CAMPO GRANDE (MS),

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    05/06/2015

    O Tadjiquistão e a herança do regime comunista

    Ilustração

    Tendo sido uma das muitas repúblicas constituintes da União Soviética, o Tadjiquistão tornou-se uma nação livre e independente em 25 de  dezembro de 1991, pouco tempo depois do colapso oficial, e eventual fragmentação, do bloco socialista. 

    Caindo em uma caótica desordem, e em  uma virulenta guerra civil logo depois, a nação foi capaz de consolidar, aos poucos, uma frágil, débil e hipotética estabilidade, alicerçada em um governo  de fachada, que herdou muitas de suas diretrizes políticas das normas totalitárias da antiga URSS. 

    Considerada a mais pobre república soviética, e continuando  a ser o país mais pobre da Ásia Central atualmente, ainda que mantenha uma fachada de democracia, o faz apenas para, evidentemente, mitigar quaisquer acusações  de nações do ocidente, em função de que, na prática, o Tadjiquistão é um país governado por um regime totalitário, que tem como líder supremo o presidente Emomalii Rahmon, que se perpetua no poder continuamente, desde 1994, ainda que "eleições" ocorram, periodicamente, para supostamente eleger, pelo voto popular, os governantes  da nação. 

    Encontrando-se em uma situação muito similar a tantas outras antigas repúblicas soviéticas, como a Bielorrússia, por exemplo - cujo presidente, Alexander Lukashenko, se mantém no poder, também, desde 1994, ainda que a Bielorrússia também promova, periodicamente, eleições" livres", por todo o país - analistas da presente situação do Tadjiquistão  compreendem que a política totalitária da nação é, muito mais do que um ostensivo e profundamente arraigado sintoma regional, uma grave e hedionda herança de seu passado  soviético. 

    Ainda que a constituição garanta liberdade de imprensa, e o governo afirme ser laico, na prática, nada disso existe. O governo regula até mesmo o conteúdo disponível  na internet, e em muitos outros veículos de comunicação, como televisão e jornais, autorizados a exibir apenas material sancionado pelo governo. 

    Em questões religiosas, o  islamismo, evidentemente, é predominante. Pouca - ou nenhuma - tolerância se oferece, a quem praticar qualquer outra religião, embora existam diferenças regionais. 

    Não  obstante, a perseguição contra cristãos tem se tornando uma epidemia cada vez mais preocupante, ocorrendo em diversos níveis sociais, tanto local, quanto governamental, e até mesmo familiar, o que tem alarmado diversas organizações relacionadas aos direitos humanos. 

    Por suas políticas centralizadoras e autocratas, nenhuma crítica contra o governo é tolerada, e sublevações políticas contrárias ao regime são rapidamente suprimidas, o que torna o Tadjiquistão, de todas as maneiras possíveis, comparável ao vizinho Uzbequistão, também uma antiga república constituinte da União Soviética, e hoje considerado um dos países mais opressivos do mundo. 

    Não obstante, com  diversas peculiaridades intrigantes a seu favor, o Tadjiquistão é um país essencialmente montanhoso, tendo 90% do seu território coberto por montanhas, algumas  delas estando entre as maiores do mundo, o que torna o país um destino muito popular entre alpinistas. 

     Apesar de ser um país pobre, o analfabetismo é quase  inexistente, o que talvez possa ser considerada uma das poucas - ou talvez a única - dentre as boas heranças do antigo sistema soviético. 

    Com uma economia extremamente dependente de fatores externos, e altamente suscetível a desequilíbrios financeiros, o Tadjiquistão hoje é um país que vive uma situação política, econômica e social muito dúbia, o que põe em risco seu potencial de crescimento. Se a atual situação dos tajiques vai melhorar ou não, ninguém  poderá confirmá-lo - o histórico problemático do país, em todas as suas esferas sociais, com a intermitente oscilação de sua situação política, torna-o  imprevisível demais para afirmar qualquer coisa, com certeza absoluta. Infelizmente, o prognóstico parece sempre ter uma maior inclinação para a catástrofe, do que para a solução. 

    A indolente ausência de um futuro promissor, no entanto, não parece assustar os tajiques, acostumados a  turbulências políticas, e sempre tão bem dispostos em buscar o sustento para além das fronteiras de seu país. 

    O fato incontestável do  Tadjiquistão de hoje é sua inconcebível predisposição em sustentar, de maneira ferrenha e inveterada, a homogênea posição de sua  herança comunista, que parece servir de alicerce para o seu regime totalitário, ao mesmo tempo que tenta - de uma forma pouco convincente, é verdade - parecer uma "democracia", para o mundo exterior. 

    Tudo isso sem jamais renegar o seu passado, mas,  tampouco, demonstrar qualquer consideração para com o seu próprio futuro.


    Por: Wagner Hertzog