Quem passou na rua Padre João Crippa em frente à delegacia, na manhã desta terça-feira (2/04), se deparou com um ônibus quebrado na via, que aparentemente apenas tumultuava o trânsito. Era o veículo de escolta para os 17 presos que superlotavam a unidade policial e já ameaçavam fazer uma rebelião caso não fossem transferidos. O mesmo ocorria no bairro Piratininga, já que a delegacia contava com 34 presos, entre adultos e adolescentes infratores.
Em ambas as Depac´s (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário), a segurança estava sendo feita por apenas oito funcionários, quatro em cada uma. E a indignação dos policiais civis foi tamanha que quem chegou para fazer boletim de ocorrência foi embora sem ser atendido.
“Senhora, é para a sua própria segurança. Nós estamos com dezenas de presos, desde o feriado, ameaçando fazer rebelião se não forem transferidos. Então, aconselho ir para outra delegacia”, disse um policial plantonista para uma mulher que disse estar com ‘um problema muito urgente’.
Assim que ela saiu, teve início uma gritaria. A intenção dos presos parecia ser fazer barulho, muito barulho para chamar a atenção sobre o ‘caos' do local. Até os delegados da 5ª Delegacia de Polícia, que ficam no andar de cima, desceram para conter o tumulto.
“Na sexta-feira (28), feriado da Semana Santa, a Depac Piratininga, por exemplo, estava com 13 presos, sendo que recebeu mais 21 até hoje e por falta de camburão, eles permaneceram na delegacia. O banheiro deles estava entupido e muitos defecaram em garrafas, além de não ter água para beber”, denuncia o presidente do Sinpol/MS (Sindicato dos Policiais Civis de Mato Grosso do Sul), Alexandre Barbosa.
Descrentes com a falta de incentivo e estrutura para o trabalho, os policiais se reuniram e aguardaram os veículos que provisoriamente foram arrumados para a transferência do bando. “O governo investe milhões em publicidade e deveria comprar viaturas ao invés disso. Aqui temos uma Blazer velha, que está com os pneus carecas, portas que não fecham e escapamento detonado”, disse um dos plantonistas.
Indignação foi tamanha que policiais já deram indicativo de greve
A indignação dos policiais foi tamanha que eles não realizaram as ordens de serviço e até já repassaram um indicativo de greve. “Provavelmente se o sindicato não falasse nada, esses presos iriam permanecer aqui até não sei quando. Por isso os nossos protestos, faixas há um mês pedindo ‘socorro’ e agora o indicativo de greve. São bons policiais que estão pedindo demissão por conta também dos baixos salários”, explica o presidente do Sinpol/MS.
Minutos após o ônibus da Acadepol (Academia dos Policiais Civis), que geralmente leva os alunos para o curso, chega para transportar os detentos. Ele já chegava da Depac Centro com 17 homens, dos mais diversos crimes como roubo, furto, estupro e tráfico de drogas. Na outra unidade, tinha de receber mais 34 e foi necessário pedir a ajuda de outro carro, dessa vez vindo da Senasp/MJ (Secretaria de Segurança Pública, Educação e Cidadania).
A transferência, ao que relatam os policiais, vai durar todo o dia. E detalhe é que eles foram algemados com algmeas de plásticos. “Daqui temos de levá-los ao Imol (Instituto Médico e Odontológico de Campo Grande), para o exame de corpo e delito. Em seguida eles são levados para os mais diversos presídios e delegacias, sem a segurança devida”, lamenta um dos policiais civis.
Diretor da Polícia Civil diz que problema não é recorrente e que transferência foi feita
O problema, de acordo com o presidente do Sinpol/MS, foi repassado à diretoria da Polícia Civil e a Governadoria, para que eles e a população saibam do que está acontecendo. E, questionado pelo Midiamax, o diretor geral da Polícia Civil, Jorge Razanauskas, disse que não se trata de um problema recorrente.
“O carro da delegacia quebrou como qualquer outro. A transferência foi feita, temos três carros, é algo normal. Foi apenas um azar do fato ocorrer em um dia após o feriado”, avalia o diretor geral da Polícia Civil, Jorge Razanauskas.
Superlotação, fezes em papel alumínio, água para presos, viatura quebrada e até algema de plástico |
Fonte: Midiamax
Por: Graziela Rezende
Fotos: Cleber Gellio