CAMPO GRANDE (MS),

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    12/12/2016

    ARTIGO| Por que os políticos brasileiros são tão burros?

    Entenda porque nossos gestores públicos são tão medíocres e porque continuam sendo eleitos.

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    A princípio, pode parecer difícil, mas na verdade é perfeitamente possível explicar e compreender porque os políticos brasileiros são tão incompetentes, obtusos, relapsos e ineficientes. Governar um país, um estado ou um município é uma tarefa de incomensurável responsabilidade. Infelizmente, cometemos o terrível erro de delegar a enorme e expressiva responsabilidade da gestão pública para homens de incomensurável mediocridade. E sempre que indivíduos medíocres estiverem à frente de tarefas, deveres ou responsabilidades de substancial relevância, e evidentemente acima de suas capacidades, os resultados, evidentemente, serão deploráveis. E quem sofre as consequências é sempre a população. 

    O problema não é só a mediocridade em si, mas também a burrice – sim, burrice, em elevadíssima escala – associadas a uma série de outros fatores tão prejudiciais quanto, mas inerentemente intrínsecos a estes deploráveis predicados: letargia, indolência, ineficiência, comodidade e má vontade. A verdade que muitos brasileiros não querem ou não conseguem enxergar é que o político é um indivíduo limitado e comum, um reles mortal ordinário e simplório, sem nada de especial, que quer para si apenas o conforto de um cargo público muito bem remunerado, que possa lhe garantir uma vida de luxo, riquezas e ostentação, sem ter que fazer para isso nenhum real esforço ou sacrifício. É a maneira que muitos encontram de “vencer na vida”, sem ter que de fato trabalhar. Mas por que votamos neles?

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    Em época de eleições – o único período no qual estes indivíduos se prestam a fazer alguma coisa –, os candidatos usam de toda a sua argúcia, astúcia e temperança para conquistar o seu eleitorado. Dessa forma, dão um jeito de demonstrar carisma, uma “real” e “sincera” preocupação pelas pessoas, e fazem todo o tipo de promessas, a fim de conquistar o seu objetivo: consolidar um eleitorado que legitime a sua ocupação de um cargo público, que lhe exigirá pouco, e lhe renderá muito financeiramente.

    Em sua grande maioria, os brasileiros não entendem que políticos e candidatos a cargos públicos simplesmente falam às pessoas aquilo que elas querem ouvir. Como a grande maioria das pessoas, infelizmente, deixa a desejar na questão do discernimento, suas percepções não vão além das aparências. E elas acabam assimilando como sinceros um monte de discursos vazios. De uma forma ou de outra, toda a propaganda partidária – o sorriso do candidato, aquela foto na qual ele aparece abraçado com sua esposa e seus filhos, utilizada com o intuito de comunicar ao público a segurança de sua imagem “responsável”, “tradicional” e “familiar”, aquela gravação na qual ele aparece hasteando a bandeira do Brasil ou do estado, e por fim aquela outra foto na qual ele aparece com o sobrinho do vizinho do motorista do Jânio Quadros, o que atesta a “legitimidade” de sua “vocação” política – acaba surtindo efeito, justamente por encontrar um público que se deixa ludibriar por ela. Depois de muito trabalho – trabalho, na verdade, executado em sua grande maioria pelos seus assessores e simpatizantes –, o prospectivo candidato consegue o seu eleitorado. Tudo isso é consequência de muito trabalho publicitário, discursos bem escritos e eficiência em esculpir uma impecável imagem social para o candidato, que muitas vezes nem sequer é condizente com sua real personalidade. Aproveitando o fato de que os seres humanos são facilmente ludibriados, e não enxergam as coisas como elas são, mas apenas aquilo que querem ver, os candidatos utilizam a política como a impecável arte da manipulação da consciência social. Os fracos, os obtusos e os de pouco discernimento são levados a crer que o seu candidato ou o seu partido são a real solução para todos os seus problemas. Essencialmente, a política, sendo a arte da confecção de ilusões, faz uso de uma inflamada retórica como método para conquistar ingênuos. Indivíduos que tem o mínimo de inteligência e discernimento têm plena consciência de que político algum terá qualquer genuína preocupação pela população. 

