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A transexual Aline Freitas, 34, no shopping Center 3, na região central de São Paulo
Foto: Davi Ribeiro - 22.jul.14/ Folhapress
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Após quatro transexuais terem sido impedidas de usar o banheiro feminino no Center 3, na avenida Paulista, em janeiro, o shopping tornou livre, a partir deste mês, o uso dos dois sanitários.
A mudança, feita após acordo com a Secretaria de Estado da Justiça e Defesa da Cidadania, divide a opinião de frequentadores do local.
A vendedora Cristiane Purcino, 22, afirma que não se sentirá à vontade ao dividir um banheiro com um travesti. "Não que eu seja preconceituosa, não é isso, mas acho que homem é diferente de mulher e cada um tem o seu próprio banheiro", disse.
Já a bancária Cláudia Rea Pieroni, 41, diz não se sentir incomodada com a medida. "Não me sinto desconfortável com a presença de um transexual no banheiro", afirmou.
A mudança ocorreu após a administradora de sistemas Aline Freitas, 34, e outras três amigas transexuais relatarem que foram constrangidas por seguranças do centro de compras ao usar o banheiro feminino no começo do ano.
Segundo Aline, um segurança disse a uma de suas amigas que ela que teria de usar o "banheiro masculino porque era homem". O caso repercutiu nas redes sociais e um ato reuniu 60 pessoas na praça de alimentação do Center 3.
Procurada, a assessoria do shopping enviou uma nota sobre a mudança nos banheiros, dizendo que "a medida é coerente com a política do shopping sobre o respeito à diversidade e individualidade de todas as pessoas".
Para Aline, que espera que a iniciativa passe a valer em outros banheiros públicos, a mudança é uma vitória contra o preconceito.
"O Center 3 fica no coração da cidade. E o que acontece na Paulista é palco para o resto", afirmou.
Casos como o de Aline já ocorreram outras vezes. Em 2012, o cartunista Laerte Coutinho, que se veste de mulher, foi censurado por uma cliente e por um dos sócios de uma pizzaria em São Paulo por ter usado o banheiro feminino.
O caso ganhou repercussão e Laerte entrou com um processo na Justiça. Dias depois, um projeto de lei para criar um banheiro unissex para uso de homossexuais e travestis chegou a tramitar na Câmara, mas a proposta não seguiu adiante na Casa.
A coordenadora estadual de políticas para diversidade sexual, Heloisa Gama Alves, considera a iniciativa positiva, principalmente pelo local receber grande público LGBT.
Ela recomenda que os transexuais usem o banheiro do gênero com o qual eles se identificam.
"No caso do Center 3, as meninas entraram no banheiro feminino porque se reconhecem como sendo do gênero feminino", afirma .
Os funcionários do centro de compras também passaram por treinamento para aprender a lidar com o público LGBT e tornar o local "gay friendly" (amigável aos gays).
O diretor de relações institucionais da Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings), Luís da Silva, diz que o transexual é quem vai decidir qual banheiro usar.
"O espaço nos shoppings cada vez é mais caro e não se cogita fazer uma terceira opção de banheiro", comenta.
Fonte: Folha/JE
Por: GIOVANNA BALOGH, DE SÃO PAULO