Segundo David Willian da Silva, Edison Brittes ficou descontrolado quando eles já estavam no carro, com Daniel Correa dentro do porta-malas. Corpo do jogador foi encontrado com sinais de tortura na Região Metropolitana de Curitiba.
Um dos suspeitos de envolvimento na morte de Daniel Freitas afirmou, em depoimento à polícia, que Edison Brittes Júnior disse que mataria o jogador após ver algo em um telefone celular. Isso ocorreu no momento em que eles estavam no carro, com Daniel dentro do porta-malas.
David Willian da Silva, de 18 anos, foi interrogado na tarde de sexta-feira (9) e afirmou que Edison Brittes ficou descontrolado, mas que não sabe o que ele viu no celular.
“Tudo estava tranquilo dentro do carro, na intenção de deixar Daniel no meio da rua, para passar vergonha, e que Edison trazia consigo um celular, que não sabe se era dele ou não, e que Edson estava normal e que, ao ver algo no aparelho celular, ficou descontrolado e disse que mataria Daniel”, diz um trecho do termo de interrogatório.
O jogador de futebol Daniel Freitas, de 24 anos, foi encontrado morto em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, em 27 de outubro.
David e Ygor King, de 19 anos – outro suspeito de envolvimento no crime e que também foi ouvido na sexta – disseram que não desceram do carro quando Daniel foi retirado do porta-malas.
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Edison Júnior, a filha Allana, e a esposa dele, Cristiane; eles estão presos acusados da morte do jogador de futebol Daniel — Foto: Reprodução/TV Globo |
Com base em inquérito policial a que a RPC teve acesso e nos depoimentos das testemunhas, o G1 reconstitui o que houve e aponta as divergências:
CHEGADA - Daniel chegou a Curitiba às 21h30 de 26 de outubro, uma sexta-feira. Ele deixou as malas na casa de um amigo, tomou um banho e seguiu para uma festa antes do aniversário de Allana.
BALADA - Por volta da meia-noite, Daniel e um amigo foram a uma casa noturna no Batel, em Curitiba, para o aniversário de Allana, filha de Júnior e de Cristiane; ele era convidado de Allana. Os convites foram entregues ao jogador e o amigo pelo pai da aniversariante.
'AFTER' - Já na manhã de sábado, 27 de outubro, deixou a casa noturna e embarcou em um carro com amigos para continuar a festa na casa de Allana; a aniversariante, os pais e mais alguns amigos também foram, em outros carros;
AUSÊNCIA - Uma testemunha declarou à polícia que todos ficaram no fundo da casa bebendo e conversando, e que em seguida Cristiane e Allana, mãe e filha, foram dormir. Alguns minutos depois, Daniel saiu da vista do grupo;
MENSAGENS - Em um grupo de Whatsapp com amigos, às 6h36 da manhã, Daniel diz estar na casa da aniversariante. Às 8h09, em outra conversa, escreve: "Vim para Curitiba... Niver de uma mina". Às 8h17, diz a um amigo, também em mensagem, que iria "comer a mãe" da aniversariante, e que o pai de Allana também estava no local.
FOTOS - Às 8h34, ele diz: "comi ela mlq [moleque]". Também via aplicativo, envia duas imagens, nas quais Daniel aparece na cama, ao lado de Cristiane, que está dormindo. Em seguida, ele se despede. Foi a última conversa de Daniel com os amigos.
Divergências
Aqui começam as divergências:
1 - GRITOS
Segundo a testemunha, Edison Júnior, ainda na área externa da casa com os demais convidados da festa, percebe a ausência de Daniel e sai para procurá-lo. Logo depois, a testemunha passa a escutar gritos dentro da casa.
À RPC, Edison Junior disse ter ouvido Cristiane gritando por "socorro". "De repente, uns 40 minutos [depois] que eles tinham chegado, eu escuto gritos, socorro, socorro, socorro. Fui entrar no meu quarto, a porta fechada. Pensei: meu Deus, a porta fechada. A Cris não fecha a porta. Quando eu me deparo, o Daniel está em cima dela, tentando estuprar a minha mulher. Nesse momento, que eu vi isso, eu saí de mim. Eu fiquei desesperado".
Diferente do que havia afirmado na entrevista, ao depor, Edison disse que encontrou a porta trancada e ouviu dois gritos de socorro. Ele afirmou que foi até a janela e viu Daniel de cueca e camiseta, em cima da esposa, quando pulou a janela e pegou Daniel pelo pescoço.
Em depoimento à polícia, Cristiane disse que acordou com Daniel deitado sobre ela, só de cueca.
Após ouvir testemunhas, a polícia disse que Daniel não tentou estuprar e não manteve relações sexuais com a esposa de Edison Júnior.
O advogado de testemunhas que estavam na casa, que não tiveram a identidade revelada, afirmou que seus clientes ouviram gritos do jogador, ao ser espancado, e não ouviram gritos de Cristiana. As testemunhas também disseram que não houve arrombamento.
Em um vídeo gravado pela defesa da família Brittes, Allana disse que abriu a porta do quarto e flagrou Daniel com a mãe. A porta foi submetida à perícia para verificar eventual arrombamento. O delegado Amadeu Trevisan disse que não houve arrombamento da porta.
