Metroviários e governo de São Paulo negociam em reunião proposta para encerrar greve
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| Alex Fernandes, um dos diretores do Sindicato dos Metroviários discursa para grevistas em assembleia Foto: Cleide Carvalho |
SÃO PAULO - Após a demissão de 60 metroviários de São Paulo nesta segunda-feira, os grevistas suspenderam a assembleia marcada para as 13h para aguardar o resultado da reunião que acontece nesta tarde com representantes do governo do estado. Por volta das 16h30m, a reunião foi suspensa para que o presidente do Metrô, Luis Antonio Pacheco, e o secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, conversem com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) por telefone sobre os pontos em que é possível o governo do estado ceder. As partes estão em salas separadas para estabelecer pontos prioritários que cada uma delas não abre mão. A intenção é fazer um documento conjunto ao fim da reunião.
Paulo Pazin, um dos diretores do Sindicato dos Metroviários, pediu paciência aos que estão reunidos na sede da entidade, na Zona Leste de São Paulo, aguardando o resultado da reunião entre as partes para realização da assembleia da categoria.
- Vamos aguardar o resultado da negociação. O principal agora é negociar a reintegração dos demitidos. Sem reintegração a greve não para - afirmou Pazin.
Segundo ele, não há o que ser votado neste momento. Pazin admitiu que a greve pode acabar se o governo do estado reintegrar demitidos e se comprometer a não punir grevistas.
Já o presidente do sindicato, Altino dos Prazeres, diz que a reunião objetiva tentar romper o impasse em torno da greve da categoria. O sindicato afirma que este é o ponto central da negociação desta segunda-feira. Participam da reunião o presidente do Metrô e os secretários de Transportes e da Casa Civil, além de representantes das centrais sindicais que apoiam a greve dos metroviários.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), presente ao encontro, saiu da reunião antes do término e disse ter feito apelo para que as partes cheguem a um acordo que ponha fim à greve da categoria. Suplicy disse que não falou com a presidente Dilma Rousseff sobre o assunto.
- Vou me encontrar com ela domingo, na convenção do PT. Estou tentando um encontro com ela desde janeiro e não consigo - afirmou.
Suplicy disse que sentiu disposição das partes em negociar e que pediu bom-senso "pelo bem do Brasil".
A reunião foi pedida por Luis Antonio Medeiros, chefe da Superintendência Regional do Trabalho, por sugestão da Força Sindical. Paulo Pereira da Silva, ex-presidente da Força, afirmou que a greve dos metroviários afeta todos os trabalhadores.
O Sindicato dos Metroviários de São Paulo não é filiado a nenhuma central sindical. Há cerca de dois meses foi feito plebiscito na categoria para discutir sobre filiação a uma central, mas a maioria decidiu que o sindicato deveria ficar independente.
AS DEMISSÕES
Mais cedo, após ameaças do governador Geraldo Alckmin (PSDB), 60 metroviários foram demitidos. Há previsão de mais demissões ao longo do dia e de afastamento de grevistas ligados ao sindicato, que não podem ser demitidos por estabilidade assegurada por lei, segundo o Metrô. A três dias do início da Copa do Mundo, a greve em São Paulo entrou no quinto dia e começou com manifestação, às 5h, na estação Ana Rosa, Vila Mariana, Zona Sul, nesta segunda-feira. Manifestantes interditaram a Rua Vergueiro, ao lado da estação, e colocaram fogo em entulhos e pedaços de madeira. A Tropa de Choque da Polícia Militar reagiu e usou bombas de efeito moral para dispersar os manifestantes.
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| Greve dos metroviários em SP - Marcos Alves / O Globo |
Grevistas e integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) foram para a entrada do prédio da Secretaria de Transportes Metropolitanos e do Metrô de São Paulo, que ficam na Rua Boa Vista, centro da cidade. O MTST deu apoio aos metroviários. E a intenção era a secretaria para exigir que o governo negocie com os metroviários. Ao meio-dia, o grupo se dispersou.
O presidente do sindicato, Altino Prazeres, disse que vai tentar reverter as demissões e tenta uma reunião com o secretário Jurandir Fernandes. Mais cedo, ao saber das 60 demissões, ele declarou que o governador Geraldo Alckmin “joga gasolina no fogo”.
- Se o governador for fazer demissões, vai ampliar o conflito. Começo a desconfiar de que há algum interesse do governador de que esta greve continue. Vamos tentar rever as demissões ainda durante a greve. Ele vai demitir todo mundo? Ele joga gasolina para apagar o fogo - declarou Prazeres.
Sobre a multa diária de R$ 500 mil, estipulada pelo TRT, Prazeres disse que vai recorrer porque o sindicato não tem condições de pagar. No domingo, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) considerou a greve abusiva.
Em entrevista à TV Globo, o secretário de transportes metropolitanos, Jurandir Fernandes, disse que os primeiros demitidos foram identificados como autores de atos de vandalismo, incentivadores da população a pular catraca e uso de equipamento de som durante a greve.
