A polícia apreende armas e celular durante operação na Grande São Paulo - Foto: Zanone Fraissat/Folhapress |
A polícia prendeu nesta quinta-feira (8) ao menos nove suspeitos de participar da chacina que deixou 19 mortos nas cidades de Osasco e Barueri, na Grande SP, no dia 13 de agosto.
A Folha apurou que oito são policiais militares e um pertence à guarda civil metropolitana. Um dos PMs teria sido preso em flagrante, já que os policiais da força-tarefa encontraram munição irregular em poder dele. Segundo a polícia, cinco tiveram prisão preventiva decretada e três temporárias. Balanço parcial da polícia aponta ainda que ao menos duas armas, capacetes e um celular foram apreendidos na operação desta manhã.
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública, a força-tarefa cumpre seis mandados de prisão e 28 de busca e apreensão em 36 lugares da Grande São Paulo. Os mandados foram expedidos pela Justiça Criminal de Osasco e pela Justiça Militar.
No total, 457 policiais participam da operação, sendo 201 policiais civis do DHPP e DEMACRO (Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo), e 256 policiais militares da Corregedoria da Polícia Militar, para a garantia da realização simultânea dos mandados judiciais.
A secretaria informou, por meio de nota, que mais detalhes sobre a operação só serão fornecidos à tarde em entrevista à imprensa na sede da SSP, no centro da capital paulista.
Um dos suspeitos é levado para a sede do DHPP, na região central de São Paulo - Foto: Zanone Fraissat/Folhapress |
Vítimas
Entre as vítimas da chacina, havia apenas uma mulher, a adolescente Letícia Vieira Hillebrand da Silva, 15, que morreu no dia 27 de agosto em decorrência de uma infecção abdominal. Todas as outras vítimas eram homens.
A principal linha da investigação é que tenha sido retaliação de policiais ao assassinato de um PM por bandidos que assaltavam um posto de combustível, no dia 8 de agosto.
A força-tarefa criada pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) detectou indícios de ligação do crime com outros 13 assassinatos ocorridos nos cinco dias anteriores. Com isso, a apuração já trabalha oficialmente com a hipótese de um mesmo grupo ter matado 32 pessoas e deixado dez feridos em cinco municípios vizinhos entre si na região metropolitana: Osasco, Barueri, Carapicuíba, Itapevi e Santana do Parnaíba.
Apesar de o governo de São Paulo ter prometido uma resposta imediata aos crimes, Fabrício Emmanuel Eleutério, 30, é o único detido até o momento pela série de crimes na Grande São Paulo.
O soldado da Rota é suspeito de integrar um grupo de extermínio, com atuação em Osasco, que chegou a ser investigado em 2013. Os advogados Nilton Nunes e Flávia Artilheiro, defensores de Eleutério, negam a participação do PM na chacina. Segundo eles, ligações telefônicas e conversas de Whatsapp feitas pelo soldado no momento dos homicídios provam sua inocência.
Os indícios contra Eleutério, contudo, perderam força ao longo de um mês e meio de investigação – levando a PM a cogitar sua liberação. O rastreamento do carro e a quebra de sigilos telefônicos enfraqueceram as suspeitas da polícia contra Eleutério.
Em documento apresentado à Justiça Militar, a Corregedoria da PM escreveu que "a única prova de que dispomos é reconhecimento pessoal" e admitiu pedir "a imediata liberação do suspeito" se for demonstrado "não mais haver necessidade" da "medida cautelar privativa de liberdade".
O "reconhecimento pessoal" citado pela polícia é de um suposto sobrevivente da chacina –posto sob suspeição pela Justiça pelo fato de não terem sido apresentadas provas de que ele foi atacado nem de como a investigação conseguiu encontrá-lo.
A quebra dos sigilos telefônicos não ajudou a confirmar a versão do suposto sobrevivente –não foi encontrada ligação do soldado da Rota com demais PMs investigados. O celular de Eleutério, segundo a quebra dos sigilos, foi usado na casa de sua noiva às 22h36 no dia do crime – os ataques, segundo a polícia, ocorreram das 20h30 às 23h30. A ligação foi entre ele e sua advogada, Flávia Artilheiro.
Os dados do rastreador do carro usado por Eleutério mostraram que ele ficou na casa da noiva das 19h12 às 22h36 no dia do crime. A noiva e a mãe dela afirmaram em depoimento que eles ficaram em casa naquela noite para comer pizza. A Corregedoria diz, porém, que esses depoimentos devem ser vistos com "cautela" em razão do envolvimento emocional e familiar.
E, como Eleutério pode ter saído de casa em outro carro e seu telefone pode ter sido atendido por outra pessoa na casa da noiva, a PM não descartou, por ora, a ligação do policial com a chacina. O soldado da Rota também é investigado por cinco chacinas anteriores -policiais ouvidos pela Folha dizem haver fortes indícios de envolvimento dele em parte dos crimes, mas a defesa de Eleutério alega inocência.
HISTÓRICO DE CRIMES
Principais chacinas de SP em 2015 tiveram suspeita de participação de policiais
24.jan - Mogi das Cruzes (Grande SP)
> Criminosos chegaram em um Volkswagen Fox e abriram fogo contra um grupo que conversava na rua
2.fev - Vila Jacuí (zona leste)
> Jovens conversavam perto de um campinho de futebol quando ao menos sete homens atiraram
9.abr - Jaçanã (zona norte)
> Quatro pessoas morreram após serem baleadas na rua e em três ataques próximos
18.abr - Quadra da Pavilhão Nove (zona oeste)
> Crime aconteceu durante confraternização. Em maio, um PM e um ex-PM foram presos acusados de participar do crime
1º.jul - Jardim São Luiz (zona sul)
> As 6 vítimas estavam no bar quando o grupo de atiradores chegou. Os suspeitos fugiram em um carro
13.ago - Osasco e Barueri (Grande SP)
> A principal linha de investigação é a vingança de PMs pela morte de um colega. Um soldado suspeito da Rota foi preso
CONTÉM IMAGENS FORTES
Fonte: Folha de S. Paulo
Por: ROGÉRIO PAGNAN / THIAGO AMÂNCIO / SIDNEY GONÇALVES DO CARMO - DE SÃO PAULO
Link original: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/10/1691579-policia-prende-ao-menos-4-suspeitos-de-participar-de-chacina-na-grande-sp.shtml