CAMPO GRANDE (MS),

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    19/12/2016

    OPINIÃO| A República da Propinocracia

    Exemplo de desonestidade política, o presidente do Senado, Renan Calheiros, recentemente foi denunciado por pelo Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro

    A grade maioria dos problemas e das adversidades coisas no Brasil de hoje tem não apenas suas raízes na política, como suas causas e consequências. O fato de sermos governados por coalizões de indivíduos obtusos, ensimesmados, deploráveis e de moral duvidosa não apenas corrói o nosso país de diversas formas e maneiras, mas vem dilacerando a cada dia as possibilidades de um Brasil viável, possível e relativamente decente. E são tantas coisas erradas que ocorrem hoje em nosso país, que consertá-lo é não apenas uma tarefa difícil, como impossível, e diante do atual quadro de falência moral, social e econômica, ser otimista é não apenas irrealista, como fantasioso.

    Nosso país está agrilhoado a uma classe política que se acostumou com o poder absoluto e com tudo aquilo que o acompanha, principalmente recursos financeiros infindáveis e abundantes, e, evidentemente, ela não quer abrir mão disso. E as possibilidades de corrupção, tráfico de influência e lavagem de dinheiro que o poder público pode realizar em parceria com a iniciativa privada – acima de tudo, com grandes empresas e megacorporações – demonstra a fragilidade de um sistema combalido, que resiste em reconhecer a sua própria ruína, mesmo sua falibilidade tendo se tornado tão evidente, especialmente nos últimos dois anos, com a progressiva intensificação da recessão econômica.
    As decisões do STF - muitas delas corroboradas pelo ministro Ricardo Lewandowski - ajudaram a minar a credibilidade da instituição perante o povo brasileiro

    No decorrer de todo este processo, o papel do político brasileiro tornou-se cada vez mais insignificante: como um indivíduo que pensa única e exclusivamente em si mesmo, aumentar constantemente o seu próprio salário – ignorando completamente a recessão pela qual o país está passando –, e cercar-se de advogados para defender-se dos crimes de corrupção ativa e passiva do qual é acusado não apenas demonstram a irrelevância e a completa e total insignificância do estado de direito, mas fortalecem o paradigma fundamental de que, na República Federativa da Corrupção, da Extorsão e da Permissividade, o dinheiro manda e a influência possibilita. No Brasil, suborno e propina estão acima da constituição, e de todo e qualquer direito. Na desmesurada busca por poder e influência, tudo o que os gestores públicos brasileiros buscam é uma maneira de esquivar-se da lei, se perpetuar no cargo, e adquirir ainda mais influência, tudo em nome do dinheiro. O eixo central de tudo aquilo que eles fazem diariamente. 

    Ao longo de todo este processo, o político não apenas revelou sua irrelevância na vida do brasileiro comum, e por extensão, sua incapacidade de representá-lo, mas sua falta de interesse em agir de forma idônea, íntegra e honesta deixou de ser uma repreensível forma de conduta imoral para torna-se uma grave e dispendiosa doença incurável. Além de ser o grande responsável por tudo o que falta na vida do brasileiro hoje, ele é a causa de praticamente todos os males que infestam a sociedade.

    Diante de tal revelação, fica a pergunta: existe alguma possível resolução, para o parasita que o político revelou ser, sobre toda a sociedade brasileira? 

    Indefectivelmente, não será mantendo-os no poder que a situação do país irá mudar. No reino da propinocracia, o dinheiro, os interesses e a influência continuarão sendo os alicerces funcionais da política nacional. A restauração do país, em termos sociais e econômicos – que deveria vir acompanhada por um desenvolvimento factual da nação, que não acontecerá – não apenas não depende de nossos gestores públicos, como será impreterivelmente boicotada por todos eles. Tudo o que o político brasileiro quer, sem dúvida nenhuma, é que as coisas fiquem exatamente como estão. Eles não estão interessados em nenhuma mudança no status quo, ou qualquer coisa que ameace as suas posições no poder. 

    Enquanto isso, como fica o cidadão brasileiro? Aquele que é o pagador dos impostos que sustentam toda a classe política, que o dilacera e o escraviza? Ele fica desempregado, arruinado e destituído de possibilidades. E absolutamente político nenhum se importa com isso.

    O futuro do brasileiro, além de estar em risco, é progressivamente ameaçado em função da letargia e da apatia da classe política. Como indivíduos que não têm capacidade nenhuma de serem úteis ou produtivos, os políticos brasileiros mantém a nação agrilhoada a um patamar de escravidão, burocracia, escassez e pobreza, ao passo que se isentam totalmente de reconhecer estes problemas, as suas causas, e a necessidade de repará-los. Pensando única e exclusivamente em si mesmo, o político brasileiro se restringe ao seu papel de parasita financeiro e social da nação.

    Com a revelação de novos escândalos de corrupção a cada dia – tanto que não nos impressionamos mais – a classe política brasileira demonstra, de todas as formas e maneiras possíveis, que o dinheiro é a sua prioridade, e o poder, uma maneira de consegui-lo. A total falta de consideração pela população, em todos os sentidos, é tão corriqueira quanto evidente. O político brasileiro existe para espoliar, destruir, arrancar e exterminar. E apropriar-se dos recursos financeiros da iniciativa privada, através de um infindável fluxo de torrenciais e exorbitantes impostos, mesmo que esta já não possua absolutamente recurso financeiro algum para pagar o que dela é indevidamente cobrado, por encontrar-se demasiadamente falida, destroçada, vulnerável e tentando sobreviver em meio à escassez criada e perpetuada pela incompetência governamental. 

    Este problemático quadro de falência cívica, financeira e moral não apenas dilui as possibilidades de uma existência relativamente plausível em nosso país, mas perpetua a intransigência de uma classe política cínica, corrupta, espúria, pérfida, egocêntrica, ensimesmada, abastada, elitizada e maligna, que vive completamente alienada – e indiferente – das reais circunstâncias e condições que afligem a população. Quando teremos um governo do povo, pelo povo e para o povo? Provavelmente nunca. Até hoje, este conceito têm sido uma utopia, e muito em breve o cidadão brasileiro terá que pagar um novo imposto, pelo direito de sonhar com ela. 

    Não é segredo para nenhum de nós que, na República da Propinocracia, o dinheiro, o suborno e o tráfico de influência são os verdadeiros governantes do país. Enquanto as autoridades governamentais fingem que está tudo bem, a dilaceração toma conta da nação, a progressiva dissolução da economia perpetua e intensifica a pobreza, e a destruição da dignidade humana torna-se uma evidência brutal no processo de deterioração pela qual a sociedade brasileira passa. Em todo este processo, no entanto, os políticos ficam cada vez mais ricos. O impostômetro continua contabilizando os incomensuráveis tributos que o cidadão brasileiro é obrigado a pagar para sustentar a classe política, e, em meio à reverberação do desgaste de uma sociedade cada vez mais falida, ecoa a certeza de que absolutamente nada irá mudar. Ao menos, não para melhor. 


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