CAMPO GRANDE (MS),

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    30/07/2017

    Polícia colhe depoimentos e versões sobre assassinato de Mayara são contraditórias

    Caso é tratado pela polícia como latrocínio

    © Divulgação
    Contradições, negação e até a tentativa de incriminar um inocente, marcaram a investigação e a prisão dos suspeitos do assassinato da musicista e professora Mayara Amaral, de 27 anos. Luís Alberto Bastos Barbosa de 29 anos, Ronaldo da Silva Olmedo, de 30 anos, e Anderson Sanches Pereira, 31 anos, foram presos em flagrante pelo crime, tratado como roubo seguido de morte, na quarta-feira (26).

    Mayara foi morta na madrugada de terça-feira (25) e seu corpo só foi encontrado no fim do dia, parcialmente carbonizado em uma estrada de acesso a cachoeira do Inferninho. A família procurou a polícia na madrugada de quarta-feira, registrou um boletim de ocorrência por desaparecimento e acabou descobrindo que o corpo encontrado horas antes poderia ser da musicista.

    Enquanto exames para comprovar a identidade do corpo eram feitos, equipes da Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) Piratininga e do GOI (Grupo de Operações e Investigações) começaram as investigações. Para a polícia a mãe de Mayara contou que às 23 horas da terça-feira recebeu mensagens da filha afirmando que o ex-namorado estava a ameaçando de morte.

    Com essas informações as equipes encontraram o suspeito, que foi detido e levado para a delegacia. O rapaz passou toda madrugada na Depac Piratingando, enquanto as equipes permaneciam na rua. Amigos e familiares foram ouvidos e com acesso a senha do email da musicista os policiais conseguiram, através do Google Maps, rastrear os últimos passos da vítima.

    Em cada depoimento, o nome de Luís era citado aos investigadores com a pessoa com quem Mayara estava se relacionando e foi seguindo os passos da jovem que as equipes bateram na casa do suspeito. O endereço do baterista apareceu duas vezes no aplicativo, primeiro na noite do dia 24 de julho e depois no dia seguinte, quando a musicista já estava morta.

    Em um primeiro momento, ainda em casa, Luís tentou incriminar o ex-namorado de Mayara, afirmou que viu a amiga pela última vez no horário do almoço, com a carro dela e que estava acompanhada do suspeito, que a espancava constantemente. Foram familiares do rapaz que o desmentiram e acabaram contando a polícia que ele passou parte do dia com o Gol quadrado que pertencia a Mayara.

    Luís chegou a ser levado para a delegacia para reconhecer o tal suspeito de matar a musicista, mas foram as contradições ao ser questionado sobre o carro que o entregaram. Sem saber como explicar o que fazia com o Gol, o jovem chegou a levar a polícia ao endereço de uma falsa oficina, onde ele afirmou ter deixado o veículo para manutenção.

    Mesmo depois que os instrumentos de Mayara, o computador e até roupas ensanguentadas, Luís seguiu falando que havia deixado os objetos em casa quando levou o carro na oficina, mas na delegacia, com todas as provas contra ele, acabou confessando o crime. Em um depoimento com informações desencontradas com as apuradas pela polícia, ele depositou a autoria do assassinato a Ronaldo, o ‘Cachorrão’, de quem ele afirma sempre comprar droga.

    Depoimento

    Na versão de Luís, foi do comparsa a ideia de ‘furtar’ Mayara, mas ele concordou. Os dois marcaram um encontro com a musicista e na noite da segunda-feira (24), foram para um motel na saída para Rochedo. A primeira contradição aparece no trajeto traçado pelo rapaz. Ele afirmou que depois do ensaio com a banda a musicista o buscou em casa, depois foi até a casa de ‘Cachorrão’ e de lá para o local em que o crime aconteceu.

    Pelo aplicativo os policiais identificaram que do endereço em que Luís mora, Mayara foi direto para o Motel, de onde só saiu às 10 horas da manhã, horário também diferente do relatado pelo suspeito, 5 horas.

    O crime então é atribuído ao comparsa. Luís conta que no motel, ‘Cachorrão’ teria matado Mayara enquanto ele fazia o uso de cocaína. Afirmou em depoimento que se desesperou ao ver o que o amigo tinha feito, mas que em resposta ouviu: “Calma, agora vamos poder levar tudo”.

    Eles teriam enrolado Mayara em um lençol e a colocado no porta-malas do próprio carro. Assim como afirmam ter entrado no estabelecimento, Ronaldo teria se escondido no banco de trás, enquanto Luís saiu sozinho, conduzindo o carro. Ele explicou a polícia que chegou a deixar a identidade da vítima e um número de celular de uma amiga dela na recepção como garantia de que voltariam para pagar uma taxa de limpeza do quarto que estava ‘destruído e cheio de sangue’.

    Luís não fala de reação, mas deixa claro que o crime foi premeditado, que Mayara foi morta com golpes de martelos na cabeça e por estrangulamento. Afirma a todo momento que não tinha a intenção de matar a musicista, mas que ‘Cachorrão’ levou a arma usada e que ajudou com o corpo.

    A dupla então teria ido para a casa de Anderson, vizinho de frente de Ronaldo, lá eles deixaram Mayara enquanto Luís voltava até sua casa, deixava os objetos da vítima e pegava uma pá. Juntos, os três autores foram para o inferninho, com a intensão de carbonizar e enterrar a mulher, mas desistiram do último passo porque o terreno ‘tinha muita lama’.

    Mais uma vez, Luís afirmou à polícia que a ideia das mensagens incriminando o ex de Mayara partiu dos comparas, ‘para atrapalhar as investigações’. Ele obedeceu e depois se livrou o celular, o jogando em um terreno abandonado perto de sua casa. Os outros dois negam participação.

    Anderson negou que o corpo ficou em sua casa, afirmou que o único negócio com o rapaz era a troca do carro da musicista por outro Gol, esse de modelo 1984. Ele afirmou que ficou com o veículo da vítima antes de cumprir sua parte do acordo. Foi com o Gol modelo 1992 que o suspeito foi preso, além de um home theater, comprado com R$ 1 mil roubados da vítima.

    Ronaldo, o ‘Cachorrão’, afirmou que só falaria em juízo, mas para a imprensa alegou que Luís teria oferecido o carro para ele por R$ 1 mil. “Eu já vi ele com a vítima e até falei que não queria comprar. Não sou cagueta, mas quem matou foi o Luís. Ele agiu de má-fé comigo”, disse.

    A polícia ainda espera exames para saber que Mayara foi estupra pelos suspeitos, hipótese que segundo a polícia, não pode ser descartada. O caso é tratado como latrocínio – roubo seguido de morte – e é investigado pela Defurv (Delegacia Especializada de Furtos e Roubos de Veículos).

    'Nós por Nós'

    O caso ganhou repercussão nacional e da revolta pela morte brutal nasceu um ato contra a violência contra a mulher organizado por amigos, familiares e integrantes de movimentos que defendem os direitos das mulheres em Campo Grande e também em São Paulo, no mesmo dia e horário. Intitulado “Nós por Nós — ato contra o feminicídio e em memória de Mayara” é divulgado, principalmente, no Facebook e vaia acontecer na sexta-feira (4), às 17h (horário de Brasília).

    Em Campo Grande a convocação conta com uma marcha que sairá da praça Ary Coelho e vai até a Orla Ferroviária. Já em São Paulo, o movimento deve discutir a forma que a imprensa trata um corpo feminino em um caso de brutal violência.

    Fonte: Midiamax
    Por: Geisy Garnes


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