CAMPO GRANDE (MS),

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    13/06/2015

    O Quirguistão – diminuta e invisível ex-república soviética

    Ilustração

    O Quirguistão – nação anteriormente conhecida como Quirguízia – é uma república parlamentar com uma população de aproximadamente seis milhões de habitantes, que tem por capital a cidade de Bishkek. Como todos os países vizinhos, foi uma nação constituinte da União Soviética, antes de sua dissolução, e, como tal, mantém, através do uso cotidiano do idioma russo – como língua franca –, um sólido legado das políticas de russificação a que esteve sujeita no passado, ainda que tenha o seu próprio idioma, o quirguiz, considerado o idioma pátrio, por boa parte dos seus habitantes. 

    Com um terço de sua população vivendo abaixo da linha de pobreza, o Quirguistão é o segundo país mais pobre da Ásia Central, e estudos desanimadores nos últimos anos, através de indicadores socioeconômicos recentes, mostram que a tendência da pobreza no Quirguistão é aumentar cada vez mais. 

    Enfrentando uma situação política, social e econômica cada vez mais calamitosa, o país é palco também de caóticos conflitos étnicos – impulsionados na verdade, por um notável contexto político – que parecem ocorrer em uma escala cada vez maior e mais progressiva, o que tem alarmado tanto a comunidade internacional, quanto as autoridades governamentais domésticas. 

    Em 2010, um conflito no sul do país entre quirguizes e uzbeques tomou lugar nas cidades de Jalal-Abad e Osh, conflito este impulsionado pela exigência de maior autonomia dos uzbeques em questões comunitárias e políticas, o que a grande maioria dos quirguizes tomou como uma ameaça ao caráter político e cultural da nação, especialmente quando os uzbeques passaram a exigir que seu idioma se tornasse oficialmente reconhecido. 

    Para a grande maioria dos quirguizes, os uzbeques que vivem em território quirguiz deveriam simplesmente debandar para o seu país de origem – o vizinho Uzbequistão – e deixa-los em paz, porém tal atrito complicou ainda mais as emergentes tensões entre os dois grupos étnicos, o que veio a estremecer ainda mais a relação – já por muito tempo conflituosa e difícil – entre os dois países, que possuem um histórico, tumultuado e problemático relacionamento, agravado por complicadas e aparentemente insolúveis questões de fronteira. 

    O ápice do conflito entre quirguizes e uzbeques culminou com a grande revolução quirguiz de 2010, que acabou com a renúncia e a fuga do presidente em exercício Kurmanbek Bakiyev – que, inicialmente, fugiu para o Kazaquistão, e depois buscou asilo político na Bielorrússia –, e viu a constituição de um novo sistema parlamentar no país. 

    Desde 2011, o presidente do Quirguistão tem sido Almazbek Atambayev, que, anteriormente havia sido Primeiro Ministro, e, desde que assumiu a presidência, buscou ampliar a política externa consolidando uma sólida parceria comercial com a Turquia, demonstrando também, uma sólida inclinação política pró-russa, apesar de, por outro lado, usar de um discurso que reivindica maior autonomia para o Quirguistão. 

    Como todas as ex-repúblicas soviéticas, a situação atual do Quirguistão tem sido muito atribulada, e seu futuro, embora consiga parecer promissor, em determinados aspectos, tem se demonstrado, na verdade, nebuloso, duvidoso, e particularmente difícil, em tantos outros. 

    Apesar de seu diminuto tamanho, o Quirguistão tem sido capaz de mostrar o seu valor, e o seu real potencial aos países vizinhos, mas a verdade é que suas perspectivas, no presente momento, são frágeis, inseguras e carentes de uma estrutura sólida, o que, infelizmente, revela um futuro pouco promissor para a nação. 

    Carregando um legado que parece incapaz de abster-se da traumática herança comunista, a verdade é que o Quirguistão tem ainda um longo caminho pela frente, para consolidar diante de si um futuro razoavelmente palpável, viável e seguro, para sua população, o que certamente se mostrará um grande desafio, para as autoridades governamentais, em Bishkek.



    Por: Wagner Hertzog

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