CAMPO GRANDE (MS),

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    26/05/2014

    Delegada Maria de Lourdes fala sobre a vida dedicada à investigação

    Ela entrou na Polícia Civil com a primeira turma de investigadores em 2000 e comandou as investigações dos casos mais emblemáticos de assassinato na Capital. Veja a entrevista a seguir


    Delegada Maria de Lourdes fala sobre a vida dedicada à investigação
    Foto: Geovanni Gomes

    Com vasto currículo na área de investigação, a delegada Maria de Lourdes Cano se destaca no meio policial, estando à frente das mais importantes investigações de crimes considerados bárbaros em Campo Grande e no Estado. Como o caso do Maniaco da Cruz, que ganhou repercussão nacional, dos jovens Breno e Leonardo, Caso Dudu e recentemente o latrocínio que chocou a sociedade, caso Erlon. Maria de Lourdes já passou pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude (Deaij), Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico (Denar), e Atualmente está no comando da Delegacia Especializada de Roubos e Furtos (Defurv). A delegada contou ao TopMídia News como é a vida de quem passa dias e noites para solucionar crimes e conter o excesso de roubos e furtos em Campo Grande.

    TopMídia News - Quando a senhora iniciou sua carreira, qual caso, ou quais casos que mais te marcou?

    Maria de Lourdes - O caso do Breno e Leonardo, quando eu cheguei no local do crime, além de você lembrar do sofrimento daquele pai, que procurava o filho de qualquer forma, eram pessoas muito jovens, judiaram barbaramente deles, machucaram bastante as partes genitais, isso chocou muito. Eu tenho filhos praticamente da idade deles, aí você ve um jovem estendido ao chão todo machucado, morto, com um tiro na cabeça, e você lembrar o seguinte: eu estou aqui por alguém, poderia ser o meu filho. É isso que as pessoas não conseguem entender muito, que nesse caso você ultrapassa as barreiras, vai alem do que você deve ir, pra se chegar a conclusão, você vai com toda a vontade realmente, porque alem de profissional você tem sua vida pessoal, você se coloca no lugar da pessoa.

    No caso do Erlon por exemplo, além da forma como aconteceu, quando vi ele ser puxado na corda como um pedaço de lixo, é um ser humano que estava ali, você lembra da criança (filha dele), te perguntando: "Você vai trazer meu pai de volta pra mim?". 

    Então você fica pensando naquele exato momento quando o corpo está saindo, “eu vou entregar isso pra família?” aquelas crianças pequenas, aquilo te dá um embalo forte, pra você ir alem do que pode, são crimes que te traz não só pro mundo do profissionalismo, mas pelo lado humano também e o lado do sofrimento. São dois casos que me chocaram muito

    TopMídia News - Esses casos são todos marcantes, tanto quanto do Erlon como o do Maníaco da Cruz até mesmo o da criança, do Breno e Leonardo, crimes que chamaram atenção por serem todos jovens, e a delegada Maria de Lourdes sempre estava presente. Para a doutora, como é lidar com isso no seu dia a dia?

    Maria de Lourdes - Toda vez que você se envolve em uma investigação, com um nível de complexidade e que envolve famílias muito presentes aqui com você, (desaparecimento principalmente), a família vem constantemente na delegacia ela vê em você um sinal de esperança daquele retorno do desaparecido.

    Então você abandona, seu lar, seus filhos, sua vida, inclusive seus momentos de alimentação, sem dormir. Mas nós sabemos que se parar podemos perder a linha de investigação.

    TopMídia News - Como é para a delegada carregar essa responsabilidade?

    Maria de Lourdes - É em busca do crédito e da cobrança que as pessoas depositam em você, acreditam em você, que vamos trazer a solução do problema. Mas muitas vezes sabemos que não vamos trazer a pessoa viva.

    TopMídia News - No caso Erlon, o pai intitulou a senhora como "heroína", pelo trabalho feito sem interrupção, para achar o filho dele, mesmo sem vida. A senhora esperava, desde que assumiu a delegacia, chegar nesse patamar?

    Maria de Lourdes - Não mesmo porque, a gente percebe que toda família quando perde alguém, ela é totalmente destruída, a gente vê que a vítima não é aquele que morre, e sim aquele que fica. É o pai, a esposa, é a mãe, os filhos essas são as eternas vítimas, por mais que a intenção minha e de todos os policias, é devolver a pessoa com vida. Em alguns casos já sabe as vezes que até mesmo no início das investigações que você não vai conseguir, então tentamos ao máximo trazer a solução para aquela família. Todo sonho de qualquer familiar que tem alguém desaparecido é achar com vida.

    TopMídia News - Campo Grande acaba sendo a rota mais próxima do Paraguai, para roubos de carros, consequentemente de latrocínios. Como é o trabalho da Defurv nesses sentido? 

    Maria de Lourdes - Está se buscando cada vez mais, através da própria viatura, através do policiamento do Departamento de Operação da Fronteira (DOF), através das delegacias de Dourados, Ponta Porá, fechar o cerco fronteiriço, mas ainda precisa muito, o que precisa na realidade, é uma boa mobilização nas fronteiras.

