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    19/11/2016

    ENTREVISTA| Geddel reconhece que tratou de projeto com Calero, mas nega pressão

    O ministro da secretaria de Governo de Michel Temer, Geddel Vieira Lima - Pedro Ladeira/Folhapress 

    O ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, reconhece que tratou com o ex-ministro Marcelo Calero sobre um projeto imobiliário na Bahia, mas nega que o tenha pressionado a produzir um parecer técnico para liberar o empreendimento.

    Em entrevista à Folha, Geddel confirma que, no ano passado, fez uma promessa de compra e venda de uma unidade no condomínio e afirma que, justamente por ter conhecimento do impasse imobiliário, tinha legitimidade para levar a questão ao então ministro da Cultura.

    "Eu fiz a ele uma ponderação, trazendo uma informação que esse era um empreendimento que já havia sido licenciado e que era um assunto que, em função de disputas empresariais e locais, estava na Justiça", disse.

    Calero acusa o ministro de tê-lo pressionado a produzir um parecer técnico para favorecer seus interesses pessoais.

    Geddel disse que falou com o presidente Michel Temer na manhã deste sábado (19) e que ele o orientou a esclarecer a questão. "Ele manifestou seu respeito, carinho e apoio à nossa posição", disse.

    O senhor pressionou o ex-ministro Marcelo Calero para que fosse autorizada a realização da obra?

    Eu lamento profundamente a manifestação do ministro Marcelo Calero, com quem sempre tive uma relação tranquila e serena. E nunca tive com ele nenhum desentendimento, nenhum bate-boca e nenhum mal-estar. Eu repilo energicamente a palavra pressão ou algo que pudesse ser tomado como uma posição ilegítima.

    Eu tratei com ele do tema, com a transparência que o tema exigia, fazendo ponderações de um assunto que está judicializado. Em nenhum momento houve pressão. E a maior demonstração disso, e que torna a questão dele ainda mais incompreensível, é que a posição final que prevaleceu foi a dele. E, ainda, assim ele pede demissão? É uma contradição brutal que não explica posição dele?

    O senhor, então, desistiu de defender uma mudança no parecer do Iphan?

    Eu nunca tratei com ele de relatório. Eu fiz a ele uma ponderação, trazendo uma informação que esse era um empreendimento que já havia sido licenciado em 2014 por órgãos municipais e estadual e pelo próprio Iphan, órgão federal. E que era um assunto que, em função de disputas empresariais e locais, estava na Justiça. Então, que ele acompanhasse, talvez não coubesse uma nova manifestação do Iphan até a Justiça se manifestar para que isso não significasse insegurança jurídica e o embargo do empreendimento, e, portanto, desemprego.

    E que não prejudicasse aqueles que investiram seus recursos no imóvel. Foi essa ponderação que fiz. E tanto foi essa que a posição que o fim e ao cabo prevaleceu foi a dele, eles embargaram o empreendimento. Eu nunca tratei desse tema com a anterior ou com a atual presidente da Iphan e não tive o privilégio de conhecer nenhuma das duas. Foi um assunto com um colega ministro e me estranha sobremaneira a posição de Marcelo Calero.

    O que o senhor acredita que o motivou a fazer a acusação?

    Não tenho a menor ideia, não é a primeira vez que um ministro sai do governo federal por uma razão que não fica muito clara e sai atirando no companheiro. Eu me lembro do ex-ministro Fábio Medina [Advocacia-Geral da União], que foi para cima do ministro Eliseu Padilha [Casa Civil] e acabou não acontecendo nada.

    Afinal de contas, qual é a irregularidade? Não entendi até agora. Ele está se queixando do quê? De um assunto ser tratado internamente, um assunto com clareza e com transparência, que foi falado por telefonema. Porque, diferentemente da preocupação que ele manifestou, eu trato os assuntos pelo telefone, esteja ou não grampeado posso falar publicamente, não tem nenhum problema.

    Calero disse que o senhor tinha interesse pessoal no empreendimento, porque o senhor comprou um apartamento. O senhor comprou o imóvel?

    Em 2015, eu fiz uma promessa de compra e venda de uma unidade que estava lançada, sem nenhum problema, com todas as licenças colocadas e que vários outros adquiriram uma unidade de apartamento. O que não me tira, me dá legitimidade para levar a ele um problema por conhecer o que estava ocorrendo, estar preocupado, como todo cidadão fica preocupado em uma situação dessa.

    O que fica muito distante de pressão indevida. Tanto que o que prevaleceu foi a posição dele. Então, qual foi a pressão que houve? Se a posição dele prevaleceu contra a posição do que ele chama de um poderoso integrante do governo? Pelo contrário, ele foi prestigiado. Eu, em nenhum momento, o pressionei, assim como não tomei como pressão as diversas vezes em que ele pediu que se evitasse a CPI da Lei Rouanet ou que ele depusesse nela.

    Como relatou Calero, o senhor ameaçou pedir a o cargo da presidente do Iphan?

    Não, isso é uma inverdade. Eu nunca estive com a presidente e nunca falei com ela pelo telefone sobre nenhum tema. E muito menos como ele disse que levaria o assunto ao presidente Michel Temer, isso é uma inverdade. Nunca tratei com o presidente sobre esse assunto. É uma inverdade absoluta.

    Não entendo qual a posição do Calero, da mesma forma quando ele insinua que a licença, e ele mente peremptoriamente, teria sido concedida por alguém indicado por mim no Iphan. Eu não indiquei ninguém ao Iphan e não tenho indicação no Iphan. E essa licença do Ipahn é datada de 2014.

    O senhor falou com o presidente Michel Temer sobre a denúncia feito pelo ex-ministro?

    Hoje pela manhã. O presidente tinha lido a entrevista, ficou também sem entender as razões, até porque o Calero não colocou essas razões para ele e se especulou o que tinha havido. O presidente chegou a fazer um apelo para que ele permanecesse na função. E orientou que eu procurasse responder com a tranquilidade que eu estou respondendo, com a verdade. Manifestou seu respeito, carinho e apoio à nossa posição.

    O presidente manifestou alguma posição sobre a sua permanência no cargo?

    Eu conheço o presidente há 25 anos. Eu não preciso que ele manifeste confiança para saber até quando ele confia em mim.


    Fonte: Folha de S.Paulo
    Por: GUSTAVO URIBE DE BRASÍLIA
    Link original: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/11/1833732-geddel-reconhece-que-tratou-de-projeto-com-calero-mas-nega-pressao.shtml



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