CAMPO GRANDE (MS),

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    01/02/2017

    PONTA PORÃ LINHA DO TEMPO| Memória histórica e cultural do cotidiano da fronteira de outras épocas. A lenda do Sargento do 4º BPM

    História o causo e a lenda, para que os mesmos possam existir, precisa ser feita de pessoas, “homens e mulheres” que se tornam personagens de suas narrativas em seu tempo, de maneira a contribuírem no desenvolvimento social, cultural e político de sua cidade, região e país. Yhulds Bueno

    Ao longo dos séculos a forma mais simples de transmitir uma história, seja ela cercada de mistérios ou sobre algum acontecimento, é contando um bom e velho causo que vira lenda, muito praticado pelas gerações mais antigas da região fronteiriça e pelo Brasil.

    As lendas fornecem explicação para tudo, até mesmo aquelas que não têm explicação científica para estes fatos fora do comum, como por exemplo, acontecimentos fantasmagóricos que instigam o imaginário de todos. 

    Mas o que é uma lenda e como podemos definir? Lenda vem do latim e quer dizer “aquilo que deve ser lido” 

    Lendas são narrativas intrigantes transmitidas oralmente pelas pessoas, os famosos causos têm como característica explicar acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais, misturando fatos reais com imaginários de determinada cultura e região, que se modificam através do tempo, e quando se tornam conhecidas vão sendo registradas na linguagem escrita, sendo assim narradas de diversas formas e maneiras por autores que buscam resgatar fatos folclóricos. 

    Essa lenda que se tornou um causo é baseado em testemunhos vivos de quem presenciou estes acontecimentos, arquivos vivos que preferem ficar no anonimato. Respeitando os mesmos, será realizado o resgate através de uma narrativa deste fato intrigante, que perpetua na região de fronteira na cidade de Ponta Porã até os dias de hoje.

    Foto de Albert Braud 1926. Arquivo pessoal de Luiz Alfredo Marques Magalhães, publicado no livro Um Homem de Seu Tempo 2011. Obra da CIA. Mate Laranjeira, a mesma foi destinada para ser o quartel do corpo Militar de Polícia, que nestes tempos utilizava cavalos.
    O 4º BPM – Batalhão da Polícia Militar utilizou por longa data o prédio histórico do castelinho, posteriormente passou para o prédio localizado na Rua Antonio João nº 2244 hoje área central de Ponta Porã. 

    Na década de 70 sua localização era considerada afastada do centro da cidade, poucas casas e bairros existam nestes tempos, segundo relato de praças antigos da corporação, que eram efetivos nesses tempos, uma época difícil para fazer o patrulhamento da região de fronteira.

    Foto 1945. Arquivo pessoal de Luiz Alfredo Marques Magalhães, publicado no livro Um Homem de Seu Tempo 2011. Membros do Aero Clube de Ponta Porã, ao fundo o castelinho que serviu de sede do Governo do Território Federal ao centro da foto ladeado por autoridades Miliar Ramiro Noronha que foi o governador do território até sua Extinção. Posteriormente por décadas o castelinho foi utilizado como pela\Polícia Militar.
    Nesses tempos o exército também fazia sua patrulha a cavalo ou mecanizado com caminhão e jipe (jeep) que tinha uma metralhadora, a patrulha mecanizada do quartel fazia o patrulhamento mais na faixa de fronteira afastada coibindo o contrabando, a patrulha a cavalo ficava na área de periferia e urbana da cidade e às vezes a PE Polícia do Exercito realizava a ronda a pé pela cidade na área central.

    O contingente do 4º BPM era de poucos policiais nesses tempos as escalas de serviços eram duras para poder suprir a necessidade da pequena cidade de fronteira, as dobras eram inevitáveis, quem distribuía as escalas era um sargento que realizava os serviços internos gerais, o mesmo utilizava uma máquina de escrever datilografando e registrando todos os acontecimentos vinculados ao Batalhão, o sargento também realizava rondas para auxiliar nas escalas de serviço.

    O fato intrigante ocorre com a morte do sargento quando o mesmo se dirigia para atender uma ocorrência na década de 70, segundo relato de quem por longa data prestou serviço no 4º BPM, muitos escutavam o clicar da máquina de escrever no mesmo ritmo que o sargento realizava suas tarefas no batalhão, depois do mesmo já ter falecido e quando o PM (Policial Militar) que estava na escala de serviço se dirigia para observar a origem do barulho o mesmo desaparecia, abrir e fechar de gavetas como se o sargento ainda estivesse realizando seus afazeres era corriqueiro nesses tempos, que os PMs antigos nem se importavam mais com esses acontecimentos sobrenaturais.

    Ponta Porã Linha do Tempo. Arquivo pessoal de Nilza Terezinha: Foto do acervo de seu pai Itrio Araújo dos Santos conhecido como (cabo Itrio). Esta imagem de soldados do destacamento do 11º RC década de 40 com o jeep que fazia neste período histórico o patrulhamento na região de fronteira para desta forma coibir o contrabando na região.
    O mesmo perpetuou por anos, mesmo depois da modernização e substituição das maquinas de escrever por computadores, este fato ainda e mencionado nos dias atuais não só por soldados antigos da corporação (praças) já aposentados, mas por muitos que preferem ficar no anonimato, se preservando, mas confirmam a presença de alguém que até acorda com batidas quem esta repousando no dormitório como se estivesse chamando para o serviço, ou acompanha pelos corredores do batalhão. 

    Ponta Porã Linha do Tempo. Arquivo pessoal de Nilza Terezinha: Foto do acervo de seu pai Itrio Araújo dos Santos conhecido como (cabo Itrio), que serviu no 11º Regimento de Cavalaria na cidade de Ponta Porã na década de 40. Na imagem cabo Itrio e companheiros soldados do 11º RC PP realizando instrução e treinamento de tiro década de 40.
    Verdade ou lenda, muitos afirmam que o sargento que teve seu fim trágico cumprindo seu dever na década de 70, ainda está rondando e realizando seu trabalho, pois seus passos nos corredores e o clicar da máquina de escrever ainda ecoa pala madrugada. Essa é uma homenagem a todos esses valorosos soldados e oficiais que atuaram e atuam no 4º BPM de fronteira, que diuturnamente com toda adversidade não medem esforços para proteger e resguardar a região de fronteira.

    Resgatar lendas causos do cotidiano de um povo é perpetuar sua história e valorizar todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram e ainda hoje contribuem para o desenvolvimento sócio econômico e cultural desta rica região de fronteiriça.

    Pesquisador: Yhulds Giovani Bueno. Professor de qualificação profissional, gestão e logística (Programas Estaduais e Federais). Professor da Rede Municipal de Educação e Faculdades Anhanguera Polo Ponta Porã - MS.

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