seu último suspiro tombando ao chão, quando tudo parou.
Com a morte súbita do velho gaiteiro, se é verdade ou lenda, quem conhece esse causo ou escutou dizer, que se passar nessa região e acreditar, você consegue escutar o som do violino (rabeca) e da gaita ecoando na cabeceira. Acreditar em um causo, lenda e manter viva a cultura de uma região.
Por: Yhulds Giovani Pereira Bueno - Professor de qualificação profissional, gestão e logística (Programas Estaduais e Federais). Professor coordenador da Rede Municipal de Educação. Faculdades Anhanguera Polo Ponta Porã – MS.