CAMPO GRANDE (MS),

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    25/06/2014

    Presidente do PMDB faz apelo a Sarney para disputar eleição

    Para opositor do clã, senador vai concentrar força para manter poder no Maranhão. Aliados esperam que Sarney reconsidere desistência


    José Sarney não vai se candidatar ao Senado

    Foto: Aílton de Freitas/14-12-2012 / Agência O Globo

    BRASÍLIA - O presidente nacional do PMDB, senador Valdir Raupp (RO) não considera definitiva a desistência do senador José Sarney (PMDB-AP) de concorrer a reeleição para o Senado, encerrando sua vida pública. Segundo o dirigente peemedebista, em conversa nesta terça-feira com Sarney, fez um apelo para que reconsidere e está aguardando um novo posicionamento. Raupp e outros senadores próximos foram chamados para uma reunião na casa de Sarney, em Brasília. Ele não compareceu hoje ao Senado.

    A poucos dias para o prazo fatal da convenção, marcada para esta sexta-feira, Sarney vem conversando com dirigentes do PMDB e com aliados, que tentam demovê-lo da decisão. Nesta terça, passou a tarde na residência oficial do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ao lado de colegas do partido, como os senadores Eunício Oliveira (CE) e Romero Jucá (RR). O ex-presidente só deixou a residência de Renan às 21h40m. Durante o jantar, ele reafirmou que não será candidato. Houve então, um apelo dos presentes para que ele reconsiderasse, sem sucesso. Segundo peemedebistas, o ex-presidente Lula esteve na casa de Sarney, tentando fazer com que o senador não desistisse de concorrer.

    Sarney já anunciou antes a aliados que não disputaria novo mandato, mas nunca houve um comunicado, como agora. Em outras ocasiões, na disputa pela presidência do Senado, por exemplo, ele tem histórico de anúncios de não candidatura e depois, com articulação de apoios nos bastidores, recua confirmando as disputas.

    - Não se pode dizer que dessa água não bebo. Eu disse a ele que nosso desejo é que continue. Temos que aguardar - disse Valdir Raup agora a tarde.

    Segundo o presidente do PMDB, na conversa Sarney alegou motivos de saúde e familiares para não se candidatar. Mas há pesquisas indicando que ele tem a preferência de 53% do eleitorado amapaense contra 18% de seu adversário , o deputado David Alcolumbre, do Democratas.

    - Eu disse a ele que tem o apoio do PMDB para disputar e pode ganhar a eleição. Se disputar, ele ganha - disse Raupp.

    O vice-presidente Michel Temer (PMDB) telefonou hoje de manhã para Sarney, e o senador confirmou que não vai concorrer. Segundo interlocutores de Temer, Sarney estava decidido e fechado nesta posição. Na conversa, Temer lamentou a decisão de Sarney e pediu que ele continue atuando na vida política. Para o vice, a decisão pareceu tomada, sem risco de mudança.

    Assessores de Sarney que estiveram com ele nesta terça afirmaram que o senador está cansado e chateado com os adversários no estado. Sarney não gostou das vaias recebida no Amapá, e recebeu a informação de que elas foram orquestradas pelo governador Capiberibe, seu adversário. A maior preocupação de Sarney, contudo, é com a saúde da mulher.

    ALIADOS ACREDITAM QUE SENADOR MUDE DE IDEIA

    Integrante do grupo político de Sarney e muito próximo de sua família, o deputado Francisco Escórcio (PMDB-MA) também não acredita que seja definitiva a desistência.

    - Eu só vou crer nisso depois da convenção, quando não tiver mais jeito. A política é muito dinâmica e pode mudar de um dia para o outro - disse Escórcio.

    O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), conversou hoje pela manhã com Sarney. Ao longo do dia, Sarney tem mantido vários contatos com aliados. A deputada estadual no Amapá Marília Góes (PDT) disse que ele conversou com o candidato ao governo Waldez Góes pela manhã e que ele acredita numa mudança de postura de Sarney até sexta, quando ocorrerá a convenção da aliança. O auge da convenção será no final da tarde de sexta, e Sarney é esperado.

    - Ele deu entrevista mantendo a posição de que não será candidato. Que a gente possa demovê-lo dessa ideia até sexta, na convenção - disse a deputada.