2 - ROUPA
Edison Junior disse à RPC que colocou pijama na esposa e a pôs na cama. Em depoimento à polícia, Allana disse que foi ela quem colocou o pijama na mãe e que ela continuou na festa da casa por alguns minutos antes de ir se deitar. A polícia, no entanto, afirma que Cristiane estava "vestida com o vestido que estava usando na festa e com o mesmo colar" com base nas fotos que Daniel compartilhou com um amigo.
3 - ARMA
Edison Junior disse, na entrevista, ter matado Daniel com uma faca, que estava dentro do seu carro; a testemunha disse que o empresário pegou uma faca ainda na cozinha.
Ele preferiu ficar em silêncio no interrogatório quando foi questionado sobre como o jogador foi morto, mas assumiu toda a autoria do crime. Ao ser perguntado sobre a faca e sobre o pênis do jogador, Edison disse que já colaborou e informou onde os objetos foram arremessados.
As testemunhas ouvidas pela polícia, no entanto, disseram que Edison Júnior pegou a faca na cozinha de casa. De acordo com o depoimento de uma das testemunhas, era uma faca de cerca de 20 centímetros, sem serra.
Depois de espancado, Daniel foi levado dentro de um carro por Edison Júnior e mais duas pessoas para um matagal, onde o corpo foi encontrado. A faca, jogada num riacho, ainda não foi encontrada.
Além disso, em entrevista à RPC, Edison disse que nunca teve uma arma de fogo, contudo o empresário tem dois Boletins de Ocorrência registrados contra ele envolvendo arma de fogo.
Combinação de versões
Segundo a testemunha, Allana e a família chamaram-na para combinar uma versão na segunda-feira sobre o desaparecimento de Daniel. Essa testemunha disse que a família orientou o que deveria ser dito, caso fosse procurada, pela polícia.
De acordo com a testemunha, Edison Júnior propôs que eles "fechassem um elo", e que se alguém falasse algo, ele saberia quem era. A testemunha disse que entendeu a fala como uma ameaça.
No depoimento, Edison confirmou que combinou um encontro em um shopping de São José dos Pinhais, com três pessoas que estavam na casa, e disse que o objetivo era “protegê-los”.
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Edison Brittes Júnior foi preso na quinta-feira (1º) — Foto: Reprodução/RPC |
Suspeito ligou para família de Daniel após o crime
Segundo o advogado de defesa da família, Edison Júnior ligou para dar os pêsames à mãe do jogador Daniel na segunda-feira (29), dois dias após a morte do rapaz.
Allana, filha de Edison Júnior, também entrou em contato com a família do jogador após a morte de Daniel.
A aniversariante trocou mensagens via WhatsApp com a tia do jogador de futebol um dia depois do crime.
Questionada pela família onde estaria Daniel, Allana respondeu que não sabia dele, que não houve briga na casa dela e que o jogador foi embora, sozinho, por volta das 8h da manhã de sábado.
Celular do jogador
Edison Júnior disse no interrogatório que o aparelho celular de Daniel havia ficado caído no quarto e que foi quebrado por um dos homens que ficou na casa, enquanto ele saiu de carro com o jogador.
Segundo o depoimento do empresário, após voltar, ele jogou fora o celular quebrado, sem antes disso, ter encostado no aparelho.
Outros suspeitos
A Polícia Civil do Paraná estava procurando por outros suspeitos que teriam participado da morte de Daniel.
"Sabemos que três pessoas entraram com ele e o jogador dentro do carro para matar Daniel", afirmou o delegado Amadeu Trevisan, da Delegacia de São José dos Pinhais, no dia em que Edison Júnior foi preso.
Em 5 de novembro, Eduardo Henrique da Silva, um desses suspeitos, se apresentou à Delegacia de São José dos Pinhais. Ele mora em Foz do Iguaçu, oeste do Paraná, tem 19 anos e é primo de Cristiana. Eduardo foi preso preventivamente na quarta-feira (7).
O advogado dos outros suspeitos foi à Delegacia de São José dos Pinhais, também no dia 5, e disse que eles estavam na Região de Curitiba à disposição para prestar esclarecimentos. A polícia considera os dois suspeitos foragidos.
O delegado disse que o jogador não teve como reagir à agressão que sofreu dentro da casa. Ainda conforme o delegado, Daniel estava muito embriagado.
Visita ao local do crime
O promotor Milton José, que acompanha as investigações, foi até o local onde o corpo de Daniel foi encontrado. Segundo ele, o jogador estava vivo quando chegou ao local. Ele também disse que havia muito sangue próximo à rua, e que não havia sangue onde o corpo foi encontrado.
Daniel
O meia Daniel estava emprestado pelo São Paulo ao São Bento, time que disputa a Série B do Campeonato Brasileiro. Em 2017, jogou no Coritiba.
Daniel nasceu em Juiz de Fora (MG) e tinha 24 anos. Revelado pelo Cruzeiro, o meia também passou pelo Botafogo e Ponte Preta.
O atleta foi velado e enterrado em Conselheiro Lafaiete (MG), onde a família dele mora.
Por G1 PR e RPC

