CAMPO GRANDE (MS),

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    12/12/2019

    A luta por reconhecimento dos quilombos na Bahia

    O estado concentra o maior número de comunidades quilombolas do país, e 23% da sua população se autodeclara negra 

    ©REPRODUÇÃO
    Berço da primeira capital do Brasil, Salvador, a Bahia é também um dos principais destinos turísticos ligados à cultura negra do país. Foi nessa região que chegaram os primeiros contingentes de pessoas escravizadas trazidas da África para trabalhar nos engenhos de cana-de-açúcar que começavam a se desenvolver na região. 

    Os registros históricos apontam a autorização para a aquisição de 120 escravos por cada colono, fazendo com que cerca 24% da população brasileira fosse composta por negros em pouco mais de três décadas após o início do tráfico, já em 1586. 

    Com a crescente presença africana e com a crueldade do sistema escravocrata no período do Brasil Colônia, a região se tornou palco de inúmeras revoltas de escravos já nas primeiras décadas do século 19, quando metade da população de Salvador era composta por negros. 

    A mais famosa delas, a Revolta dos Malês, em 1835, contou com 1.500 homens que chegaram a atacar o quartel militar local, colocando em xeque o poder central diante de uma crescente população escrava e sem direitos. 

    O desenvolvimento da economia açucareira com base na mão de obra escrava por mais de um século foi a base para a formação de inúmeros quilombos no Nordeste, entre eles o de Zumbi dos Palmares, em Alagoas. 

    Mas é na Bahia que há, atualmente, o maior número de quilombos remanescentes do Brasil Colônia. São 736 comunidades certificadas pela Fundação Cultural Palmares que guardam parte dessa história de luta e resistência. 

    Entre os mais famosos do estado, está o quilombo do Buraco do Tatu, formado em 1744. A fortificação foi erguida nos arredores de Salvador e exigiu uma expedição de 200 soldados na primeira tentativa de ataque por parte da Coroa Portuguesa, em 1763. A ação foi frustrada, mas levou 61 quilombolas à prisão. A fortificação se manteve atuante até 1765, quando foi destruída por Conde de Azambuja, Capitão-General da Bahia. 

    Para além da regiões quilombolas, a cultura africana se expressa em uma Bahia de população majoritariamente negra. Segundo levantamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), 3.389.881 pessoas do estado, ou seja, 22,9% de sua população, se autodeclaram negros. 

    Na religião, essa resistência ganhou expressividade no Candomblé, que conseguiu preservar suas origens africanas mesmo diante de sua proibição durante séculos. Hoje, sua expressão na Bahia mostra o sincretismo religioso construído pela população negra para preservar e professar a sua fé. 

    Também é em Salvador que estão localizados importantes terreiros, entre eles o do Gantois (Ilê Iyá Omin Axé Iyá Massê), tombado como patrimônio histórico em 2002 e famoso pelas canções de Caetano Veloso e Gilberto Gil. 

    Em 4 de dezembro, Dia de Santa Bárbara, a cidade é tomada por pessoas vestidas de vermelho — referência à orixá Iansã —, que se dirigem à Igreja de Nossa Senhora do Rosário, no Pelourinho. Juntos, católicos e candomblecistas professam sua fé em comunhão. A imagem se repete em janeiro, quando ocorre a tradicional lavagem das escadarias da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim. A homenagem a Oxalá é realizada logo após o culto católico e é uma das manifestações culturais mais tradicionais de Salvador. 

    E como nem só de religião vive o homem, as origens africanas da Bahia também guardam outras preciosidades históricas e culturais. Dos afoxés e blocos afros do carnaval à culinária carregada de dendê, passando pelas Rodas de Capoeira de Angola, o estado é hoje berço da cultura afro-brasileira. 

    Não à toa que o Olodum, outra expressão cultural regional, exalte em uma de suas canções: “Na Bahia, me sinto em Etiópia”. É nesse estado que estão, hoje, os principais destinos turísticos da cultura negra no Brasil. 



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