Cerca de um quarto da população da Melanésia, no arquipélago das Ilhas Salomão, tem uma característica extremamente incomum: a pele escura com cabelos loiros naturais.
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Foto: Reprodução / Pinterest |
O arquipélago, localizado a leste de Papua Nova Guiné, na Oceania, é formado por milhares de ilhas habitadas por mais de meio milhão de pessoas.
Essa característica rara tem confundido cientistas e especialistas em genética durante anos.
Até agora, eles têm atribuído a característica como herança dos europeus, especialmente dos britânicos, alemães e australianos, que colonizaram a ilha por centenas de anos. Várias das ilhas estavam sob jurisdição alemã no século XIX. Em 1893, o Reino Unido tomou as Ilhas Salomão como sua propriedade, declarando a região um protetorado. O resto das ilhas foram adicionadas posteriormente. E, no início do século 20, as empresas australianas e britânicas expandiram o cultivo do coco em muitas dessas ilhas.
Sean Myles, o autor do estudo e geneticista da Nova Scotia Agricultural College, ressaltou que não há quase nenhuma variação nos tons de loiro. Isto sugere que a cor do cabelo é governada por genes. "Parecia bastante óbvio para mim que era um traço binário real", disse ele. "Ou você tinha cabelos loiros ou você não tinha". Para provar sua teoria, Myles e seus colegas coletaram saliva e amostras de cabelo de mais de 1.200 pessoas das Ilhas Salomão. A partir delas, eles compararam a composição genética de 42 nativos de cabelos escuros e 43 loiros.
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O que os cientistas descobriram foi fenomenal: os dois grupos possuíam genes com versões muito diferentes de um gene essencial, o TYRP1, que codifica uma proteína envolvida na pigmentação. |
A mudança minúscula de apenas uma parte no código genético conseguiu marcar a diferença entre cabelos escuros e cabelos loiros dessa população. Apenas um aminoácido na proteína é diferente (a arginina é substituída pela cisteína).
Assim, 25% dos habitantes das Ilhas Salomão carregam duas cópias do gene mutante recessivo. Isso significa que os loiros poderia ter herdado a sua cor de cabelo tanto do pai quanto da mãe. "É um grande exemplo de evolução convergente, onde o mesmo resultado é trazido por meios completamente diferentes", disse Myles.
Jonathan Friedlaender, antropólogo da Temple University da Filadélfia, explicou que a mutação provavelmente surgiu por acaso em um indivíduo. Ele parece ter ganhado na frequência porque a população original da ilha era muito pequena. Myles acrescentou: "Se você puder encontrar um gene para cabelos loiros que existe na Melanésia e em nenhum outro lugar mais, então não há nenhuma razão para que esses tipos de genes não existam em populações sub-representadas por todo o mundo, e afetam não apenas a pigmentação do cabelo, mas outras características também".
Acredita-se que evoluíram a partir de um cruzamento do hominídeo de Denisova, primo distante do Neanderthal. Assim, os habitantes da ilha têm genes um pouco diferentes, o que lhes dá essa características únicas.
Fonte: ScienceMag / DigitalJournal / JE
Por: Priscila Nayade/JC