    Isso explica, em parte, porque a grande maioria dos políticos dirige suas campanhas especialmente aos pobres, que são vítimas da precariedade, da negligência estatal, e de toda a sorte de privações. Aproveitam-se das inúmeras carências que sofrem, do fato de terem pouco acesso a estudo e esclarecimento – com escassos recursos financeiros para a sobrevivência, evidentemente, não terão como gastar com educação ou livros –, da exasperação e da extenuação resultantes do esforço, do sacrifício e das árduas jornadas de trabalho que muitas vezes enfrentam, para conseguir pagar as contas no final do mês. Desta maneira, o candidato explora estas condições a seu favor para propagar um manancial de ilusões, que vendem a indivíduos de classes miseráveis a mentira de que suas vidas mudarão completamente, se elegerem ele, o fulano de tal, nas próximas eleições, como o seu candidato, que lutará pelos interesses de sua comunidade, e vai atender a todas as suas carências, eliminando-as, uma por uma. Pessoas que passam privações, ou que sobrevivem no limiar da miséria, já são o resultado da negligência da atual gestão, e das anteriores. Então, o candidato, com toda a “simpatia” e “solidariedade” de sua “resplandecente personalidade benemérita”, transbordando de “amor ao próximo”, promete que, na sua gestão, a comunidade será ouvida, e suas carências serão supridas. E muitas vezes, sem melhores perspectivas, que outra opção tem estes indivíduos, a não ser votar neste candidato, que foi o único a ir até o seu distante bairro periférico, prometendo mundos e fundos, abraçando-o, pegando o seu filho no colo e beijando-o, e afinal, vendendo uma imagem de candidato com “consciência social profunda”? 

    Não que as outras classes sociais não sejam politizadas, ou que não se envolvam com política. Não obstante, o discurso do candidato sempre irá mudar, para se adequar a públicos específicos. Para empresários, eles prometem lutar pela redução dos impostos. Para estudantes, prometem ampliar programas governamentais para a concessão de bolsas de estudo. Para as famílias, prometem policiamento ostensivo, e segurança nas ruas. E ilusões vão sendo amplamente difundidas, arrecadando eleitores, a fim de legitimar um cargo público para o candidato. E como é da natureza humana ser enganado pelas aparências, e ver apenas aquilo que é conveniente, a grande maioria das pessoas não se dá o trabalho de questionar o que há por trás, quem é de fato o tal candidato, e como ele vai agir, quando assumir o cargo. A maioria dos candidatos, depois que são eleitos, simplesmente ficam enfurnados em seus gabinetes, e esquecem que os eleitores existem. 

    A política é a arte de saciar expectativas. Políticos entregam à população as ilusões pelas quais seus corações mais anseiam, e tudo o que falam é meticulosamente calculado para atender a essas mesmas expectativas. O melhor exemplo da política como a arte de propagar ilusões está na Alemanha nazista. Muitas pessoas hoje questionam como uma nação de europeus esclarecidos como os alemães sucumbiram aos atrativos do nazismo. Se você compreende no que de fato consiste o real espírito da política – criar e perpetuar ilusões – juntamente com o contexto histórico, isso fica bastante evidente. Uma das especialidades do partido nazista era disseminar ilusões, e foi exatamente isso o que o partido nazista fez na Alemanha dos anos 1930. Comícios em pavilhões gigantescos, espetáculos visuais suntuosos e muito bem elaborados, discursos fervorosos, consistentes, apelativos, que atendiam às mais pertinentes súplicas do espírito germânico, deixavam a população em estado de total êxtase e deslumbramento. Em toda a sua argúcia e temperança, Adolf Hitler falava ao povo alemão exatamente aquilo que ele estava desesperado para ouvir. Uma nação que enfrentava a mais turbulenta e corrosiva decadência de sua história, pagando o preço da derrota da Primeira Guerra Mundial – suportando privações, desemprego em escala descomunal e índices inflacionários sem precedentes [era mais fácil queimar dinheiro do que comprar lenha] – estava desesperada por uma saída. As pessoas queriam emprego, queriam segurança – algo que as constantes e agressivas contendas urbanas entre comunistas e membros da SA, uma organização paramilitar inicialmente filiada ao partido nazista, não tornava possível –, queriam ordem social, queriam comida na mesa, queriam paz. E estavam no seu direito, afinal, quem não quer ter as suas necessidades básicas supridas? Então, de repente, milagrosamente, o líder inconteste do que inicialmente era um pequeno e insignificante partido da classe proletária faz discursos eloquentes, com uma impecável e contundente oratória, carregada de convicção e veemência, que trazia em toda a retórica de sua falaciosa e grosseira verborragia a solução para todos os males da nação. E deu certo. Adolf Hitler, e o partido nazista venderam ilusões. Falaram às pessoas exatamente aquilo que elas queriam ouvir, e as pessoas acreditaram. Se você conhece um pouco de história, não preciso dizer que o Terceiro Reich não deu muito certo. Foi o primeiro e único Reich da história humana de mil anos, que durou apenas doze. 

