CAMPO GRANDE (MS),

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    25/05/2014

    Galvão Bueno dispara: ‘A parcela de quem gosta de mim é bem maior do que a de quem não gosta’

    Galvão Bueno encara sua décima Copa do Mundo e avisa que este não é seu último Mundial
     Foto: João Miguel Jr./Rede Globo/Divulgação

    A regra é clara. Quando se ouve o “Bem, amigos da Rede Globo!”, já se sabe que é chegada a hora de ele entrar em cena. Galvão Bueno transformou a frase num bordão-prenúncio de que o espetáculo esportivo vai começar, seja nas pistas de automobilismo, nas quadras ou nos gramados. E a 18 dias do início da Copa do Mundo, a voz número 1 da narração da emissora — e um dos maiores salários da casa — vai ecoar como nunca e de forma mais inspirada: no ano em que o evento é realizado no país, ele comemora sua décima Copa, em 36 anos de transmissões do Mundial (na primeira, na Argentina, foi comentarista, pela TV Record, em 1978). Vai que é sua, Galvão!

    — Essa Copa vai ser especial por ser no Brasil. É uma sensação incrível poder narrar o Mundial que acontece em seu país. Será um espetáculo, uma mistura de sentimentos em uma Copa completamente diferente das outras — empolga-se o narrador, que, diferentemente do que já havia dito anteriormente, avisa não ser este o seu último Mundial: — Estarei na Copa da Rússia em 2018. Eu vou continuar enquanto tiver saúde e a Globo entender que sou importante.

    Galvão aprecia seu parreiral em sua vinícola na Toscana
     Foto: Arquivo pessoal
    Figura maior no álbum de profissionais escalados para a cobertura, Galvão não tem problemas em dizer que, pela seleção brasileira, mistura o narrador com o torcedor.

    — É quando posso me soltar, vibrar. Passo a ter esse direito. Torcer pela seleção é completamente diferente. Ela é o meu time do coração — afirma o narrador, de 63 anos, que apesar de já ter revelado que torce pelo Flamengo, faz graça ao tentar disfarçar sua paixão pelo rubro-negro carioca: — Ah, vá, torço pelo Milan, que é vermelho e preto (risos).

    De personalidade forte, Galvão não esconde o que pensa. Por isso mesmo, as opiniões sobre ele são controversas. É uma espécie de “ame-o ou odeie-o’’. Nada que tire o seu sono.

    — Sou polêmico, adoro mexer com a emoção e o coração das pessoas. É normal receber críticas e elogios. Graças a Deus a parcela de quem gosta de mim é bem maior do que a de quem não gosta. Mas todo mundo tem direito de ter sua preferência — afirma.

    Desirée Soares e o marido, Galvão, pisam nos tonéis de uvas na 
    vinícola na Toscana - Foto: Arquivo pessoal

    Desirée e o marido, Galvão, e o casal de amigos Graça e Arnaldo César: no casamento da filha
     do narrador, na Itália - Foto: Arquivo pessoal

    Para o time dos críticos da oposição, Arnaldo César Coelho, amigo-irmão há 25 anos, apita e contra-ataca.

    — Vai fazer o que ele faz! Ficar tantos anos na TV, falando por duas horas nas transmissões, não é brincadeira. As pessoas são muito críticas, cobram muito — dispara o ex-árbitro.

    O narrador devolve o carinho:

    — Arnaldo é um espetáculo. Nossas famílias são unidas. Raros são os dias em que não nos falamos por telefone.

    Há 15 anos convivendo estreitamente com Galvão, o também narrador Luiz Roberto destaca sua camaradagem.

    — Eu estava cobrindo a Fórmula 1 pela Rádio Globo quando Ayrton Senna morreu. E precisava saber quando seria o traslado do corpo dele para o Brasil. O staff do piloto mudou de hotel e fui para lá também. Quando fui pegar a chave do quarto, no escaninho, estavam lá todas as informações de que precisava. Galvão havia deixado. E olha que nem éramos próximos. O cara é muito generoso — elogia.

