CAMPO GRANDE (MS),

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    16/08/2015

    A Infame e Macabra História de Peter Sutcliffe, o Notório Estripador de Yorkshire

    Depois de 40 anos, britânicos recusam-se a esquecer o brutal rompante de violência do assassino serial  
    Peter Sutcliffe

    Peter Sutcliffe, mais conhecido pela tenebrosa, mas merecida alcunha de “Estripador de Yorkshire”, foi um notório assassino em série, ativo entre 1975 e 1980, responsável pelo homicídio de, no mínimo, 13 mulheres, que em sua maioria, ganhavam a vida como prostitutas. Nascido na pequena cidade de Bingley, no condado metropolitano de West Yorkshire, na Inglaterra, a 2 de junho de 1946, em uma família de católicos proletários, Peter William Sutcliffe desde muito cedo não demonstrou quaisquer aptidões especiais, ou ambições sérias com relação a vida, embora também não exibisse comportamentos bizarros ou anormais. Em sua juventude, era conhecido por ser um solitário e um desajustado social, e trabalhava aonde lhe ofereciam empregos, tendo exercido funções tão diversas como coveiro, motorista e auxiliar em linhas de produção industrial. Tendo se casado com uma mulher de descendência tcheca e ucraniana em 1974, suas tentativas de levar uma vida normal e constituir família foram profundamente afetadas, quando sua mulher sofreu o que pareceram ser diversos abortos espontâneos, em um relativamente curto período de tempo, e exames médicos posteriores confirmaram que ela não poderia ter filhos. Dois anos depois de cometer o que seria o seu primeiro homicídio, Sutcliffe e sua mulher compraram uma casa na diminuta e pacata comunidade de Heaton, onde ele moraria, até ser preso. 

    A primeira vítima fatal de Sutcliffe foi Wilma McCann, de 28 anos, embora ele houvesse atacado, de forma brutal, no mínimo três mulheres antes dela, sem, no entanto, conseguir mata-las. Uma enorme força-tarefa policial foi incumbida de resolver o caso e prender o assassino, mas, desde o princípio, as investigações mostraram-se infrutíferas e inconclusivas. 

    Peter Sutcliffe

    Sutcliffe atacou novamente em janeiro do ano seguinte, fazendo, desta vez, como vítima, uma mulher de 42 anos, chamada Emily Jackson. Desferindo um ataque particularmente brutal, executado com os mais hediondos requintes de crueldade, Sutcliffe matou sua segunda vítima com mais de cinquenta facadas. A partir daí, se iniciaria aquela que viria a ser uma das maiores e mais intensas buscas por um assassino serial na história da Grã-Bretanha, que ganharia, primeiramente, a atenção da imprensa doméstica, para ficar, logo depois, debaixo do escrutínio da mídia internacional. 

    O eventual despreparo, bem como a elementar ineficácia da polícia em lidar com um caso de tamanha repercussão e magnitude logo ficaram evidentes pelo enorme volume de trabalho a que se viram sujeitos, proporcional a uma completa e total falta de resultados. Conforme os anos passavam, e corpos continuavam a aparecer, a ausência de suspeitos plausíveis e resultados concretos chamou a atenção dos meios de comunicação, e depois, das próprias autoridades nacionais, que trataram de elaborar um inquérito oficial da investigação, que salientou a incompetência, a inaptidão e o despreparo da polícia, ao lidar com o caso. O fato de Sutcliffe ter sido capturado, em 1981, por mero acidente, por uma infração não relacionada, não ajudou em nada a credibilidade da polícia. Ter sido interrogado pelas autoridades policiais quase uma dezena de vezes antes de sua captura contribuiu ainda mais para que duras críticas fossem proferidas contra os oficiais envolvidos, o procedimento das investigações, e o modo como foram conduzidas. 

    Como muitos afirmaram, em retaliação às duras críticas feitas à polícia e aos investigadores, haviam atenuantes a serem levados em consideração. Testes de DNA ainda não estavam disponíveis, na época, assim como a tecnologia digital e computadorizada, de maneira que todos os registros criminais eram manuais, o que tornava difícil para os investigadores armazenar, selecionar, avaliar e manipular adequadamente um sistema ainda tão rudimentar. Em determinado momento, com a intensa proliferação de relatórios, registros, laudos e arquivos criminais, que não paravam de aumentar, toneladas de papéis literalmente passaram a se acumular nos quartéis-generais da polícia, de maneira que o piso do estabelecimento teve que ser reforçado, para sustentar as toneladas de papéis que se avolumavam diariamente no recinto, com o decorrer das investigações. Outro fator que depôs contra a eficácia da polícia foi o fato de serem obrigados a seguir aproximadamente dez mil pistas relacionadas ao caso, fornecidas pelo público, e que mostrariam ser, em sua grande maioria, falsas, ou de procedência duvidosa. 

