CAMPO GRANDE (MS),

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    01/04/2019

    Por que a Páscoa é uma data que divide – e une – cristãos e judeus

    Para uns, é a celebração do dia em que Jesus Cristo ressuscitou; para outros, quando o povo judeu deixou de ser escravizado pelo faraó do Egito 

    ©DIVULGAÇÃO
    No penúltimo domingo de abril, os cristão vão comemorar a Páscoa, o dia em que, segundo a Bíblia, Cristo ressuscitou. A data muda após ano a ano porque é lembrada sempre depois da primeira lua cheia do equinócio da primavera -- em 2020, será no dia 12 de abril e, em 2021, no dia 4 do mesmo mês. 

    A Páscoa é, assim como o Natal, uma data que passou por transformações de suas características ao longo dos últimos 200 anos. Como acontece também no dia 25 de dezembro, por exemplo, elementos cristãos e não-cristãos se misturam na Páscoa, como a prática de dar presentes -- hoje associados, especialmente, com chocolates e flores

    Páscoa como um rito da primavera 

    A Páscoa e o Natal são duas datas que estão ligadas à mudança das estações do ano. No segundo caso, por exemplo, o Novo Testamento -- uma das duas partes que formam a Bíblia cristã -- não dá informações sobre em que época do ano Jesus nasceu e, por isso, muitos pesquisadores acreditam que a principal razão para seu aniversário ser lembrado no dia 25 de dezembro é por causa do solstício do inverno no calendário romano. 

    Nesse período do ano, os dias se tornavam mais longos e menos escuros, um simbolismo ideal para o nascimento da "luz do mundo", como o apóstolo João se refere a Jesus em seus textos no Novo Testamento. 

    A Páscoa também cai em uma data-chave do ano solar romano: o equinócio vernal (próximo do final de março), quando há iguais períodos de luz e de escuridão durante os dias. Para quem vive ao Norte do mundo, como a Europa e os Estados Unidos, a chegada da primavera é geralmente esperada com excitação, porque isso significa o fim dos dias frios do inverno. No Sul, como a América do Sul e a Oceania, é chegado o tempo dos meses frios -- por isso, a Páscoa obedece uma data essencialmente do Hemisfério Norte. 

    A primavera, para os povos antigos, significava o retorno à vida das plantas e das árvores que ficavam em estado dormente durante o inverno, assim como o nascimento de uma nova vida em vários espécies de animais. Dado o simbolismo da nova vida e do renascimento, era natural celebrar a ressurreição de Jesus nessa época do ano. 

    Os distintos nomes da Páscoa, porém, ajudam a entender suas diferenças ao redor do mundo: enquanto a palavra pela qual nos referimos à data é proveniente do termo grego "Pascha", no mundo anglo-saxão a celebração é chamada de "Easter". 

    "Pascha", do grego, se refere na verdade à "Páscoa judia" ("Passover", em inglês), relatada na Bíblia hebraica (o Velho Testamento) como a data em que se comemora a libertação do povo judeu da escravidão no Egito, narrada no livro de Êxodo. Ela é a data mais importante no calendário judaico e é lembrada na primeira lua cheia após o equinócio vernal. 

    Na época de Jesus Cristo (que, segundo a Bíblia, veio ao mundo para salvar os judeus), a Páscoa tinha um significado especial, porque o povo judeu estava novamente baixo domínio estrangeiro -- dos romanos. Os peregrinos judeus em Jerusalém transmitiam a cada ano a esperança que o "povo escolhido por Deus" seria libertado em breve. Foi durante uma Páscoa que Jesus viajou à cidade com seus discípulos para celebrá-la: ele entrou na cidade em uma procissão triunfal e criou um distúrbio com os comerciantes no templo, chamando a atenção de Roma. Como resultado desses dois episódios, ele foi executado em aproximadamente 30 a.C, ou seja, após o Anno Domini - o “ano do nascimento do Senhor”. 

    Alguns seguidores de Jesus, no entanto, disseram tê-lo visto vivo três dias depois da sua morte, quando foi pregado em uma cruz ao lado de dois ladrões, em um lugar distante chamado Gólgota. Essa experiência fez surgir a religião cristã. Como Jesus morreu durante a Páscoa e seus seguidores acreditam que ele reviveu, as duas datas -- dos judeus e dos cristãos -- tendem a coincidir. 

    Em inglês, a palavra "Easter" remete ao nome da deusa inglesa pré-cristã Eostre, geralmente celebrada no começo da primavera europeia. A única referência a ela vem dos escritos de Venerado Bede, um monge britânico que viveu no final do século XVII e começo do XVIII. "Bede escreveu que o mês em que cristãos ingleses estavam celebrando a ressurreição de Jesus tinha sido chamado de 'Eosturmonath' em inglês antigo, se referindo ao nome de Eostre. E mesmo que mantendo o significado cristão da celebração, isto é, vivendo a Páscoa na data cristã, eles continuaram designando o dia com o nome da deusa Eostre", explicou o professor Bruce Forbes, de Princeton (EUA), ao jornal The Guardian. 

    Alguns cristãos escolheram celebrar o renascimento de Jesus na mesma data em que se lembrava a Páscoa judia, próximo ao dia 14 do mês de Nissan do calendário judaico, ou entre março e abril do ano romano. Os "quarto-decimais" (“quartodecimanos”, em latim), como ficaram conhecidos, resolveram evidenciar tanto a época em que Jesus morreu como a continuidade com o judaísmo com a emergência do novo cristianismo. Alguns outros cristãos, no entanto, ainda preferem guardar a data para um domingo, dia em que se acredita que a tumba de Jesus Cristo foi encontrada vazia. 

    Em 325 a.C (depois do Ano Domini), o imperador Constantino, que havia se convertido ao cristianismo, concebeu uma reunião entre líderes cristãos para resolver disputas importantes no que foi chamado de primeiro Concílio de Niceia. A decisão mais importante tomada no encontro foi o status que deveria ser dado a Cristo: "totalmente humano" e "totalmente divino". O concílio também resolveu, enfim, que a Páscoa deveria ser fixada aos domingos -- não no dia 14 do mês de Nissan do calendário judaico, mas no primeiro deles depois da primeira lua cheia do equinócio vernal. 



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