CAMPO GRANDE (MS),

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    26/01/2015

    PONTA PORÃ - LINHA DO TEMPO: Memória histórica do povoamento fronteiriço. As patrulhas volantes no tempo dos ervais.

    Foto década de 40. Acervo de seu pai Itrio Araújo dos Santos conhecido como (cabo Itrio), que
     serviu no 11º Regimento de Cavalaria na cidade de Ponta Porã na década de 40, Cabo Itrio era
     um admirador da arte de tirar fotos, desta forma ao longo dos anos ele agregou ao seu acervo
     centenas de ricas imagens da região de fronteira. Esta imagem da fazenda de criação de gado
     na região do Maemi próximo a Rincão de Julho. Arquivo pessoal de Nilza Terezinha

    Coragem marca dos bravos pioneiros fronteiriços de outros tempos, onde o respeito e a palavra empenhada eram marca “registrada” do sobre nome de uma família, o fio do bigode valia mais que assinatura de pena e tinta, e o aperto de mão selavam os negócios da região. 

    “Entre os ervateiros paraguaios sempre foi conhecida como patrulha bolante, Tanto do lado brasileiro como no lado paraguaio a sua missão era esta: prender se possível, ou matar, na fuga”. SEREJO, Hélio. Pialando... No Mas, p. 81.

    Pioneirismo, palavra bonita que esconde as dificuldades de quem se empenhou em realizar seus ideais, que no dicionário tem como significado “O pioneiro é um voluntário que deixa sua casa para mudar-se a outro lugar (frequentemente outro país)”. 

    Foto década de 50. Empreitada para formação de novas pastagens na fazenda pertencente na época
     do Drº Henrique Grion, localizada na região do “guaymbé” próximo a lugar denominado
     “naranja hai” que quer dizer (laranja azeda). Na imagem da esquerda para direita, Godofredo
     Sady Bueno, seu pai Gumercindo Bueno (in memoriam) juntamente com os peões e os
     cachorros perdigueiro que o auxiliavam. Arquivo pessoal de Deidamia Amarilha Godoy

    “Aos bravos pioneiros que desbravaram florestas e campos das terras que construíram o outrora extenso Município de Ponta Porã, aos que ali lutaram como autênticos heróis dos sertões contra todas as dificuldades e infortúnios, aos que não estudaram e aos que morreram de doenças comuns, porque nas lonjuras onde moravam não havia escolas nem médicos, aos que cruzaram campinas e matas abrindo trilhas que depois se transformaram em estradas para o progresso, aos que trabalharam muitas vezes em condições desumanas em ranchadas ervaterias, em fazendas sem conforto, para o enriquecimento da região e do Brasil”. Reis. Elpidio – Ponta Porã polca Churrasco e Chimarrão, p. 13.

    Muitos na atualidade infelizmente desconhecem esse pioneirismo, seus personagens e suas histórias de vida, desconhecem muitas vezes a sua própria origem, e toda dificuldade para se construir a história de um povo de uma região. 

    Partindo desta narrativa de Helio Serejo e Epidio Reis e vasculhando a história das patrulhas volantes com narrativas de populares que não esquecem as histórias que escutaram quando criança, das façanhas desses valentes de outros tempos. 

    Foto do acervo de seu pai Itrio Araújo dos Santos conhecido como (cabo Itrio), o mesmo era
     um admirador da arte de tirar fotos. Esta imagem estancieiros que formavam as famosas
     “Patrulhas Volantes” da região do Maemi nas proximidades de Rincão de Julho década de 40.
     Ponta Porã Linha do Tempo. Arquivo pessoal de Nilza Terezinha

    Tempos difíceis de uma fronteira de poucas casas onde os entreveros e pendengas (pendenga, desacordo, conflito, alteração, bate-boca, rixa, contenda, disputa) e (entrevero, encontro de tropas ou grupos que se misturam em desordem, lutando individualmente), tinham que ser resolvidos pelos envolvidos ou se caso buscar o auxilio das volantes que se formava só por brasileiros, ou unicamente de paraguaios dependendo de onde o conflito fora ocasionado, já se o interesse era de ambos os lados da fronteira era formada através de um acordo entre os cavaleiros participantes (arreglo de caballeros).

    Dentre as várias atividades a serem executados pela volante se destacam dois trabalhos distintos nestes tempos, que eram a patrulha ou escolta, estas poderiam ser mista com brasileiros e paraguaios ou não, os componentes de tais patrulhas eram sempre senhores já com certa experiência, mas hora ou outra um guaio (rapazote, jovem) era convidado a fazer parte da mesma.

    Hélio Serejo em sua narrativa no livro Pialando... No Mas, p. 82, comenta que: “As bolantes eram constituídas de hombres valientes que no temiam la muerte...” 

    Depois de ouvir alguns fatos ocorridos durante este período histórico da formação da fronteira de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, realmente nestes tempos onde os quatreiros (Ladrão de gado, bandidos sanguinários) rondavam a região realizando seus saques e pilhando as estâncias de modo monstruoso e desumano, as volantes também não temiam encontrar essa choldra (reuniões de gente ordinária, bandidos, de assassinos, de malfeitores), pois em mente sempre tinham um objetivo que era eliminar o problema quando encontrado, prisioneiro nesses tempos era muito difícil de fazer como não existiam cadeias apropriadas e as existentes ficavam localizadas a uma grande distancia, ou seja, dias de viagem, dificilmente as volantes realizavam prisões. 

    Estes fatos tiveram certo destaque na narrativa de Serejo, quando o mesmo menciona: “A ordem que às vezes as mesmas recebiam não variava nunca: prender se possível, ou matar, caso houvesse tentativa de fuga... Acontecia que o malfeitor encontrado, sempre tentava fugir...” Outro destaque fica a cargo da narrativa do então senhor Juan que participava de tais volantes onde o mesmo menciona que: misíon trabajosa, era conduzir prisioneiro, dias e dias, por caminhos difíceis e, ainda, hacer lecho apropriado, para o criminoso pasar la noche... Assim, o melhor e mais prático, era o tiro de boa pontaria e o sepultamento do corpo com a cruz Cristiana bien aplomada, isto para que Dios perdonase el acto de sangre... Pialando... No Mas, p. 82.

    Foto do acervo de seu pai Itrio Araújo dos Santos conhecido como (cabo Itrio), Esta imagem típico
     estancieiro da região o mesmo formava as famosas “Patrulhas Volantes” da região do Maemi
     nas proximidades de Rincão de Julho década de 40. Ponta Porã Linha do Tempo.
     Arquivo pessoal de Nilza Terezinha

    Épocas distintas da formação de nossa fronteira onde tais atos nestes períodos eram justificados pela necessidade de se manter a ordem e a segurança da região. Com o progresso, modernidade e o crescimento da região de fronteira, tais fatos históricos foram se perdendo no tempo. 

    Longe de ser uma homenagem aos acontecimentos e justiceiros de outros tempos e sim uma forma de manter viva na lembrança do povo fronteiriço para que o mesmo não se esqueça de suas origens e raízes históricas dentro do desenvolvimento e povoamento desta rica região fronteiriça.

    Dentro do pioneirismo de nossos antepassados que hoje podemos realizar os nossos sonhos e manter vivo a memória destes corajosos desbravadores da fronteira.

    “O sertanejo é, antes de tudo, um forte [...] e da figura vulgar do tabaréu canhestro reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias”.
    Euclides da Cunha.


    Pesquisador: Yhulds Giovani Pereira Bueno. Professor de qualificação profissional, gestão e logística (Programas Estaduais e Federais). Professor coordenador da Rede Municipal de Educação.