    TopMídia News - A delegada acredita que se houvesse então uma maior fiscalização nas estradas vicinais e uma regulação nas barreiras entre os países isso melhoraria?

    Maria de Lourdes - Sabemos que são varias estradas vicinais, são várias outras possibilidades que as pessoas tem de passar com esses carros. Então tem que se montar uma fiscalização nessas estradas, com controle de quem entra e quem sai, aí sim seria seguro, saber quem entra e aqueles que saíram e porque saíram... infelizmente o Brasil não tem controle algum do que entra e do que sai, e em MS não é diferente.

    TopMídia News - A falha por não ocorrer essas fiscalizações nas alfândegas é de quem então?

    Maria de Lourdes - Na verdade seria uma determinação que deveria vir do governo federal, porque esse controle seria do governo federal, ou seja, é igual você viajar. Um exemplo é a Argentina, todo mundo fala que é um país meio atrasado, só que ele é mais desenvolvido que o Brasil nestas questões. Quando você chega ao país, tem que passar pela alfândega, no aeroporto, sem isso você não permanece no país. Eles tem um controle de quem entra e de quem sai, coisa que no Brasil é um sonho há muito tempo, que nós não temos nem possibilidade disso acontecer.

    TopMídia News - Nesses dois anos na DEFURV, qual o perfil de roubo em CG?

    Maria de Lourdes - Vamos dizer que são quadrilhas. Mas não é aquela coisa de falar que são quadrilhas especializadas, é muito pouco realmente, o que nós temos as vezes, são pessoas oportunistas, que aproveita de um determinado momento, pra furtar e roubar aquele carro, e pelas facilidade as vezes que é proporcionado. Agora eles tem facilidade de levar para o país vizinho, então objetivando o lucro fácil.

    TopMídia News - Quais são os carros visados nesses tipos de roubo?

    Maria de Lourdes - Agora por exemplo, nós podemos dizer que os carros mais escolhidos, camionetes por conta do porte, e por conta do dinheiro fácil lá (frontreira), eles estão levando outros veículos comuns, corsa, gol, Fiat, por conta da facilidade deles serem furtados, com chave micha você furta um carro desse, os mais antigos, além da facilidade da compra no outro país.

    TopMídia News - Em casos de roubo, como a pessoa deve proceder?

    Maria de Lourdes - Procurar a polícia, ligar 190 e passar o fato ocorrido, mesmo você ainda não tendo registrado a ocorrência, eles tem como jogar no sistema da policia o furto ou roubo ocorrido, e procurar a policia civil pra registrar o boletim de ocorrência.

    Top Mídia News - Quantos roubos seguido de morte aconteceram nesses dois anos no comando da delegacia? 

    Maria de Lourdes - Foram 5 pessoas. Casal Raghiante, Breno e Leo, Erlon,

    TopMídia News - Como a senhora avalia o perfil de roubos e furtos em Campo Grande ?

    Maria de Lourdes - Existem os pequenos furtos, mas violência graças a Deus não. 2012 pra cá, de quatro roubo de caminhão por dia, hoje é índice zero, esse e um tipo de crime violento, pessoas em cativeiros, pessoas idosas, e os roubos seguidos de morte.

    Como é o caso do casal Raghiante, que foi roubo seguido de morte, logo em seguida foi descoberto, não tem aquela continuidade, porque foi solucionado, é uma resposta não só pra família e a sociedade e sim para bandidagem também.

    Divulgação

    TopMídia News - A senhora acha que a lei da maioridade penal deveria mudar?

    Maria de Lourdes - Não acho. Agora se nos aceitarmos a redução da maioridade penal, o que q vai acontecer, nos temos crianças com 12 anos praticando atos inflacionais, furtando, roubando, a idade também vai reduzir, para a pratica desses delitos. Com isso vamos ter crianças com oito anos na prática desses delitos, essa é a tendência. E o correto seria, não se mexer na maioridade penal, mas em contrapartida, aquele adolescente que pratica um ato violento, ajudou mesmo que de forma indireta, atraiu a vitima pra dentro da casa, participou da negociação do veiculo, ele teve participação, ele é um dos autores, como no caso dessa adolescente (caso erlon), se a lei permitisse, ela deveria responder pelo crime de homicídio doloso, se um maior de idade fica de 15 a 30 anos, porque um adolescente não pode ficar metade desse tempo, em crimes violentos, eles deveriam responder pela metade da pena do maior de idade.

    Aí eu duvido que adolescente estaria praticando crimes. Os parlamentares deveriam mudar a mentalidade, porque só quando acontece crimes bárbaros é que pensam em fazer algo, se todos sabem onde que é a raiz do problema, pra que esperar. Não mudar a maioridade penal, mas mudar o tempo deles cumprirem. A lei permite que eles fiquem 3 anos na UNEI e 90% dos casos eles não ficam.






    Fonte: Top Mídia/JE