    Que o diga Alex Escobar, outra testemunha do grande coração de Galvão.

    — Em 2008, fui ao “Bem, amigos” (Sportv) e estava apavorado por estar no programa do ídolo maior da narração do país. E fui surpreendido por um cara que me abraçou, me deixou à vontade e encheu a minha bola. Depois, fomos a um restaurante e o jantar foi até o dia amanhecer. Além de contar suas histórias, queria saber das minhas. Sei que posso contar com ele. É a pessoa mais generosa que apareceu na minha vida desde que entrei na TV — elogia Escobar.

    O narrador entre os filhos Popó, Cacá e Letícia: corujando o pai
     Foto: Arquivo pessoal

    Mulher de Galvão há 14 anos, Desirée Soares, de 45, mostra que o marido não estende a mão somente aos amigos.

    — No ano seguinte em que se mudou para Londrina (PR), em 2001, minha cidade natal, ele abriu a Associação Beneficente Galvão Bueno, que ajuda os idosos da cidade e da região. Isso que eu admiro nele: sua preocupação com o outro. Nem é da cidade, mas sentiu a necessidade e fez pelos velhinhos — orgulha-se.

    Mas amigo que é amigo não só aplaude, como também dá dura. E com mais de 30 anos de amizade, Reginaldo Leme, comentarista de Fórmula 1, cumpre esse papel.

    — Sou muito direto com ele, como poucas pessoas são. Ele pode nem sempre gostar, mas ouve. Se no trabalho rola estresse, não escondo que fiquei chateado. Mas também resolvemos logo, não ficamos arrastando nada — conta Reginaldo.

    Mesmo porque, no passado, os dois andaram se estranhando, o que chegou a abalar a amizade.

    — Era final de 1989 e tive um problema com o Ayrton Senna, de quem era bem próximo. Como Galvão também era muito amigo dele, acabou tomando suas dores e nos desligamos. Foi sofrido. Mas durante o ano seguinte, isso foi se dissolvendo e restabelecemos a relação. Com Senna durou um pouco mais, voltamos só em 1992 — relembra.

    Relíquia: Senna entre os amigos Reginaldo Leme e Galvão em frente à casa do piloto, na Inglaterra
     Foto: Arquivo pessoal

    Galvão com o enteado Leandro (esquerda) e o filho Luca, fruto do segundo casamento, em Mônaco
     Foto: Arquivo pessoal

    Mas ao pontuar as qualidades de Galvão, Reginaldo não titubeia.

    — Ele é extrovertido, autoconfiante, divertido. Só tem um defeito: não deixa os outros falarem (risos). Não é só no ar, em rodas de amigos também. Você começa contando uma história, uma piada e, quando vê, ele dá o final antes da gente. Isso é natural dele, fica angustiado se não está com a palavra — diverte-se.

    Desirée, rindo, também entrega o marido:

    — Galvão é muito vaidoso! É um tal de trocar camisa, gravata, escolher o sapato... Sempre sou eu que espero por ele. Já chegamos 40 minutos atrasados num evento social. Mas isso não acontece em compromissos de trabalho.

    Se esse lado do marido a faz perder a paciência, há outro que derrete Desirée e que pouca gente conhece.

    — Ele é romântico, superatencioso, manda flores, gosta de fazer surpresas. A última foi ano passado, no meu aniversário. Estávamos em Florença (Itália) e fomos jantar no Hotel Four Seasons, de cara para o Duomo (catedral da cidade). Ao chegar, tinha um caminho de pétalas de rosa e menu personalizado com o meu nome — comove-se.

    Galvão e o amigo-irmão, Arnaldo César Coelho: famílias são unidas
     Foto: Arquivo pessoal

    Desirée brinca que eles formam o casal pé na estrada por curtirem viajar. E conta que a partir do ano que vem vão permanecer por mais tempo em Londrina, com escapadas para Itália.

