Presidente interino Michel Temer volta atrás em sua decisão de vincular Minc ao Ministério da Educação. |
Pode um governo que volta atrás em suas decisões ser um bom governo? É evidente que não. Depois que a extinção do Minc foi anunciada, passando a ser um gabinete vinculado ao Ministério da Educação, a classe artística normalmente beneficiada com tais verbas viu sua produção ameaçada, e deram início então a manifestações exigindo que o presidente interino Michel Temer voltasse atrás em sua decisão. Algo que todos nós acompanhamos, ousando acreditar que tal controvérsia poderia ter um desfecho favorável, e que o presidente, priorizando interesses maiores, fosse capaz de permanecer irredutível, quanto à sua posição. Para decepção de todos nós, brasileiros, o presidente interino acabou cedendo à pressão. Agora, entendemos um pouco melhor porque o nome dele é Michel Temer – e não Michel Coragem – pois temendo a reação negativa da falida e deficiente classe artística brasileira “formadora de opinião”, ele acabou voltando atrás.
Podemos ver o valor de um país pelas prioridades que ele estabelece. E aqui, não foram estabelecidas prioridades para os onze milhões de brasileiros que estão desempregados. Ainda não foram estabelecidas medidas corretas, coerentes e práticas para auxiliar, de forma completa, efetiva e imponente, os 282 brasileiros que perdem o emprego por hora. Não vimos igualmente nenhuma medida capaz de conter a irrefreável onda de violência que assola a população, tampouco iniciativas que voltadas para implementar melhorias na tão combalida área da saúde pública. Em um país prestes a quebrar – sim, pois acreditem, ainda não atingimos o fundo do poço, e você não vai querer chegar lá – a contenção de despesas, gastos e custos seria não apenas uma prioridade nacional, funcional e logística, devidamente organizada e reestruturada para o bem-estar da nação, mas uma questão de decência moral e civilidade patriótica, que vislumbraria a exoneração da máquina pública, para definitivamente começar o longo, lamurioso e excruciante processo que permitiria a restauração do equilíbrio e da ordem no país. Ou ao menos, parte delas, pois bem sabemos que ordem e equilíbrio, em sua totalidade, nunca foram o nosso ponto forte.
A matemática que rege o estado brasileiro em si não é complicada de compreender: exonerando a cadeia produtiva de sua vasta e colossal carga tributária, os salários dos trabalhadores poderiam aumentar. Aumentando os salários, aumentaria também o poder de compra. Exonerando as empresas dos exorbitantes impostos municipais, estaduais e federais que elas são obrigadas a pagar, consequentemente, elas também ficariam com mais dinheiro em caixa, poderiam fazer mais negócios, comprar mais e gastar mais, e assim, a máquina econômica do país lentamente seria reativada. Mas o que isso têm a ver com o Minc?
A captação de recursos vem igualmente dos tributos pagos por pessoas jurídicas, embora a lei Rouanet contemple captação destes mesmos recursos diretamente nas empresas, fornecendo como contraponto incentivos fiscais. Não obstante, o desastroso colapso econômico que há muito tempo se anuncia sobre o país demonstra a necessidade de uma completa reestruturação da máquina arrecadatória, sobre as quais deveriam ser estabelecidas prioridades muito claras. O que a classe artística brasileira parece não ter sido capaz de entender. Quando segurança, educação e saúde – e também a situação econômica – estivessem em um patamar regular de “normalidade”, não haveria problema algum em investir em cultura. Não obstante, a falta de integridade, responsabilidade moral e preocupação com o bem-estar do brasileiro definitivamente não está na agenda dos artistas pró-Minc, que não querem perder o aval para seus projetos irrelevantes, e o luxo de ter nas mãos uma verba que pode garantir suas contas em dia. Evidentemente, vale ressaltar que nem todos os artistas, músicos, atores e demais derivados foram contra a extinção do Minc – que, na prática, não deixaria de existir, mas seria vinculado como uma pasta do Ministério da Cultura – o que não seria problema algum, pois cultura e educação estão relacionados. Apenas quem tem a perder financeiramente com a extinção do ministério demonstrou enorme revolta com relação a medida.
A questão que muitos parecem não querer enxergar aqui são as motivações essencialmente egoístas dos fervorosos defensores do Minc. Hoje, o estado brasileiro está próximo da calamidade. Com mais de um milhão e duzentos mil empresas tendo fechado as portas em pouco mais de um ano, e onze milhões de brasileiros desempregados, com não poucos desabando no caos da miséria absoluta, melhorias são imprescindíveis para que façamos do Brasil um país melhor. Mas a nossa incrível, íntegra e amorosa “classe artística formadora de opinião” obviamente não tem o menor interesse no bem-estar do cidadão brasileiro. Milhões de reais para os seus projetos estapafúrdios, cômicos e irrelevantes, – muitas vezes destinados a pagar suas contas pessoais – são muito mais importantes do que o progresso do país e o bem-estar da população. Se esses são os porta-vozes intelectuais da nação, graças a Deus eu sou órfão. Se Caetano Veloso usando um cocar é “símbolo” de resistência e revolução pela “democracia da cultura brasileira”, patriotismo para mim é morrer sufocado em meu próprio vômito. Nenhum brasileiro legítimo pode ser devidamente representado por indivíduos dessa espécie.