Ele disse que 1.198 funcionários operacionais deveriam trabalhar nesta segunda-feira. Até o final da manhã apenas 29% do quadro de empregados estavam trabalhando. Fernandes disse que mais grevistas devem ser demitidos. Caso os trabalhadores não justifiquem suas faltas, - com atestado médico em caso de saúde, por exemplo - eles serão notificados sobre as demissões.
- Depois do resultado do TRT, ainda insistir na greve é uma medida tresloucada, completamente insana. O bom senso deve prevalecer nessa reta final. Eles não só podem, como devem ser demitidos por justa causa. É uma obrigação - declarou o secretário.
13 DETIDOS
Ainda segundo o presidente do sindicato, 70 metroviários que faziam piquetes chegaram a ser mantidos dentro da estação pela polícia e alguns foram liberados. Treze pessoas foram levadas para o 36º Distrito Policial. A estação Ana Rosa foi aberta às 8h, com a Tropa de Choque dentro do local.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública informou que as 13 pessoas foram detidas “após tentarem impedir o funcionamento da Estação Ana Rosa do Metrô. Segundo a delegada Roberta Guerra, plantonista do 36° DP, todos serão liberados depois de assinarem um termo circunstanciado e responderão judicialmente pelo artigo 201 do Código Penal (participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho, provocando a interrupção de obra pública ou serviço de interesse coletivo).
No início da manhã, a Tropa de Choque da Polícia Militar usou bombas de efeito moral também para dispersar também um grupo de estudantes que incentivam a greve dos metroviários. Os jovens se afastaram por uma quadra da estação, onde também funciona um terminal de ônibus, e ocupam o outro lado da via. O trânsito da Rua Vergueiro precisou ser desviado enquanto o Corpo de Bombeiros apagava o fogo colocado durante piquete na via.
O comandante da PM, coronel Roberto Meira, diz que os 13 funcionários foram detidos após o grupo arrombar portas e quebrar cadeados para entrar na estação Ana Rosa. - Para dificultar o início das operações - disse Meira em entrevista ao SPTV. Segundo ele, todas as estações que operam nesta segunda têm apoio de policiamento da PM.
Apenas as linhas 4- Amarela e 5-Lilás, privatizadas, funcionam normalmente. Das 65 estações, 42 estão abertas. Segundo o Metrô, a Linha 1-Azul funciona entre as estações Saúde e Luz. A Linha 2-Verde, entre as estações Ana Rosa e Vila Madalena. E a Linha 3-Vermelha opera entre as estações Penha e Marechal Deodoro.
Devido à continuidade da greve, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) manteve a suspensão do rodízio nesta segunda-feira para veículos com placas 1 e 2. As empresas de ônibus afirmam que 100% das frotas estão nas ruas.
A Secretaria Estadual de Saúde informou que os pacientes que perderam as consultas médicos por conta da greve terão o direito a reagendá-las.
Uma assembleia acontece na tarde desta segunda-feira na sede do sindicato, na Zona Leste, para definir os rumos da greve.
MULTA DIÁRIA DE R$ 500 MIL
No domingo, os metroviários decidiram manter a paralisação do metrô paulista, apesar de o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) ter decretado a greve abusiva e determinado o pagamento de multa diária de R$ 500 mil aos dois sindicatos da categoria - o dos metroviários e o dos engenheiros. O desembargador Rafael Pugliese, relator do processo, afirmou que a paralisação é abusiva porque não foi assegurado o mínimo de serviço à população. Também em votação unânime, os desembargadores determinaram o desconto dos dias parados e a não estabilidade no emprego.
À noite, o governador Geraldo Alckmin ameaçou demitir, por justa causa, os grevistas que não retornassem ao trabalho nesta segunda-feira. - Quem não for trabalhar, incorre em possibilidade de demissão por justa causa - declarou o governador, durante entrevista coletiva na noite deste domingo.
- O TRT decidiu que a greve é a abusiva, totalmente ilegal. Hoje não tem discussão, ela é totalmente ilegal. O TRT definiu o índice do dissídio e a proposta adotada foi a do Metrô. Então, não tem o que discutir. Quero fazer uma convocação para que os metroviários voltem a trabalhar - disse o governador no domingo.
Na tarde de domingo, o presidente do Sindicato dos Metroviários, Altino Prazeres, disse que a categoria tem apoio popular e que não era intenção ter greve até a Copa.
Porém, Prazeres deixou claro que a categoria pretende aproveitar a Copa do Mundo e o período pré-eleitoral para pressionar o governo a negociar.
- Tem uma Copa do Mundo aqui, é o maior evento esportivo do mundo. O governo do Estado tem eleições no fim do ano. Tem que negociar. Temos que enfrentar o governo - afirmou.
Fonte: OGlobo/JE
Por: Cleide Carvalho, Tatiana Farah e Jaqueline Falcão
Por: Cleide Carvalho, Tatiana Farah e Jaqueline Falcão