    DINO DIZ QUE SARNEY QUER CONCENTRAR FORÇAS NO ESTADO

    Sem os últimos bastiões de poder, o Senado e o governo do estado, o candidato da oposição que lidera intenções de voto no Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), prevê que o senador José Sarney (PMDB-AP) vai abandonar o Amapá e concentrar todo seu poder para eleger o senador Edison Lobão Filho (PMDB) como sucessor da filha Roseana Sarney, para manter o poderio econômico das três famílias que hoje dominam setores que vão da construção civil a comunicação no estado: Sarney, Lobão e Murad. Em outra ponta ele estaria preparando o neto, Adriano Sarney - filho do deputado Zequinha Sarney - para suceder Edinho Lobão em 2018. O neto é candidato a deputado estadual.

    - No Maranhão só tem oportunidade de prosperar empresas associadas ao poder político, seguindo a lógica do compadrio, empresas da família ou ligadas as famílias, terceirizadas no governo. As famílias Sarney, Lobão e Murad fizeram um condomínio de poder e controlam a riqueza no Maranhão. Há um paradoxo: Sarney sai de cena no Amapá e, a curto prazo, a disputa no Maranhão vai se radicalizar muito. Ele vai se dedicar a eleger o Edinho para tentar manter o poder no Maranhão. Já estou sentindo isso: Estão partindo para a baixaria e a violência, dizendo que sou gay, ateu e contra a propriedade e família - avalia Flávio Dino.

    Um exemplo de como a disputa vai se acirrar, segundo Dino, foi uma manobra feita pela governadora Roseana Sarney, na última semana, para mudar a destinação de R$ 4,5 bilhões de verbas do BNDES/FAT para obras de desenvolvimento no estado, para distribuição a municípios através de um fundo criado a toque de caixa pela Assembleia Legislativa. Essa manobra, segundo ele, permitiria burlar a lei eleitoral que proíbe celebração de convênios depois de 30 de junho. Mas não impede que haja repasse através de fundos estaduais e municipais.

    Parecer do ex-procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pedindo a cassação de Roseana, foi baseado justamente em denúncia de uso maciço de celebração de convênios e transferência de recursos aos municípios no mês de junho que antecedeu a eleição de 2010 e nos três dias que antecederam a convenção do partido no Maranhão. Por parecer do ministro Dias Toffolli , que julgou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) incompetente para julgar o caso, o processo foi remetido ao Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão, e nunca foi julgado.

    - A governadora Roseana está usando a mesma arma de 2010, só que agora com recursos do BNDES e do FAT, que serão jogados no lixo. No parecer de Gurgel há provas de que os prefeitos, em 2010, sacaram recursos na boca do caixa, sem execução das obras. Agora, em seis dias ela mandou o projeto criando a Fundação para repasses dos recursos , a Assembleia aprovou e já virou lei. Além de deixar o caixa zerado, o objetivo é repassar dinheiro para campanha dos aliados. Não sou contra repassar recursos para os municípios, mas como isso pode ser feito se o dono do recurso é o BNDES e o contrato não está sendo respeitado? - acusa Flávio Dino, que entrará com uma representação administrativa e uma ação popular no TRF do Maranhão contra a mudança de destinação dos recursos.

    Dino acha que no Maranhão pós-Sarney haverá mais chances de alternância política, já que grande parte do poder da família vem da esfera federal. Além da saída dele e de Roseana do cenário, o grupo perde ainda a vaga do senador Epitácio Cafeteira (PDT-MA), que encerra seu mandato. Irmão de Jorge Murad - marido de Roseana, Ricardo Murad também perderá o posto de poderoso Secretário de Saúde, cargo que ocupa desde 2009.

    - O poder regional desse grupo sempre foi atrelado a esfera federal. De JK a Dilma, Sarney apoiou todo mundo. Só não indicou ministros no governo Collor. Com ele e Roseana fora, o jogo político no Maranhão ganha outros contornos. Ao perder o poder político, perde também uma parcela do poder econômico, vão perder grande parte dos negócios - diz Flávio Dino.






    Fonte: OGlobo/JE
    Por: Maria Lima e Critiane Jungblut