CAMPO GRANDE (MS),

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    23/01/2018

    PONTA PORÃ LINHA DO TEMPO| Memórias históricas, culturais e desportivas. O Fim do Campo da Figueira para o início da modernidade educacional, politico administrativa da fronteira.

    Para compreendermos o presente precisamos analisar o passado, através de pesquisas documentais e narrativas orais da memória cultural dos cidadãos da região de fronteira, que antes de nós em seu tempo ajudaram e muitos ainda contribuem com a historiografia da política e desportiva da região.
    Ponta Porã Esporte Clube, equipe campeã do campeonato municipal de 1963, no antigo “estádio” campo da figueira, o mesmo era localizado onde hoje se encontra construído o prédio da atual sede da Prefeitura Municipal de Ponta Porã, jogadores presentes nessa época: Adão Bueno, Omenélio (Hélio Bueno), Lobão, Nicolau Quintana, Rui, Lacuna, também estavam presentes Wilson Monteiro, Cacho entre tantos outros saudosos atletas deste tempo, registrado nesta foto épica - Arquivo pessoal de Adão Bueno
    Década de 60, Ponta Porã uma pequena cidade do interior Estado de Mato Grosso, como de costume nestes tempos os torneios, competições municipais e regionais eram realizadas no campo municipal da figueira que se localizava onde hoje se encontra o atual Paço Municipal (Prédio da Prefeitura Municipal de Ponta Porã) e a Escola Estadual Joaquim Murtinho, que na sua inauguração se denominava Centro Educacional João Pinto Costa, entre as ruas Antonio João e General Ozório tendo como travessas a Rua Guia Lopes que passa em frente da entrada principal da Prefeitura e Rua Sete de Setembro na travessa que se localiza de fundo da Prefeitura, em frente à praça, nesta época as estruturas não existiam, sendo este local e toda sua extensão pertencente ao campo da figueira.

    Por que campo da figueira? O nome fora dado nestes tempos, por existir imensas figueiras nesse local, árvores monumentais e antigas que faziam parte do desenvolvimento histórico da cidade, por servir de ponto de referencia a tropeiros e viajantes.
    Equipe renomada do Ponta Porã, com altetas que fizeram historia em seu tempo. Erve Roncatt, Roberval Roncatti, Betolino Bueno, Saturnino, Elídio, Quintana, Omenélio Bueno, entre outros grandes atletas deste tempo - Arquivo pessoal Adão Bueno
    O campo era área destinada a eventos esportivos, (prática de desportos futebol de gramado) o mesmo era cercado por taboas de aproximadamente dois metros de altura, que rodeava todo o quarteirão, a parte interna existia uma cerca que separava o gramado (campo) das arquibancadas, e das torcidas, que neste tempo defendia com alma e paixão suas equipes de coração, com gritos e rimas para atacar o adversário e defender sua equipe, quase sempre um entrevero (discussão, briga) surgia, mas a turma do “deixa disso” e terminava com tal confusão, mas se fosse decisão segundo relatos de quem viveu e participou nesses tempos, podia ter certeza que o entrevero (brigas) seria grande, pois como a cerca que separava a torcida dos atletas era baixa facilitava ora ou outra um torcedor mais entusiasmado dar uns cascudos (tapas) no atleta da equipe adversária, por esse acontecimento os atletas evitavam passar perto da cerca quando estavam jogando para não levar os cascudos (tapas). 

    Segundo relatos dos participantes destes eventos, o respeito e discrição, pois as senhoras e senhoritas que nestes tempos, acompanhadas de seus familiares assistiam aos jogos, onde palavrões eram proibidos, e depois dos jogos tudo voltava à normalidade e as diferenças ficavam no gramado, para ser resolvidas no próximo jogo, pois os mais entusiasmados eram conduzidos gentilmente até a saída do campo pelos “fundilhos do calção”. 

