Ex-presidente participou do lançamento de campanha para arrecadação.Rui Falcão disse que sigla precisa de meios alternativos de financiamento.
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O ex-presidente Lula participa de lançamento de campanha de arrecadação do PT, em Salvador (BA) (Foto: Maiana Belo/G1 BA) |
No segundo dia de atividades do Congresso Nacional do PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, em Salvador, sugeriu que o partido, a exemplo das igrejas católica e evangélica, passe a pedir "dízimo" a mitância petista para sustentar a estrutura da legenda. Acusado nas investigações da Operação Lava Jato de ter recebido propina de fornecedores da Petrobras, o PT vem discutindo, nos últimos meses, meios alternativos às doações de empresas para sustentar a legenda.
Em abril deste ano, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, anunciou, após reunião do diretório nacional da legenda, que o partido deixaria de receber doações de empresas privadas. À época, o dirigente petista ressalvou que, antes de implementar a decisão, teria de submetê-la ao congresso nacional da sigla, que está sendo realizado desde esta quinta (11) na capital baiana.
"Eu acho que é um instrumento poderoso o partido sair para a rua trabalhar. A gente aproveita e, na conversa, pede uma contribuiçãozinha", disse Lula no lançamento de uma campanha para incentivar arrecadações ao PT.
Em seguida, o ex-presidente afirmou que a sigla pode obter recursos financeiros por meio de dízimos, "da nossa querida igreja católica" ou de envelopes, "como na nossa querida igreja evangélica".
"O problema é que o partido tem que ter consciência que um verdadeiro militante do PT precisa ter a obrigação de dar pequena contribuição ao seu partido. Porque se ninguém dá, se deputados querem reduzir sua participação, se funcionários em cargo de comissão não querem dar, quem vai dar? Não vai ser nenhum tucano. Não será ninguém de outro partido político ou os coitados dos jornalistas que ganham pouco e estão sendo mandado embora em larga escala", declarou Lula aos militantes e dirigentes petistas.
No discurso no qual oficializou a campanha de arrecadação, o presidente do PT ressaltou aos dirigentes e militantes petistas que, diante da decisão de não receber doação de empresas, é necessário o partido encontrar meios alternativos de se financiar.
“Decidimos não receber recursos empresariais para financiar atividades do PT. Portanto, precisamos criar condições para financiar nossas ideias e nosso partido”, destacou Falcão.
O dirigente destacou que a campanha tentará obter doações até mesmo de quem não é filiado à sigla. “[A campanha de arrecadação] não é só para filiados e filiadas, mas para simpatizantes, amigos, amigas e todos aqueles que querem outra organização partidária e outro tipo de financiamento da política no país”, enfatizou.
Em seguida, o secretário nacional de finanças do PT, Márcio Macedo, apresentou aos militantes uma ferramenta de internet criada para receber as contribuições financeiras. O site permite transferências por meio de cartões de crédito.
Divisão interna
A proposta da cúpula petista de proibir que o PT receba doações de empresas dividiu internamente a legenda. Parte dos parlamentares petistas quer manter a possibilidade de receberem recursos da iniciativa privada para campanhas eleitorais.
Nesta quinta, na abertura do congresso nacional do partido, o líder do PT na Câmara, deputado Sibá Machado (AC), defendeu que o partido "não feche posição" sobre se deixará, de fato, de receber doações da iniciativa privada.
Ao defender a campanha de arrecadação nesta sexta, Lula lembrou que, em seus primeiros anos de atividade, o PT obtinha parte significativa de sua receita por meio de doações de militantes e também por meio da venda de produtos ligados ao partido, como camisetas, adesivos e botons.
O ex-presidente contou que ele mesmo vendia itens do PT para financiar suas campanhas eleitorais. "Eu e alguns companheiros que estão aqui, alguns da minha idade, alguns mais jovens, sabemos perfeitamente bem que a campanha de 82, que fizemos pelo país afora, cada comício que a gente fazia a gente tinha que vender camiseta. Hoje, não é nem permitido mais. A gente vendia estrelinha. Nada era dado de graça", lembrou.
O ex-presidente citou ainda que, nas eleições de 1989, na qual ele disputou pela primeira vez a Presidência da República, o partido vendia até mesmo os adesivos para colocar nos carros.
"Obviamente os tempos mudaram, mas acho que aquele tempo a gente fazia PT com mais intensidade do que a gente faz PT nos dias de hoje", afirmou.
Abertura do congresso
Nesta quinta-feira, na cerimônia de abertura do Congresso Nacional do PT, Lula disse, em seu discurso, que “o povo está dizendo” que é preciso combater de forma “implacável” a inflação, que causa resultado “nefasto” às pessoas que dependem de seus salários.
Depois, a presidente Dilma Rousseff defendeu as medidas de ajuste fiscal adotadas pelo governo federal.
Dilma também aproveitou seu discurso para defender a política econômica comandada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Segundo ela, o governo teve a "coragem" de fazer o ajuste, que ela qualificou como uma das "ações táticas".
"O PT é um partido preparado para entender que muitas vezes as circunstâncias impõem um movimento tático", declarou.
Do G1, em Brasília, e do G1 BA
Por: Laís Alegretti e Maiana Belo