CAMPO GRANDE (MS),

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    28/09/2017

    Programa de igualdade racial e lançado em Campo Grande

    © Divulgação
    Lançado na noite do dia 26 pela Aegea, holding da Águas Guariroba, o programa “Respeito dá o tom” busca enfrentar o racismo através de oportunidades no mercado de trabalho. O propósito da empresa é contribuir para a redução da desigualdade que hoje existe no Brasil: apesar de 54% da população ser formada por pessoas da raça negra, nas maiores empresas que operam no país, apenas 4,7% dos postos de direção (quadro executivo) e 6,3% dos cargos de gerência são ocupados por negros.

    O propósito é que o quadro de profissionais que atuam na companhia - que tem como missão ampliar o acesso dos brasileiros à água e esgoto tratados - reflita a diversidade da população atendida. “Movidos pela vontade de quebrar essas barreiras formadas por preconceitos históricos, a Aegea se une a essa causa e convida vocês a compartilhar dessa caminhada que começa hoje por Campo Grande e deve ser ampliada por todas as cidades onde a empresa atua. Convidamos vocês a compartilharem a ideia de gerar oportunidade para o negro no Brasil”, afirmou o diretor regional da AEGEA, Radamés Casseb, na abertura do evento.

    A solenidade realizada no Yotedy contou com a presença de artistas, representantes do poder público e de movimentos que lutam pelos direitos dos negros em Campo Grande. Um dos líderes do programa Respeito dá o tom, o executivo da Aegea Josélio Alves Raymundo, contou como sentiu na pele a desigualdade racial. “No meu ambiente de trabalho, eu via que era um dos únicos negros ali. Tive condições de estudar e achei que esse cenário mudaria com o tempo, mas não foi o que aconteceu”.
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    O programa “Respeito dá o tom” já está em prática e englobará três pilares de atuação: empregabilidade, desenvolvimento e relacionamento. “Iniciamos com rodas de conversas sobre o assunto, convidamos representantes dos movimentos para conversar com nossa equipe. Criamos um comitê de igualdade racial em cada região. O programa está ganhando força com a implantação nas 48 cidades atendidas pela Aegea”, afirma Raymundo.

    Sim à Igualdade Racial

    Durante o lançamento, a AEGEA recebeu o selo “Sim à Igualdade Racial”, do ID_BR – Instituto Identidades do Brasil – uma organização sem fins lucrativos que atua na promoção de direitos humanos e na luta pela igualdade racial da população negra, através da inserção no mercado de trabalho.

    “O selo simboliza as práticas que serão adotadas pela empresa. Agora precisamos fazer a igualdade racial sair do papel”, disse a diretora do ID_BR Luana Genot, que conduziu o Jogo do Privilégio Branco com os presentes. Por meio de perguntas sobre a trajetória de vida, participantes brancos e negros davam passam à frente ou para trás, retratando a desigualdade racial.

    Reparação histórica

    Participaram do evento de lançamento do programa “Respeito dá o tom” representantes históricos dos movimentos pelo direito dos negros no estado. Entre eles, os advogados José Roberto Camargo de Souza e Aleixo Paraguassú – que foi juiz de direito e fundador de um instituto para apoiar jovens a ingressarem na universidade. “Quando eu estava aqui do lado do doutor José Roberto, ele me perguntou: Quando é que nós podíamos imaginar que um dia estaríamos em uma solenidade como esta?”, declarou Paraguassu em seu discurso.

    “A trajetória que culmina neste evento remonta séculos de políticas de resistência, que teve início com um navio trazendo 20 milhões de negros para as Américas”, complementou, defendendo a importância de ações afirmativas de reparação dos direitos negados à população negra durante a história do Brasil.

    Convidada a fazer uso da palavra, a procuradora de justiça Jaceguara Dantas Passos, também defendeu a importância do compromisso da sociedade com o acesso da população negra a oportunidades de estudo e trabalho. “Nosso país é um país racista, onde o negro sempre está à margem da sociedade. Não porque ele queira, mas por que ele foi inserido no segmento mais pobre do país após a libertação dos escravos”, explica.

    “Decididamente, não vivemos em uma democracia racial. Democracia pressupõe igualdade de oportunidades, o que não ocorre no nosso país. Neste sentido, quero de público parabenizar a Aegea, e dizer que esta iniciativa inédita em Mato Grosso do Sul, de combater o racismo por uma perspectiva de inclusão, é extremamente importante”, declara a procuradora.

    O evento contou com exposição de objetos e peças de artes: as bonecas negras Abayomis, produzidas pelo Coletivo de Mulheres Negras de Mato Grosso do Sul Raimunda Luzia de Brito. Também foi exposta a série de quadros Ojá – retratos de mulheres negras, da artista plástica Erika Pedraza. As mulheres presentes puderam participar ainda de uma oficina de turbantes, com Ângela Epifânio. A curadoria da exposição foi de Galvão Pretto, que expôs sua obra “Bichos”.

    Fonte: ASSECOM


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