    — Após seis anos em Mônaco, teremos Londrina como base. Mas por conta da nossa vinícola em Motalcino, na Toscana (Itália), passaremos momentos por lá também — diz ela, referindo-se ao lado produtor de vinhos do marido, que tem outra vinícola em Candiota (RS).

    Por estar sempre viajando, muito também por conta do trabalho, Galvão não pôde ser aquele pai tão presente. Por isso, prioriza a qualidade do tempo quando está com seus filhos: Letícia, de 39 anos, Cacá, de 37, e Popó, de 35, frutos do primeiro casamento; Luca, de 13, filho com Desirée, e Leonardo, 19, seu enteado.

    — Ele viaja bastante e fico com saudade. Mas tenho certeza de que ele fica mais triste do que eu. Por isso que eu o amo, porque ele sempre me coloca em primeiro lugar — diz Luca.

    Galvão e Reginaldo Leme já tiveram a amizade abalada, mas desde que fizeram as pazes, nunca mais
     se desgrudaram Foto: Arquivo pessoal
    Amigos de longa data: Reginaldo Leme, Galvão e o ex-piloto de Fórmula Super-Ve, Julio Caio, na
    época do Grande Prêmio da Hungria, em 1986 Foto: Arquivo pessoal

    Seu irmão por parte de mãe, Leonardo, que convive com o padrasto desde os 5 anos, faz coro: — Galvão é uma pessoa que se importa com tudo. Sempre me tratou como um filho e eu só tenho a agradecer por tudo o que ele já fez por mim.

    Já o piloto Cacá lembra uma história profissional que vai marcá-lo para sempre:

    — Foi quando ele narrou uma vitória minha de Stock Car, no Rio de Janeiro, em 2003, no Dia dos Pais. No meu carro estava escrito “Feliz Dia dos Pais’’. Como sempre o vi trabalhando em grandes eventos, quando venci a corrida narrada por ele, pensei: “Acho que o que estou fazendo é importante, porque foi meu pai que narrou”.

    Também piloto, Popó se emociona com o amor do pai pela profissão.

    — Ele é apaixonado de verdade. Não força a barra, transparece o que é. É bacana a forma como transmite a emoção, sabe levantar o jogo, criar expectativa no público. Essa é sua diferença, o que o faz ser inconfundível — afirma.

    Galvão e os companheiros de transmissão Alex Escobar, Casagrande e Junior: juntos rumo
     ao hexacampeonato

    Única filha do narrador, Letícia fica comovida ao lembrar de seu casamento, em 2013:

    — Foi muito marcante a emoção dele no meu casamento, na vinícola da Toscana. E, principalmente, quando ele leu na cerimônia o texto “Amigo”, do Érico Veríssimo. Choro garantido. Ah, e às vezes, quando as agendas de todos nós não batem, ele decreta uns “feriados” para que possamos estar juntos em alguma data especial — recorda a moça.

    Galvão pode até ter pinta de durão, mas Desirée desconstrói essa imagem do marido rapidinho. Diz que, às vezes, ele é um tremendo coração mole. A última demonstração desse seu lado aconteceu recentemente, durante o especial sobre a morte de Ayrton Senna, este mês, no “Esporte espetacular”.

    — Estávamos em São Paulo vendo o programa. Logo após o quadro “Na estrada com Galvão”, entrou a última parte do especial do Senna. Assistimos em silêncio e, quando vi, Galvão estava aos prantos. Fiquei admirada, porque nunca o tinha visto chorar — conta a mulher, que torce para que o marido, agora, só chore de felicidade com o hexacampeonato: — Vai ser uma explosão de alegria, a consagração para ele como narrador e torcedor apaixonado pela seleção.





    Fonte: Extra/JE
    Por: Marcelle Carvalho