    O portão de entrada se localizava em baixo da antiga figueira centenária da prefeitura, que rachou devido a sua idade, peso e adversidades naturais, que contribuíram para sua extinção. Nestes tempos os campeonatos municipais e regionais tinham disputas acirradas entre as equipes, que tinham jogadores renomados a nível nacional e internacional já que também chamavam jogadores do país vizinho Paraguai, para reforçar o elenco, podendo ser citados: o centro avante Hélio Bueno ou Omenélio jogador renomado tendo jogado em equipes de renome do futebol paulista e vindo se aposentar no Ubiratan de dourados, atacante camisa dez Roberto da Cruz Urizar (Acostinha) atleta e desportista renomado tendo jogado nos anos áureos do América do Rio de Janeiro, Os irmãos Roncatti sendo eles: (meia) Roberval, atacante Erve e meia Ademar, Adão Bueno político e desportista que na juventude jogou em times de renome da região fronteiriça e também de equipes renomadas na época de São Paulo, Os irmãos Sargento Aníbal e Sargento Joel, Atacante Aristides Bobadilha que jogou em equipes da região e de renome do interior paulista, futuramente formando se professor de Educação Física e sendo ele o autor do gol inaugural do futuro estádio Aral Moreira, zagueiro Tio Quarenta, Zagueiro Davi Campagnolli, Lobão Quintanda, o goleiro Dario, os irmãos Nene e Rodrigo Lageano, Fininho, meia Alicate, meia Tolonto, o Goleiro Bertolino Bueno, Picolé, o goleiro Eraldo Azambuja, Ético Azambuja, ponta direita Nicolau Quintana, Ponta esquerda Raul, zagueiro Ortiz, ponta esquerda Dinho Costa Ribeiro, Goleiro Árido Rodrigues ou Tarzan, goleiro Jairo Portela, Atacante Arguelho, Goleiro Caveira, Sargento Simbaldo, tantos outros que passaram pelo gramado do campo da figueira e deixaram saudade.

    As principais equipes da fronteira eram: Ponta Porã que tinha como proprietário o senhor Sebastião Roncatti ou Tião, Comercial do senhor Ezat Jeorges , Internacional do senhor Geraldo Costa Ribeiro, Guararapes Do senhores Aníbal e Joel, Operário do Teteco e da cidade de Pedro Juan Caballero Paraguai as equipes: Dois de Maio, Aquidaban e Obrero. 

