A onda de protestos que tomou conta do Brasil nos últimos dias vem afetando, principalmente, os prefeitos. Esta é a visão do jornalista e cientista político Eron Brum, que também explica em entrevista ao Midiamax que esta manifestação é diferente de todas que já ocorreram no Brasil.
“A única instituição concreta são os municípios, justamente pelo fato dos prefeitos [os representantes] morarem no mesmo local que os representados [os cidadãos]. Então eles são os afetados diretamente. Um governo é um conjunto de municípios ou um conjunto de estados, eles não estão lidando diretamente com a indignação do povo”, disse Eron.
Ao observar o movimento percebe-se que os prefeitos estão sem saída, a não ser ouvir a população. “Eles estão na trincheira. Nosso prefeito disse que não há necessidade de manifestação aqui, ou seja, isso demonstra que é preciso uma mudança no cenário político urgente, pois agem como se as cidades não tivessem problemas nenhum”, afirmou.
Para o jornalista, que já acompanhou manifestações para queda do ex-presidente João Goulart, depois para a queda da Ditadura e também destituição do ex-presidente Collor, explica que a diferença desta nova manifestação é justamente não ter um alvo fixo.
“Tem vários ‘tentáculos’ e é por isso que os governos ficaram perplexos e que agora percebam o quanto uma reforma política é necessária no Brasil. Cada operação deflagrada pela Polícia Federal foi desencadeada por indícios de corrupção. Aonde se mexe encontra”, comentou.
Outra característica diferente das demais manifestações é o fato de não ter em sua base partidos políticos ou lideranças sindicais. Pesquisas apontaram que mais de 80% dos manifestantes não são filiados e também são jovens, diferente de outras que aglomeravam pessoas de todas as idades e ideologias.
“Os partidos ficaram à margem, mostrando que estamos em um sistema composto e ultrapassado. Essas coligações partidárias, por exemplo, não tem lógica. É raro no mundo o governo ter maioria no congresso. Uma manifestação nunca tem vida longa, mas esperamos que ao menos sejam atendidas as reivindicações de ‘padrão Fifa’ também para Educação, Saúde, Transporte”, finalizou.
Lideranças
Há também quem se preocupe com a falta de lideranças, como o cientista político Tito Carlos. Para ele, os partidos sempre atuaram como forma de orientação da sociedade. “Existe sociedade democrática sem partido? Sem lideranças você não sabe a postura. Agora o que também preocupa é que tipo de lideranças que podem surgir, visto que há as boas, porém temo que apareçam algumas que podem até pender para um fascismo”, alertou.
Tito explica que isto é um risco que se corre, tendo em vista outras manifestações mundiais, mas que ao menos outro destaque para esta onda de protestos é a bandeira contra a violência.
“É importante que os governantes de partidos diferentes, como Dilma [Rousseff – PT] e o [Geraldo] Alckmin, do PSDB, se coloquem a favor da não-violência. Mas até onde esse protesto vai? Isso é uma incógnita’, finalizou.
Protestos em Campo Grande |
Fonte: Midiamax
Por: Fernanda Kintschner
Fotos: Luiz Alberto e Minamar Júnior