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    06/04/2021

    ARTIGO| A psicologia é um serviço essencial?

    Autora: Kamila de Souza*
    Aos profissionais

    A essencialidade da psicologia em todos os espaços (hospitais, presídios, clínicas, escolas e tantos outros) se deve ao fato de ela se ocupar com maestria dos processos mentais, do comportamento humano e seus desdobramentos. Enquanto ciência e profissão, ela alcança aquilo que "as ciências do bisturi" não dão conta: a dinâmica do indivíduo que, inclusive, afeta o corpo tensiona os limites do que é considerado saúde e doença.

    Vejam, a psicologia tem conceitos e limites claros! Isso organiza as políticas públicas de saúde, os costumes e as práticas de cuidado para atender as demandas e as necessidades de saúde de um povo pela via da equidade, não da igualdade. Defender a nossa profissão e a sua essencialidade é se posicionar em favor da garantia do direito ao acesso à escuta, ao cuidado e à uma tecnologia que qualifica a vida das pessoas em sua particularidade, o que impacta no coletivo.

    É um posicionamento ético e político. Recuar diante de uma realidade desastrosa é colocar a psicologia em um lugar de inutilidade. Com a oferta criamos a demanda e garantimos o acesso e o desenvolvimento da saúde. Nós é que precisamos nos reconhecer e colocar o nosso serviço à disposição da comunidade, não outras profissões, órgãos e conselhos. Nós conformamos a identidade da nossa profissão e precisamos sustentá-la.

    A psicologia praticada no Brasil é de uma eficiência e particularidade absurda, do ponto de vista da humanidade, do cuidado e do desenvolvimento técnico em saúde, que serve de referência em vários lugares do mundo. A psicologia é essencial quando batemos o pé e sustentamos a potência do cuidar, trabalhando e conduzindo o que for preciso para promover saúde, condições de acesso e qualidade de vida aos povos.

    A pandemia do Coronavírus vem escancarando a necessidade do nosso serviço para lidar com o luto, a perda, a morte, o sofrimento desmedido, as questões de ordem social, a fome, a miséria, a crueldade, a negligência e tantas outras coisas. Um ser humano não é só corpo físico. Médicos dão conta dos corpos físicos, mas quem maneja o sofrimento e a angústia que habita esse corpo somos nós - inclusive o cansaço, o medo, a exaustão e o horror que habita o corpo dos médicos.

    Enfim, ninguém salva uma vida se reduzí-la, apenas, a um pedaço de carne. Aliás, não existem heróis, não somos heróis. Somos estudiosos e profissionais munidos de técnicas, estudos e experiências para não só conter e organizar corpos, mas escutar e conduzir tratamentos que qualifiquem vidas, ponto. Cada um com a sua função, cada corpo clínico com a sua missão e ética, para acolher a estética desse outro que sofre, que sente dor, que não respira, hoje, mas que deseja viver de modo digno imediatamente.

    À população

    O sofrimento, às vezes, não aparece nos exames, não tem motivo aparente. Às vezes, você está descontente e não sabe a razão - ou sabe muito bem, mas não tem com quem contar. Às vezes, o passado te perturba e a realidade te adoece. E outras vezes, também, está tudo certo, mas você quer falar da vida, da sua vida.

    Os profissionais da escuta estão para acolher a sua demanda, independente de qualquer coisa. Você pode dizer o que quiser, da forma que quiser, e não será julgado, mas escutado em sua singularidade. É uma fala dirigida a alguém, mas não a qualquer um. É alguém com formação técnica e ética. Não é pastor, não é coach, não é vizinho. É psicólogo.

    Aos profissionais de psicologia cabem, também, outros serviços como os jurídicos, psicossociais, avaliação para fins cirúrgicos, jurídicos, orientação profissional, orientação escolar, nas empresas... Onde houver problema humano você pode procurar por esse profissional e procurar saber mais sobre o que ele pode legalmente, de acordo com as leis da profissão, te oferecer. Não hesite!

    *Psicóloga especialista em Saúde Mental - Psicanalista

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