    Depois de cinco anos de exaustivas e extenuantes investigações, e de mais de uma dezena de vítimas brutalizadas e torturadas de formas sádicas e hediondas, Sutcliffe finalmente foi preso, no dia 2 de janeiro de 1981, por um incidente não relacionado. Sutcliffe foi surpreendido pela polícia ao dirigir um veículo, cujas placas tinham um número falso. Ao conduzirem-no até a delegacia para inquérito, eventualmente, a polícia tomou a decisão de interroga-lo sobre os crimes daquele que a mídia havia rotulado como sendo o “Estripador de Yorkshire”. Por esta época, a polícia já tinha diversas e comprometedoras evidências circunstanciais que o ligavam aos crimes. Aquela, no entanto, estava longe de ser a primeira vez que Sutcliffe havia se posicionado no radar da polícia, com relação aos assassinatos. Depois de ter sido interrogado por oficiais em, no mínimo, nove ocasiões anteriores, Sutcliffe, naquele momento, e sem razão aparente, em 4 de janeiro de 1981, dois depois de ter sido preso, confessou ser o estripador. 

    O ódio visceral de Sutcliffe por prostitutas é, além de polêmico e controverso, virtualmente desconhecido, e já gerou um enorme número de debates entre criminologistas, psicólogos, analistas e estudiosos. Embora existam alegações de que seu ódio estivesse enraizado no profundo ressentimento que teria por uma prostituta que o teria extorquido, juntamente com seu cafetão, é aí que as opiniões divergem: enquanto muitos afirmam que Sutcliffe utilizava-se regularmente dos serviços de prostitutas, há os que afirmam que isso é produto de rumores gerados por sensacionalismo midiático, em função de que não existem indícios sólidos, factuais ou convincentes o suficiente para confirmar, de fato, que Sutcliffe era um cliente habitual de prostitutas. Existem evidências, no entanto, que confirmam que, durante sua adolescência, Sutcliffe teria desenvolvido tendências voyeurísticas, pois veio a ser de conhecimento comum que, durante sua juventude, Sutcliffe constantemente espionava prostitutas, bem como seus clientes, além de sentir um mórbido fascínio com relação ao tipo de homens que as procuravam. 

    “Matar prostitutas, para mim, tornou-se uma obsessão. Eu simplesmente não podia parar. Era como um vício. As mulheres que eu matava eram bastardas prostitutas imundas, que estavam impregnando as ruas com sua imundície. A meu ver, eu estava apenas ajudando a limpar um pouco o mundo.”  Peter Sutcliffe 

    No dia 16 de julho, completou cinco anos, desde que Sutcliffe emitiu uma apelação judicial para sair em liberdade condicional. A Suprema Corte de Justiça, depois de analisar a apelação, e levar diversos fatores em consideração, negou categoricamente o pedido. Sutcliffe afirmou que iria recorrer da decisão. 

    Atualmente atraindo a atenção da mídia por seu precário estado de saúde, Sutcliffe, entre outros problemas, vem sofrendo de insônia e diabetes, além de estar muito acima do peso. Recentemente, ao receber o diagnóstico de que provavelmente ficará cego, por sofrer de uma doença na retina, que é consequência do diabetes, Sutcliffe teria entrado em pânico. Aparentemente, teria recusado tratamento a laser, com receio do mesmo mostrar-se ineficaz, e vir a comprometer de vez o que ainda lhe resta da visão. Sutcliffe, que tem visão apenas no olho direito, ficou cego do olho esquerdo depois que, a quase duas décadas, teria sido vítima de um incidente, no qual um detento teria enfiado uma caneta em seu olho. Sutcliffe teria afirmado ficar aterrorizado com a possibilidade de não poder ver televisão, nem de ler livros. 

    Não obstante, tanto a justiça quanto o público parecem unânimes em querer ver Sutcliffe atrás das grades, pelo resto de seus dias. Na Inglaterra, leis rigorosas envolvendo a prisão perpétua regulamentam crimes e perfis específicos, que exigem, para categorias de crimes brutais e hediondos, que a sentença inteira seja cumprida. Em países sérios e desenvolvidos, como Inglaterra, criminosos ficam presos. Ao contrário do Brasil, por toda a Grã-Bretanha parece haver uma preocupação genuína das autoridades competentes em separar os cidadãos corretos dos nefastos, e em manter encarcerados predadores viscerais e potencialmente perigosos, mantendo-os atrás das grades, em caráter definitivo e permanente. 

    Sutcliffe, atualmente com 69 anos, deve se conformar com o fato de que morrerá na prisão, e jamais será um homem livre novamente. De qualquer maneira, é improvável que a sociedade inglesa venha a lamentar sua ausência. Para os britânicos, Sutcliffe é uma negra e hedionda mancha do passado, que deve permanecer exatamente onde está.


    Autor: Wágner Herzog - Currículo