Prefeito disse que redução nos investimentos não trouxe prejuízo ao evento.Governador disse que ataque a travesti está sendo investigado.
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Público da parada se concentra na frente do MASP (Foto: Marcio Ribeiro/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo) |
Cobranças por mais investimentos e segurança causaram mal-estar durante entrevista que marca a abertura da 19ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, ocorrida neste domingo (7). O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), e o governador do estado, Geraldo Alckmin (PSDB), foram questionados pessoalmente por lideranças do movimento.
Haddad foi muito criticado por ter reduzido em R$ 500 mil o valor investido no evento (no ano passado, a Prefeitura gastou R$ 1,8 milhão, enquanto neste ano foram R$ 1,3 milhão). “A promessa sua de campanha era de mais aporte”, disse Nelson Matias, um dos coordenadores do evento. Ele também pediu mais diálogo. “Nós tentamos insistentemente neste ano sentar e conversar com o prefeito. Temos vários ofícios encaminhados. A relação foi muito difícil.”
Segundo o prefeito, a redução nos investimentos não trouxe prejuízo ao evento. “O custo da Parada foi integralmente pago pela Prefeitura de São Paulo, como foi em todos os anos”, afirmou. “O que ficou de fora foi o camarote da Prefeitura, que era caro e pouco usado, e a feirinha, que foi arcada pelo governo do estado, como acontece no Rio de Janeiro. E qual é o problema disso?”
Haddad se comprometeu a receber o movimento e afirmou que representantes da administração municipal tiveram 13 reuniões com a organização da Parada. “É que às vezes nem sempre o diálogo produz a convergência em relação a algum tema. Quando não se é 100% atendido naquilo que você reivindica, você diz que faltou diálogo.”
Ataque a travesti
Várias lideranças de movimentos sociais assistiram à entrevista coletiva que abre a parada. Após Matias cobrar Haddad, alguns desses líderes questionaram o governador sobre a investigação a respeito da agressão à travesti Verônica Bolina. Ela ficou desfigurada após ser presa no 2º Distrito Policial (DP), Bom Retiro, em abril.
A mãe da travesti afirma que sua filha, presa suspeita de tentar matar uma idosa de 73 anos, apanhou de policiais após arrancar a dentadas a orelha de um investigador. Os policiais negam a agressão e dizem que ela apanhou de presos ao se masturbar na frente deles.
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Travesti fica desfigurada após prisão; Defensoria diz haver indício de tortura (Foto: Foto: Reprodução/Facebook; Divulgação/Defensoria Pública) |
Durante a coletiva um jornalista apresentou um áudio de Verônica negando que policiais a agrediram. Nela, segundo representantes de movimentos sociais, haveria uma voz de fundo, o que indicaria que ela foi coagida a falar que não foi torturada. A reprodução da gravação foi acompanhada de acusações contra a polícia de São Paulo e causou constrangimento ao governador Geraldo Alckmin e ao secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes.
Em resposta, Alckmin apresentou dados da investigação. “O caso foi denunciado pelo Ministério Público. Foi feita uma sindicância pela corregedoria da Polícia Civil, por determinação da Secretaria de Segurança Pública. Foi aberto um inquérito e toda apuração está sendo acompanhada pela presidente do conselho LGBT."
Parada
Com o tema "Eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim: respeitem-me!", inspirado na música tema de Gabriela, personagem criado por Jorge Amado, a organização da Parada quer, neste ano, resgatar a alegria da público LGBT e celebrar as diferentes identidades e o respeito à diversidade.
Ao todo, a Prefeitura vai gastar R$ 1,3 milhão na estrutura do evento. A expectativa é que os turistas devam gastar R$ 60 milhões. A cidade está cheia desde quinta-feira. Sete em cada 10 hotéis estão lotados.
Atrações
A edição deste ano conta com atrações como a cantora brasileira de música house Amanda, que mora em Nova Iorque, MC Xuxu, uma travesti que canta funk, e o MC Rico Dalasam, cantor de rap da região metropolitana.
O destaque previsto para o domingo vai para o trio organizado pela empresa Netflix. Parte do elenco da série “Orange is The New Black” estará no local. Será a vez das atrizes Natasha Lyonne (Nicky Nichols), Uzo Aduba (Crazy Eyes) e Samira Wiley (Poussey) dançarem ao som da funkeira Valesca Popozuda.
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Atrizes Uzo Aduba, Laverne Cox e Taylor Schilling, de 'Orange is the New Black' (Foto: Robyn Beck/APF Photo) |
O ator Naveen Andrews, atualmente na série “Sense8” como o personagem Jonas, também comparecerá ao evento. Ele ficou conhecido pelo trabalho na série “Lost”.
Os participantes devem se dispersar a partir das 18h, na região próxima à Praça Roosevelt, na Consolação, e caminhar em direção ao show de encerramento, que será realizado na Praça da República até por volta das 21h.
Guia
Um guia produzido pela São Paulo Turismo (SPTuris) indica alguns estabelecimentos considerados "gay friendly" - ideal para ir antes ou depois da parada. O Shopping Frei Caneca, situado próximo à Avenida Paulista, está entre as dicas.
O Museu da Diversidade, o primeiro da América Latina relacionado à temática, apresenta a mostra "Homofobia Fora de Moda", que reúne ilustrações exclusivas realizadas pela Casa de Criadores.
Para quem preferir um programa mais tranquilo, há extensa programação em uma das 280 salas de cinema da cidade, que recebem desde as grandes bilheterias internacionais até filmes do circuito alternativo. O destaque fica para o Cine Belas Artes, na Consolação. O cinema, que foi reaberto em julho de 2014, traz diversos filmes premiados e fora do circuito Hollywood.
Do G1 São Paulo
Por: Letícia Macedo