CAMPO GRANDE (MS),

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    16/09/2014

    Preso major da PM que guardava R$ 287 mil em espécie em casa

    Mais de R$ 200 mil foram apreendidos - Foto: Divulgação / Secretaria de Segurança

    RIO - O major Edson Alexandre Pinto de Góes, subcomandante do Comando de Operações Especiais, se entregou esta manhã na 1ª DPJM, no Méier. Ele é acusado de integrar o esquema de corrupção na Polícia Militar desbaratado nesta segunda-feira na operação Amigos S.A. Em sua casa, a polícia apreendeu R$ 287 mil em espécie e joias. Ao todo, foram recolhidos R$ 320 mil na operação. Já o mototaxista Ricardo, que recolhia propinas para a quadrilha, foi preso na manhã desta terça em uma operação na Vila Aliança, na Zona Oeste.

    Integrante da cúpula da PM e um dos responsáveis pela formação de centenas de homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope), o coronel Alexandre Fontenelle, foi o primeiro a ser capturado durante a Operação Amigos S.A. Ele ocupava a terceira posição na hierarquia da PM e era responsável pelas unidades especiais da corporação, incluindo o Bope, o Grupamento Aeromarítimo (GAM) e o Batalhão de Choque (BPChoque). Além de Fontenelle, outros cinco oficiais, 18 praças e um civil são acusados de formarem uma quadrilha que exigia propinas de donos de empresas de ônibus, motoristas de vans, mototaxistas e comerciantes em Bangu. A ação contra o grupo é o mais recente esforço para tentar acabar com o longo histórico de crimes relacionados ao batalhão da PM no bairro, um problema que existe há pelo menos 20 anos, desde a época da apreensão de listas de propina elaboradas pelo falecido bicheiro Castor de Andrade.

    Em uma denúncia descrita em 150 páginas, o Gaeco definiu o “modus operandi” do bando como “forte e bem organizado”. As investigações revelaram que cada integrante do grupo tinha uma função bem definida. O esquema de cobrança de propinas teria sido estabelecido em 2010, quando os policiais envolvidos estavam lotados no 41º BPM (Irajá), e ganhado força em 2012, época em que o grupo trabalhou no 14º BPM (Bangu). Mas um papel encontrado ontem na carteira de Fontenelle levou a Subsecretaria de Inteligência a acreditar que o pagamento de propina continuava até ontem. Nele, há uma contabilidade com uma divisão de R$ 27 mil. Ao lado da quantia “10.000", está a palavra ‘‘eu’’.

    Durante buscas realizadas nesta segunda-feira, foram encontrados R$ 287 mil em espécie na casa do major Edson de Góes, além de R$ 33 mil no apartamento de um sargento. Os outros oficiais acusados de envolvimento no esquema de propinas são os majores Carlos Alexandre Lucas e Nilton João dos Prazeres Neto e os capitães Walter Colchone Netto e Rodrigo Leitão da Silva.

    O subsecretário de Inteligência, delegado federal Fábio Galvão, responsável pela investigação, explicou que a megaoperação desta segunda-feira é um desdobramento da operação Compadre I, feita no ano passado, que levou à prisão, na época, 78 pessoas, entre eles 60 policiais civis e militares. A operação durou aproximadamente um ano, e o período de investigação aconteceu do segundo semestre de 2012 até o fim de 2013. Só no ano passado, a Subsecretaria de Inteligência prendeu 339 pessoas, sendo 99 PMs e 12 policiais civis. Entre as operações que se destacaram, além da Compadre I, houve também a Fortaleza, que revelou o pagamento de propinas do tráfico para policiais da UPP do Morro da Providência.

    Dos 25 mandados de prisão expedidos pela 1ª Vara Criminal de Bangu para a operação, 23 tinham sido cumpridos nesta segunda-feira. Ao comentar as prisões, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, disse que as investigações sobre supostos casos de corrupção em sua pasta vão continuar.

    Dois fatos chamaram a atenção da equipe que planejou a Operação Amigos S.A. O primeiro foi a nomeação de Colchone para um cargo de confiança no COE — ele já havia sido preso, no ano passado, por suposto envolvimento com a máfia dos caça-níqueis. O segundo foi a descoberta de indícios de pagamentos feitos a um sargento do 14º BPM, Marcelo Valim dos Santos. Licenciado da Polícia Militar por ter sido atropelado, ele recebia dinheiro de propinas sem sair de casa. Para o Ministério Público estadual, isso comprova o nível de organização do esquema, comparado a uma empresa.

    Segundo as investigações, as propinas variavam entre R$ 30 e R$ 10.400, podendo ser diárias, semanais ou mensais. Os alvos do esquema de extorsão variavam de mototaxistas a clubes, passando por lojas, motoristas do transporte alternativo e empresas de ônibus. Os policiais cobravam taxas para não fazer repressão a serviços piratas ou exigiam dinheiro para ignorar problemas com documentação. Em um grampo telefônico feito em 2012 com autorização judicial, um policial, que, segundo o Gaeco, era o major Neto, diz que operações contra vans deveriam acontecer “até alguém levantar a bandeira branca”.

    De acordo com o Gaeco, os acusados responderão a inquéritos por concussão e associação criminosa armada. Se forem condenados, receberão penas que variam de dois a seis anos de prisão.




    Fonte: Extra/JE
    Foto: Vera Araújo - O Globo