Alta adesão das medidas restritivas, ampliação da testagem e a união entre governador e prefeitos são os fatores citados pelos especialistas para explicar o cenário positivo
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Infectologista e professora técnica do Comitê de Operações de Emergências do Mato Grosso do Sul, Mariana Croda, acredita que a adoção de uma quarentena ampla desde o primeiro caso de covid no estado ajudou no controle da pandemia. “A doença começou pela capital, Campo Grande, e, a partir do primeiro caso, adotamos medidas restritivas muito duras. Houve o fechamento do comércio, escolas, parques, e a população aderiu muito bem”, avalia. A professora da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) conta, ainda, que a longa duração das normas de isolamento reforçou o controle. “Mesmo com poucos casos, essas medidas continuaram por, pelo menos, 30 dias, e algumas se mantêm até o momento.”
Secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende reforça a avaliação da infectologista ao afirmar que o estado tomou as medidas certas na hora certa. “Logo quando começaram a surgir os alertas sobre a doença vindos da China, nós já fizemos alguns encaminhamentos e construímos nosso Comitê de Operações de Emergências. Fomos um dos primeiros a criá-lo, logo no fim de janeiro”, ressalta. À época, o Brasil não havia registrado casos de covid-19.
Com a doença controlada na capital, o interior passou a registrar infectados relacionados às atividades econômicas, em usinas, frigoríficos e hidrelétricas. Ao identificar o foco, o estado conseguiu conter os casos. Outro ponto que ajuda no controle da doença é o aumento da capacidade de testagem. No MS, o que permitiu isso foi o grande investimento da unidade federativa nos insumos e a parceria com instituições de ensino e pesquisa. “Com isso, a gente conseguiu ampliar rapidamente a testagem, antes que a gente tivesse uma curva crescente”, explica Mariana Croda.
Segundo a infectologista, em Campo Grande, há 100 vagas abertas por dia para a realização do teste RT-PCR, considerado o padrão-ouro no diagnóstico da covid-19. Fora isso, há vagas para testes rápidos. Isso ocorre diariamente. Logo, a capital testa, no mínimo, 700 pessoas por semana.
Densidade demográfica
Características do estado também podem ter ajudado no controle da doença, ajudando a evitar aglomerações. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Mato Grosso do Sul é uma das 10 unidades da federação com menor densidade demográfica do país. Com uma população de 2.778.986, o estado tem 6,86 habitantes por quilômetro quadrado. São Paulo e Rio de Janeiro, estados com o maior número de casos e mortes pela covid-19, apresentam 166,25 e 365,23, respectivamente.
“Isso ajuda muito porque locais de maior aglomeração têm um menor controle. Temos espaços maiores, e também muita população rural, que acaba ficando mais isolada”, indica a especialista. Croda ressalta, ainda, o alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado. Em 10º no ranking entre os estados, o IDH de MS é de 0,729. “Temos um IDH bom, então temos boas condições de saúde e, até ano passado, nós éramos o terceiro em investimento da saúde”, afirma.
União
Junto ao investimento na saúde, a formulação de uma política única e a união entre prefeitos, governador e secretários é vista como um componente importante por Geraldo Resende. “Conseguimos construir unidade com os 79 municípios do estado. Não tem nenhum município que deixou de seguir a orientação da Secretaria de Saúde e fizemos aqui uma construção de uma unidade de ações. Todos entenderam que o nosso inimigo comum é o coronavírus”, resume o secretário estadual de Saúde.
Para ele, essa unidade vista no estado faltou em determinado momento no país como um todo. “Faltou união a nível nacional. Sabemos que tivemos várias divergências na condução do combate à doença por parte do governo federal. Espero que, agora, isso seja superado”. De acordo com o secretário, a pandemia só será derrotada quando o governo, por meio do Ministério da Saúde, unir-se, de fato, ao Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e ao Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems). É preciso “construir uma unidade.”
Fonte: Correio Braziliense
Por: Maria Eduarda Cardim