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    09/05/2017

    ARTIGO| A confissão de Moro

    Por: Édson Moraes*
    Antes de qualquer pré-concepção esclareço, informo e reitero: sou total, absoluta e definitivamente favorável à Lava Jato e quaisquer outras operações de combate à corrupção e de punição aos corruptos, seja quem for o alvo, do meu irmão ao meu desafeto ideológico, do que me afaga ao que me apedreja.

    Só não posso e não serei subscritor do comportamento cada vez mais rasteiro e malandro do juiz Sérgio Moro, que amanhã, cedo ou tarde, se verá desmascarado em sua falsa isenção. 

    Ao usar as redes sociais para fazer um apelo em "defesa da ordem" e para que não haja tumultos, o magistrado se dirige especificamente às pessoas que são favoráveis à Lava Jato. Com isso, sentencia que as "outras" pessoas que forem a Curitiba no dia 10 são contrária à Lava Jato. 

    Ora, "seu" juiz, és magistrado ou és um arremedo do que pensas que fazem os incautos crerem que seja?

    Eu sou favorável à Lava Jato e sinto-me desconvidado, de própria lavra, a viajar até Curitiba. Primeiro, porque trata-se de um procedimento rotineiro - ou deveria ser. Segundo, porque Lula é pessoa como qualquer outra, não está acima da lei, precisa responder às acusações que recebeu e o rito judicial tem que ser cumprido.

    Porém, o "apelo" que sua conveniência ditou, "seu" juiz, expõe a falta de cuidados com a própria postura, revela o desejo incontido do pré-julgamento. Não seria mais correto ou digno a um magistrado fazer tal apelo dirigindo-se a todas as partes eventualmente opostas em relação á oitiva de Lula? Não seria mais adequado e honroso deixar no escaninho de interesses inconfessáveis a expressão"favoráveis à Lava Jato" e substitui-la por "favoráveis e/ou contrárias" ao processo de julgamento do ex-presidente?

    Temo que as sucessivas pesquisas de opinião publica estejam pressionando os miolos de quem precisa julgar de cabeça fresca, tranquila, blindada contra as paixões e as pressões episódicas e circunstanciais da grande mídia. Talvez as pesquisas que consagram um homem que é réu em cinco processos tenham sido feitas apenas no Nordeste ou nos bolsões de miserabilidade, cenários onde a Justiça brasileira justifica porque é simbolizada na imagem da deusa cega, de olhos vendados.

    Desejo, "seu" juiz, que o senhor consiga levar a cabo o propósito de apurar, combater e julgar e que Lula e todos os demais acusados recebam a sentença pertinente. Se for comprovada sua responsabilidade efetiva, que sofra as sanções previstas em lei. 

    Mas enquanto as instruções estiverem em curso, eu que nada entendo de magistratura ou de liturgia judicial e jurídica sei que antecipar julgamentos e pré-conceber dolos e culpas tem nada a ver com responsabilidade, isenção, lisura e imparcialidade, atributos essenciais a quem verdadeiramente tem compromisso com o nobre exercício da magistratura.

    Em vez de apelar aos "seus", aqueles que são favoráveis à "sua" lava jato, atrevo-me a aconselhar, aqui da ignara periferia intelectual, política e social: porque não apela à sua própria inteligência? Quem sabe extraia dela uma condição que se chama consciência. E utilize-a. Porque todos os julgadores também são imputáveis.
    Desculpe, "seu" juiz!

    *Jornalista
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