CAMPO GRANDE (MS),

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    03/07/2019

    O que significa o conceito “comida de verdade”?

    ©DIVULGAÇÃO
    Muito tem se comentado a respeito do termo “comida de verdade”. Em uma época em que se questiona o uso de agrotóxicos em alimentos, fala-se muito em combater a industrialização da comida. Mas mais do que isso: é comum ouvir dizer que é preciso deixar de enxergar os alimentos como meros produtos. 

    Comer comida de verdade não está só relacionado a comer frutas, verduras, legumes e demais alimentos saudáveis. É enxergar-se, sim, como consumidor, porém também como coprodutor do que você consome. 

    Todos os seus hábitos alimentares dizem muito sobre as suas crenças e suas posições enquanto cidadão. Você se posiciona em direção a algo quando escolhe se alimentar de determinada forma. 

    Negar uma alimentação baseada em fast food e em produtos industrializados é lutar contra a objetificação da comida. Conhecer a origem, o caminho e o destino daquilo que você ingere é cada vez mais importante. 

    O que é comida de verdade? 

    A comida de verdade é uma comida pura, sem agrotóxicos ou outros químicos do gênero. Além disso, é uma comida que não é baseada na exploração de mão de obra escrava, que respeita o meio ambiente e todos os seres que vivem nele. 

    De acordo com manifestos em prol de uma comida mais próxima das raízes, a ideia desse tipo de alimentação é justamente criar raízes com os produtores. Estabelecer uma relação de confiança entre quem produtores de alimentos e consumidores cria uma cadeia, um vínculo que é benéfico à natureza. 

    Esse tipo de comida pode ser encontrado nas pequenas feiras de horticultura, nas feiras bio, que reúnem camponeses e pequenos produtores em um só local. São grupos familiares, que tem na produção de alimentos não só o seu sustento, mas um verdadeiro modo de vida. 

    Cria-se aí um respeito pelo que é se alimentar. A relação humana com a comida tornou-se nos últimos séculos uma relação vazia, em busca de prazer imediato. As grandes redes de fast food são o melhor exemplo disso. 

    Ter quem enxergue a alimentação como ela realmente é, uma necessidade, um vínculo entre humanidade e a terra. 

    Desenvolvendo uma cultura alimentar “verdadeira” 

    Os alimentos orgânicos, biológicos, in natura estão em segundo plano no Brasil. Em primeiro lugar está o interesse das grandes corporações, que produzem alimento em massa e em grande escala. Usam matérias-primas de baixa qualidade, visto que são mais baratas e permitem grande produção. 

    Essas empresas dominaram todos os recursos e acabaram minando uma cultura familiar, caseira, de aproveitar tudo que a natureza tem a oferecer. Criou-se, por consequência, uma hipercultura do desperdício, que é cada vez mais percebida nos seios de diversas famílias. 

    A criação de uma cultura em torno da comida orgânica busca retornar o ser humano a um estado mais democrático em relação à própria alimentação. 

    O poder do consumo alimentar deixou de estar nas mãos do consumidor. Nos supermercados, espaços principais de relacionamento com a comida, são soberanos os produtos industrializados. Mesmo quem deseja um alimento mais puro não consegue encontrar. 

    É nesse sentido também que as feiras orgânicas e biológicas têm importância. Elas ajudam as pessoas a verem que ainda é possível retomarem o controle absoluto da própria alimentação. 

    Mesmo quem não tem condições de plantar o próprio alimento pode recorrer a esses produtores. É uma forma de valorizar os pequenos agricultores, o que faz entrar também no antigo debate sobre a reforma agrária no Brasil. 

    Democratização da comida e conscientização alimentar 

    O desperdício de alimentos é apenas um dos muitos males da falta de consciência alimentar. Por isso é importante democratizar o acesso à comida de verdade e a todo o contexto no qual esse tipo de alimentação está inserido. 

    Desenvolver uma consciência nesse sentido não é fácil. Vivemos em uma sociedade que se importa mais com um prato cheio do que com o que está no prato e com a origem do que está no prato. 

    Mudar isso é um processo que exige estudo, leituras e muitas campanhas públicas a favor de modelos alimentares mais sustentáveis. Comer é um ato político, e todos os problemas relacionados à alimentação derivam do fato de que a população mundial em geral não entende isso.



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