![]() |
Foto: Divulgação |
A burocracia para o conserto de viaturas de resgate dos Bombeiros é a grande responsável pela demora de atendimento que vem ocorrendo há meses, em Campo Grande, comprometendo o salvamento de vítimas graves de acidentes de trânsito. A afirmação é dos próprios bombeiros e gestores diretamente envolvidos na inspeção dos veículos reformados e no pagamento dos serviços das oficinas cadastradas pelo sistema Taurus.
Para se ter uma ideia, a espera para a troca de uma lâmpada quebrada, por exemplo, chega a durar 15 dias.
O perito em mecânica e técnico da Secretaria Estadual de Administração, Humberto José, explicou que a burocracia é necessária para agir em conformidade com as regras do convênio Taurus, que detém a concessão das manutenções de todos os carros do Governo.
“O conserto das viaturas obedece à conformidade do convênio Taurus. Primeiro abre a licitação e depois faz análise de orçamentos do pregão eletrônico. Temos em torno de 20 viaturas, sem contar a quantidade do Samu para fazer o resgate”, explica.
Assim, dezenas de carros que deveriam estar nas ruas ficam dias nas oficinas autorizadas, esperando vistorias da Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul), Sad (Secretaria Estadual de Administração) e Corpo de Bombeiros, para só então liberar o veículo.
Para fazer o pagamento dos serviços, o assessor administrativo operacional da Sejusp, Jurandir Borges, conta que é outro ‘calvário’. “Os orçamentos precisam passar primeiro pelo Ministério da Fazenda para só então ser liberado o dinheiro”, destacou.
“Qualquer coisa abre o processo, até para uma simples troca de lâmpada. Se, como em diversas capitais, tivéssemos uma mecânica própria para pequenos consertos, nossa oficina faria a troca das pastilhas de freio, suspensão e outros problemas”, avalia o capitão dos Bombeiros, Cícero Custódio, que visita diariamente as mecânicas na Capital.
Dono de oficina reclama
Segundo o proprietário de uma das oficinas credenciadas pelo Governo, José Viana, 45, o tempo de espera poderia ser reduzido para no máximo três dias se não houvesse a burocracia. “Sem essa burocracia toda e se não faltar a peça, é claro, em três dias tudo estaria pronto. Mas precisamos aguardar a fiscalização do poder público”, disse.
Viana pontuou ainda que se for constatado que o problema é de falha do bombeiro e não mecânico, a situação piora. “Nesse caso, abre uma sindicância e um inquérito policial, para apurar o comportamento desse profissional”, explica o empresário.
É o caso de uma carreta que está a três meses na oficina dele. “Se trata de um caminhão apreendido com droga contrabandeada, adaptado para ser um veículo ‘pipa’ e combater incêndios na cidade. Fizemos a instalação da bomba em 10 dias e ele saiu para ‘rodar’. Acontece que três dias depois houve um problema na caixa de câmbio e abertura de inquérito para apurar se foi o bombeiro que estava dirigindo que estragou o carro”, contou Viana.
De acordo com o empresário, é uma junção de fatores que diminuem a vida útil das ambulâncias. “Você junta tudo, a trepidação na cidade que fazem as portas quebrarem a toda hora. Quebra mola, sinal vermelho que o profissional tem de furar, erro na marcha na adrenalina e até o peso excessivo em um carro como esse, adaptado para não ter essa carga. Ai, quando o conserto ultrapassa os R$ 30 mil ou 30% do valor do veículo, ele é encostado porque o Governo não autoriza”, ressaltou, mostrando 10 viaturas ‘velhas’ em seu galpão.
Falta de viaturas sobrecarrega o Samu
O resultado da morosidade é drástico: na última segunda-feira, o Corpo de Bombeiros estava sem nenhuma viatura. Na terça tinha apenas uma de manhã e devido ao acúmulo de ocorrências, houve corrida nas autorizadas para liberar outras três que estavam ‘melhorzinhas’.
Na terça-feira (2), apenas uma viatura dos bombeiros estava funcionando. Com isso, o Samu - que também passa por problemas de sucateamento - está sobrecarregado e triplicou o tempo de espera para socorro.
O 'caos' na saúde em Mato Grosso do Sul é nítido. Os bombeiros informaram que na terça-feira foram registradas cerca de 120 ocorrências de acidentes nas ruas de Campo Grande. Além disso, há os chamados para socorrer incêndios, afogamentos, quedas e fazer vistorias.
Entretanto, com a falta de viaturas, muitos desses pacientes tiveram que ser removidos em carros particulares. O Samu sozinho não consegue dar conta dos atendimentos: das 11 viaturas que deveriam estar nas ruas, apenas 8 estão fazendo todo o serviço.
Solução fácil
Conforme os bombeiros, o problema seria amenizado se houvesse na própria corporação uma mecânica para pequenos reparos, como é feito em diversas capitais do país. Mas, ao invés disso, o governo burocratizou o sistema.
Para o capitão dos bombeiros, Cícero Custódio, os carros comprados pelo governo não aguentam o ‘tranco’.
“O convênio que temos são de carros Ducato Peugeot. Eles são criados para serem vans e não para fazer resgates, não ‘aguentam’. Se comprar 10, sete vão rodar e o resto fica no conserto. Uma alternativa seria substituir por outra marca mais resistente”, explica o Capitão.
“Um acidente atrás do outro. Gente passando mal, precisando de socorro rápido para chegar ao hospital ou ser transferido. Incêndios, vistorias, afogamentos e quedas. São tantas ocorrências que as poucas viaturas dos Bombeiros de Campo Grande, a cada 15 dias, em média, vão para o conserto. E sem uma mecânica própria da corporação para pequenos consertos, existe licitação até para fazer a troca de um farol”, desabafou Custódio.
Fonte: Midiamax
Por: Graziela Rezende
Foto: Divulgação