    Acontece que esta tática, apesar de ser muito antiga, continua funcionando. Serão poucas as pessoas em uma multidão que não irão se impressionar com uma oratória espirituosa, de entonação verbal enfática e professoral, pronunciada com clamor e entusiasmo, repleta de sentenças de valor familiar e patriótico, criadas com o objetivo de cativar o público, e mostrar porque o fulano que está proferindo o discurso é o melhor candidato que o país/ estado/ município já viu. Pessoas que não se impressionam facilmente tendem a questionar o conteúdo de tudo aquilo que está sendo dito. Quem escreveu esse discurso? Por quantas horas ele ficou declamando e decorando o texto em frente ao espelho? Quantas dessas frases no discurso são realmente dele, e não dos seus assessores, pessoas contratadas para desconstruírem a sua aparência, e darem ao candidato uma imagem pública amigável, no entanto inverossímil, que na grande maioria das vezes não é nem um pouco similar à pessoa real por trás do político?

    Infelizmente, 95% das pessoas são facilmente ludibriadas. Discursos lindos e uma retórica forte, que expressa convicção, enganam as pessoas com muita facilidade. O público não consegue chegar à conclusão de que na verdade não tem nem sequer a mais vaga noção de quem é aquela pessoa que está na tribuna discursando. Tudo o que elas veem é a faceta pública do indivíduo, e isso é tudo o que elas assimilam. Ora, se ele falou coisas tão bonitas, ele não pode ser uma pessoa ruim, não é mesmo? Aproveitando-se desta facilidade, nossos gestores públicos tornaram-se mestres na arte de criar e disseminar ilusões. Uma arte muito fácil de se desenvolver, em um país repleto de pessoas carentes, desesperadas, prejudicadas, enfermas e necessitadas. Por isso estamos onde estamos. A ingenuidade do brasileiro o leva a crer em seus gestores públicos, verdadeiros doutores na arte de iludir. 

    Mas, então, como deveríamos enxergá-los?

    Exatamente como aquilo que são. Meros mortais. Que não sabem de nada, que não entendem de absolutamente coisa alguma, em especial com relação à funcionalidade da esfera pública ou do setor privado – mas pensam que entendem – que não possuem elixires milagrosos, que suas palavras sempre serão maiores do que suas ações, que suas carreiras valem mais do que o seu eleitorado, e que estes indivíduos vivem em ambientes que priorizam trocas de favores, e não o bem-estar das pessoas. Ronald Reagan, presidente dos Estados Unidos de 1981 a 1989, certa vez disse ao povo americano para terem paciência com servidores públicos, pois na política não existem pessoas inteligentes. Se existissem, elas seriam absorvidas pela iniciativa privada. Alguém discorda dele? 

    Infelizmente, vivemos em um sistema político que impreterivelmente atrai os indivíduos mais desqualificados e despreparados para cargos públicos, o que é tão deplorável quanto lamentável, e perpetua este estado de caos no qual o Brasil se encontra. Como o funcionalismo público – ao contrário da iniciativa privada – não cobra dos seus candidatos talentos, qualificações, habilidades ou produtividade, ele acaba invariavelmente tornando-se uma alternativa viável, na verdade, uma das mais fáceis, para indivíduos completamente desprovidos de aptidão ganharem a vida. E usufruindo de uma elevada remuneração, tendo que fazer muito pouco, ou em muitos casos, praticamente nada. A não ser que consideremos como profissão ficar sentado o dia inteiro em uma repartição pública tomando café. Evidentemente, não devemos generalizar. Existem boas e honrosas exceções. Não obstante, continuo defendendo reformas que fariam do Brasil um país mais habitável para nós, a população, sempre tão menosprezada e negligenciada, como a redução do estado, da máquina pública, e do número de partidos, bem como a extinção do carreirismo político, que prejudica o país ao possibilitar e perpetuar a disfuncional existência do político profissional, que é um dispendioso parasita estatal, e um desperdício de dinheiro do contribuinte. Um político deveria possuir um salário de R$ 400,00, no máximo, com bonificações para eficiência, mas com ganhos financeiros mensais que jamais excedessem o valor de R$ 2.200,00. E sem possibilidade de reeleição, pois este é um artifício político que facilita e perpetua a corrupção. Se um político não teve competência para desenvolver um determinado projeto durante a sua gestão, que dê lugar a alguém mais competente. Princípios desta natureza seriam a melhor maneira de fazer os gestores públicos servirem a população, ao invés de serem servidos por ela. A corrupção, por sua vez, deveria ser punida com o ostracismo, o completo e total banimento da vida pública, sem perdão e sem a possibilidade do transgressor algum dia vir a exercer um cargo público. E político que não ficasse satisfeito com este arranjo governamental, que procurasse outro emprego. Esse é o eixo de um alicerce social que possibilitaria o desenvolvimento de nosso país, onde a população governa a população, para a população e pela população. Então, meus caros conterrâneos da República Federativa do Brasil: quando vamos tomar o país que os políticos tiraram de nós? 



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