CAMPO GRANDE (MS),

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    08/04/2019

    Guedes rejeita assumir articulação da reforma: 'Sou animal de combate, mas em economia'

    Na semana passada, ministro da Economia teve embates com deputados de oposição durante audiência na Câmara. 'Não tenho pretensão de ser articulador político', declarou.

    O ministro da Economia, Paulo Guedes — Foto: Fábio França/G1 
    O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta segunda-feira (8), durante seminário promovido pelos jornais "O Globo" e "Valor Econômico", que não tem pretensão de ser articulador político do governo.

    Na semana passada, ele participou de uma audiência pública na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) sobre a reforma da Previdência Social na qual discutiu asperamente com deputados de oposição e também recebeu grupos de deputados de vários partidos para explicar a proposta.

    "Eu não tenho pretensão de ser articulador político. Vocês viram meu desempenho lá [na CCJ]. Não sou animal para fazer essa coordenação. Sou animal de combate, mas em economia", afirmou ele.

    Paulo Guedes afirmou que é "defensor honesto de algumas propostas, já há muitos anos".

    "Não acredito que eu vá ser o interlocutor. Acredito que, na pauta econômica, posso ser alguém que vai ajudar o presidente da Câmara, do Senado, governadores e prefeitos também", declarou.

    Guedes disse acreditar na aprovação da reforma da Previdência, mas ressalvou que o texto pode não ser exatamente aquele encaminhado pelo Executivo. “Pode não ser muito, pode ser menos [com a retirada de alguns pontos]”, declarou.

    Para ele, a reforma será aprovada “tirando uma coisa ou outra”. “Mas permitirão o programa seguir com a potência desejada [de R$ 1 trilhão de economia]. Não vou dizer onde está ou onde não está a potência desejada, pois enfraqueço o próprio negociador”, declarou.

    Segundo Guedes, haverá uma "mobilização" dos parlamentares pelos estados e municípios, que enfrentam dificuldades em relação à situação fiscal.

    “Eu não tenho dúvidas. Os governadores estão quebrados, os prefeitos estão quebrados. A União tem fôlego, a União pode esperar. Acho que vai haver uma mobilização do Congresso pelos estados, pelos municípios”, afirmou.

    Sobre o relacionamento de Jair Bolsonaro com o Congresso Nacional, Guedes afirmou que o desafio é de todos no governo, e não somente do presidente da República.

    “A lei básica é respeitar para ser respeitado. E vale para os dois lados. Se não respeitar o Congresso, o Congresso não vai respeitar. Se o presidente não respeitar a política, a política não vai respeitá-lo. Temos de saber que somos uma coordenação, uma inteligência descentralizada e temos de ter cooperação”, declarou.

    O ministro classificou os últimos conflitos entre os dois poderes como “choques de acomodação”. Segundo ele, “depois da crise de acomodação”, Bolsonaro entende que tem de governar para todos os brasileiros.

    “Só não quer governar do jeito que ele prometeu que não seria. Mas os novos interlocutores vão fazer a nova politica. Tem um monte de gente nova que vai trilhar esse caminho”, acrescentou.
    O presidente da Câmara, Rodrigo Maia — Foto: Fábio França/G1
    Rodrigo Maia

    Depois de atritos com o presidente Jair Bolsonaro, Rodrigo Maia afirmou no seminário ter perdido as condições de ser um articulador político.

    O presidente da Câmara disse que foi mal compreendido, pois "parecia" que ele estava querendo se beneficiar dessa articulação.

    "Eu não tenho mais as condições que eu tinha até um mês atrás de ser um articulador político. Posso responder o seguinte: se o governo quiser votar no dia 15 de junho [a reforma da Previdência], a pauta está dada. Se o governo vai ganhar, você pergunta para o ministro Onyx (Casa Civil). Eu perdi as condições de cumprir um papel porque fui mal compreendido, parecia que eu estava querendo me beneficiar de uma articulação política", disse.

    Em outro momento, falou sobre o relacionamento de Bolsonaro com o Legislativo. Ele disse não estar 'chateado' com o presidente da República, mas que não será "mulher de malandro".

    "Eu imaginava que a gente pudesse ter no governo uma Presidência de coalizão. O presidente discorda, e eu respeito. E talvez ele tenha razão. Talvez ele tenha uma interpretação equivocada do que seria uma articulação entre o Executivo e o Legislativo. Agora, só não vou ficar no meio dessa briga, levando pancada da base eleitoral do presidente. Só isso. Não sou obrigado a me submeter. Não vou ser mulher de malandro, ficar apanhando e achar bom. Só isso", declarou.

    Por Alexandro Martello e Gustavo Garcia, G1 — Brasília



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