CAMPO GRANDE (MS),

  • LEIA TAMBÉM

    13/05/2014

    No Carandá, casa de psiquiatra foi construída para neve escorregar pelo telhado

    Na rua Miraflores, o projeto de uma casa para escorrer neve tem quase 30 anos.
     (Fotos: Cleber Gellio)

    Quem costuma andas pelos altos da avenida Mato Grosso, em direção ao Parque dos Poderes, com certeza já viu uma casa de arquitetura moderna, de telhado arredondado e, num palavreado bem simples, como um “u” de cabeça para baixo. A entrada em si não está na avenida. Da via, só se vê o fundo do imóvel, livre ao olhar já que o terreno à frente não tem construção.

    A fachada mesmo fica na rua Miraflores, no bairro Carandá Bosque, em Campo Grande. O projeto de uma casa com telhado para escorrer neve tem quase 30 anos. Desenhado pelo próprio morador, o psiquiatra que veio de São Paulo, Ciro Macuco, o imóvel nasceu para abrigar o consultório e a casa. Ele morava e trabalhava ali e as lembranças do consultório psiquiátrico continuam vivas pela casa, um divã preto que deve ter ouvido muita angústia de pacientes.

    Quem arredondou o desenho e fez nascer a casa do papel foi o arquiteto Celso Costa. “Ele veio com um rascunho do que ele pretendia e eu desenvolvi a ideia. Muito boa por sinal”, lembra.

    Nos detalhes, casa tem formato arredondado pela cobertura e janelas por toda parede.

    Aos olhos de quem não entende, mas admira, fica a observação de como seria sustentada uma casa daquele formato. Medida em metros cúbicos e definida como “box in box”. A casa não é mais do que uma caixa dentro da outra.

    “A estrutura do telhado é independente da que sustenta as paredes. A cobertura é com toco de pilar, o resto é em viga. Posso mudar toda a casa sem mexer na cobertura”, explica Celso.

    Macuco recebeu as orientações do arquiteto antes mesmo de ele rascunhar os traços. Fez um andar superior, que por uma escada de ferro, ligava à ampla sala aos três quartos e o banheiro de cima. Um para si e os outros para os filhos dividirem.

    “Tinha dito a ele que a casa não é em metros quadrados e sim metros cúbicos. Que é totalmente diferente ao projetar. Se o projeto é pensado em volume, a ideia fica bem diferente. Ou seja, pensamos em total aproveitamento dos volumes dos ambientes”.

    Manta asfáltica revestida é o que contorna toda a cobertura.

    Casa alta, em cores neutras. Duas portas, duas entradas. Ora girava a maçaneta o profissional, ora o pessoal.

    Apesar de ser exatamente junto, o consultório ficava na porta à esquerda. O espaço vinha acompanhado de um pequeno banheiro e uma recepção. Do outro lado começava a sala, enorme, por sinal, que abrigou até uma lareira. O jardim que um dia fora verde ainda exibe um Ipê amarelo que floresce a cada chegada da época.

    Por fora, o telhado é coberto por manta asfáltica, que junto do formato, caracteriza o estilo para países onde a neve cai sem cessar. “É para a neve não se acumular no telhado, então escorrega”.

    Sem neve em Campo Grande, nem hoje, e nem há três décadas, a arquitetura refletia as observações e viagens do médico. “Ciro sempre foi uma pessoa do futuro. Curioso, pesquisador. Acredito que fora mais o grande poder de observação que ele tinha”, resume Celso.

    O dono e desenhista da casa morreu há sete anos, desde então que era casa e consultório passou a ser o escritório de advocacia do filho.

    Frente da casa, na rua Miraflores.
    Fundo da casa, visto da avenida Mato Grosso.



    Fonte: campograndenews/JE
    Por: Paula Maciulevicius