O Caso Lillehammer refere-se a um dos maiores erros operacionais e logísticos cometidos pela Mossad, a agência secreta do governo israelense, que ocorreu em Lillehammer, Noruega, a 21 de julho de 1973, e que custou a vida do garçom marroquino Ahmed Bouchiki, quando este foi confundido por agentes da Mossad como sendo Ali Hassan Salameh, um dos líderes do grupo terrorista palestino conhecido como Setembro Negro, responsável por orquestrar e executar o terrível Massacre de Munique, que, ocorrido a 5 e 6 de setembro de 1972, durante as Olimpíadas, foi o responsável pelo assassinato de onze esportistas israelenses.
Como plano de retaliação, a Mossad elaborou a Operação Primavera da Juventude e a Operação Fúria de Deus, que tinha por objetivo localizar os responsáveis pela chacina, e executá-los sumariamente. Após um dos agentes confundir Bouchiki por Salameh, e outro dos agentes envolvidos receber permissão para executá-lo, Bouchiki foi assassinado com quatro tiros, enquanto ele e a esposa grávida retornavam de um cinema local.
Em questão de pouco tempo, dos quinze agentes da Mossad envolvidos na operação, seis foram presos pelas forças policiais norueguesas, que rapidamente desbaratou toda a logística operacional da missão, no que provou ser o maior e mais duro golpe sofrido pela Mossad em toda a sua história.
Como consequência, a Mossad se viu obrigada a alterar muitas de suas diretrizes, além de remanejar diversos agentes, e reestruturar sua cadeia de comando, bem como sua logística operacional, principalmente depois que o governo norueguês conseguiu obter acesso a informações confidenciais, que, ao que tudo indica, foram compartilhadas posteriormente com muitas outras agências secretas afiliadas.
Logo, descobriram que os agentes da Mossad entraram na Noruega utilizando passaportes canadenses, o que causou ainda mais ultraje e comoção, além de severos atritos políticos e diplomáticos, entre as nações envolvidas, que tornaram-se cada vez maiores após o incidente, que acabou revelando-se uma das maiores catástrofes operacionais da inteligência israelense.
Cinco dos seis agentes da Mossad capturados pela justiça norueguesa foram julgados, imputados culpados em diversas acusações, e acabaram recebendo sentenças variadas pelo crime cometido, mas, eventualmente, todos, até 1975, acabaram sendo extraditados para Israel.
Evidentemente, o grave erro operacional dos agentes israelenses ocorrido em território norueguês não alterou em nada os planos originais da Mossad, e a operação para localizar e executar Ali Hassan Salameh continuou em andamento.
Eventualmente, o paradeiro do militante palestino foi detectado, e, em janeiro de 1979, em Beirute, no Líbano, o distinto membro da Organização para a Liberação da Palestina encontrou um final fatídico, nas mãos da Mossad.
Como discrição e cautela, evidentemente, nunca estiveram entre as maiores qualidades da Mossad, Salameh - que não morreu imediatamente, mas horas depois, na mesa de operações de um hospital - foi o alvo de uma turbulenta e caótica explosão, que causou muitas outras fatalidades, matando quatro de seus guarda-costas, além de quatro transeuntes inocentes, e ferindo, no mínimo, mais dezesseis civis.
Além do governo israelense nunca ter se manifestado oficialmente, tampouco assumido a culpa pelo ocorrido, sobre o grave erro operacional que custou a vida de Ahmed Bouchiki, somente vinte e três anos depois, em 1996, pagaram à viúva de Bouchiki, e à sua filha, Malika - que cresceu sem o pai - uma indenização no valor de duzentos e oitenta e três mil dólares, além de cento e dezoito mil dólares pagos a um filho de Bouchiki, de um suposto casamento anterior. Se esse é o resultado da justiça israelense - que, ao que tudo indica, mata mais inocentes do que culpados - mais justiça estariam produzindo se tomassem a sábia decisão de não fazer justiça nenhuma.