    Na lembrança de muitos fronteiriços que vivenciaram estes fatos históricos, existiam duas figuras um tanto folclóricas da época por serem torcedores um tanto fanáticos, o senhor Belmiro Albuquerque que defendia a equipe do Internacional e o senhor Honorato Campagnolli que defendia a equipe do Comercial, segue relato de quem presenciou tais eventos esportivos na fronteira, que o campo da figueira lotava não só para ver o jogo entre a equipe do Internacional contra a equipe do Comercial, mas também pra ver e escutar os dois torcedores fanáticos defendendo suas equipes se atacando e proferindo insultos um contra o outro, até o termino do jogo, o fato curioso e que depois ambos saiam abraçados e dando gargalhadas.
    Turma de Formando de 1959, Ginásio Estadual São Francisco de Assis - Ponta Porã MS
     Arquivo pessoal de Sigird Pockel de Faria
    Segue outro fato pitoresco que acontecia no campo da figueira, quando ocorria o confronto esportivo entre as equipes do Ginásio São Francisco e Colégio Paroquial São José, no qual o grito de guerra entre as torcidas formadas por alunos das entidades estudantis, que utilizavam a mesma rima provocativa, dependendo de quem estava ganhando, a rima era da seguinte forma: Aço, aço, aço São Francisco é um “Pichaço” e osso, osso, osso São José é um colosso, se a equipe do São José estava ganhando se fosse ao contrario logo invertia a rima Aço, aço, Aço São José é um “Pichaço”, e osso, osso, osso São Francisco é um colosso, Torcidas e torcedores muito diferente dos dias atuais.
    Imagem da fachada da antiga Escola Paroquial São José, década de 60, entrada que se localizava na Avenida Brasil.
    O fim do campo da figueira na década de 70 se deu pelo fato que no local do campo seria construído o novo prédio da prefeitura, por que o antigo, que se localizava na Avenida Brasil onde hoje funciona a Casa dos Conselhos, já se encontrava pequeno naqueles tempos, e o Governo do Estado que tinha como seu governador Pedro Pedrossian tinha a intenção de usar uma parte do local do campo da figueira para a construção de uma grande escola de estrutura além do comum para época, Hoje Escola Estadual Joaquim Murtinho.
    Em destaque vista aérea do "Centro Educacional José Pinto Costa" localizado na Rua General Osório, hoje Escola Estadual Joaquim Murtinho. Pode observar ao fundo o prédio "11° Regimento de Cavalaria" que foi concluído em 1946 - Imagem década de 70 publicada por: Rubens dos Reis Duarte
    Segue relato de um fato curioso, quando iniciou a construção e finalização do atual Paço Municipal o então prédio da prefeitura de Ponta Porã pelo então prefeito visionário da época Aires Marques que tanto contribuiu para o progresso e desenvolvimento da região fronteiriça, o mesmo gerou certa confusão os então na época opositores estavam inquietos com modelo de arquitetura que tinha o formato da Letra A e Letra M, Os políticos de oposição tinham como Aires Marques, e não aceitava que o novo prédio fora construído com essa intenção, em sua defesa com toda sua sabedoria e inteligência de político experiente e visionário nestes tempos, prefeito Aires Marques em seu discurso disse que os senhores cometiam um grande engano ao achar que o prédio da prefeitura seria uma homenagem a ele Aires Marques, pois o prédio na verdade representado pela letra A e letra M seria em referencia que ali naquele local era a nova Administração Municipal, para o povo por que além do paço Municipal o mesmo seria composto de um jardim e uma praça popular, calando até o mais cético opositor, e arrancando aplausos de todos os presentes, esse era Aires Marques, político popular que adentrava as casas, caminhava pelos bairros arrancando sorrisos e proporcionando alegrias a população fronteiriça de outras épocas. 
    Prédio da Prefeitura municipal de Ponta Porã-MS, construção iniciada na Gestão do Prefeito da época Aires Marques sua estrutura lembra a letra “AM” que gerou polêmica neste período histórico do desenvolvimento de Ponta Porã, por lembrar as iniciais da letra de “Aires Marques”, que se defendeu do equivoco dizendo que AM do Prédio Municipal era de "Administração Municipal" , isso em outras épocas. foto década de 90.
    As mudanças são necessárias o progresso é uma ferramenta que vem auxiliar o desenvolvimento regional, sócio econômico, politico e cultural. O que se deve deixar em ressalva, que não necessariamente uma nação precisa esquecer sua origem historiográfica para traçar novos caminhos, uma nação precisa aprender com passado para dar seguimento no desenvolvimento no presente. 

    Fonte. SEREJO. Hélio. Pialando... No Mas. Uma homenagem de carinho a Ponta Porã e Pedro Juan Caballero. Tupi Paulista, SP. Versiprosa, 1989.

    REIS. Elpídio. Ponta Porã Polca Churrasco e Chimarrão. Rio de Janeiro, RJ. Rio. 1989.

    LIMA, Astúrio Monteiro de. Mato Grosso de outros tempos / pioneiros e heróis. 2 Ed. São Paulo. Editora Soma. 1985.

    MAGALHÃES, Luiz Alfredo Marques. Retratos de Uma Época: Os Mendes Gonçalves & a CIA. Matte Laranjeira. Ponta Porã, MS. Nova Edição. 2014.

    MAGALHÃES, Luiz Alfredo Marques. Rio Paraguay da Gaíba ao Apa. Campo Grande, MS. Alvorada. 2008.

    Pesquisador: Prof. Yhulds Giovani Bueno. Pós Graduado em Ensino de História e Geografia. UNIVALE Fac. Integradas do Vale do Ivaí. Mestrando PPGDRS/UEMS/Unidade Ponta Porã-MS


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