“Dia de corrida era dia de negócios, tanto no lado brasileiro como no lado paraguaio”. Hélio Serejo.
A Fronteira é cercada de histórias, causos, lendas e muito folclore, relatos feitos por gente que mora nessa região, que lembra com saudosismo de outros tempos onde a simplicidade e a palavra valia muito mais do que documento assinado.
Vamos fazer um resgate de uma dessas historias interessantes da fronteira de Ponta Porã com Pedro Juan Caballero Paraguai, que foi muito bem relatada no livro Pialando...no Mas (1989) de Hélio Serejo, ele escreve a partir da página 17 a 20 sobre os carreirista da fronteira, com uma narrativa empolgante, fala das carreiras e suas maneiras em outros tempos, onde a palavra e as testemunhas do acordo valiam mais do que documento assinado, famílias de ambos os lados se preparavam para assistir este evento, os cavaleiros mais distintos se conduziam a cavalo, os mesmos com adornos de prata, dependendo de quem estava no local, uma certeza existia, que as apostas seriam altas, pois o eventos nestes tempos eram bem organizados e na medida do possível sem entreveros, pois o respeito imperava na cancha.
A cancha brasileira ficava nesse período nas proximidades onde hoje é o cemitério Cristo Reis e o Hospital Regional Drº Jose de Simone Netto, neste lugar existia um vasto campo de guavira com muita fartura, pois enchia latas até a boca, no mesmo relato Serejo menciona que, entre os vários catadores da época se destacava a família de Ezaul Cardoso, dessa família saíram seis excelentes e consagrados aviadores, conhecidos como “Irmãos Cardosos”.
Pesquisando e buscando mais informações sobre esta cancha brasileira que existira nesta região e sobre suas histórias, descobri que a cancha se localizava onde hoje é o Horto Municipal na rua que leva o nome de Baltazar Saldanha, nesse local também se situava o matadouro do município neste período histórico da formação da região fronteiriça.
Um causo curioso desta cancha aconteceu em meados da década de 50, onde um desafio atípico aconteceu entre máquina e animal, a máquina era uma motocicleta daquele período e desafiou o melhor cavalo da região, fato inédito nunca visto até aquele momento, euforia muito comentário se espalhou pelos quatro cantos do município e da redondeza, quem venceria? A motocicleta ou o cavalo? De nome tigre o cavalo de propriedade do senhor Victor Mascarenhas, que era temido nas canchas era o grande favorito.
O fato curioso que nessa época não existia recursos tecnológicos para registrar a chegada, quem validava a vitória era uma espécie de juiz o julgador final da carreira, um senhor distinto que era nomeado entre os carreiristas para ser aquele que diria quem ganhou na chegada, nessa época se destacava o senhor Arlindo Alves (in memoriam) conhecido na região como “Caboclo” morador da Rua sete de setembro o mesmo era casado com senhora Arlinda Bueno Alves (in memoriam), “Caboclo” conhecido por andar sempre bem alinhado de terno branco ou de bombacha e sempre um belo 38 na guaiaca, mas isso em outros tempos, outras épocas distintas da nossa fronteira.
Alguns acontecimentos precediam à carreira nos seus bastidores, as tão famosas mandingas, muitos dos carreiristas se valiam dos seus mandingueiros para realizar suas rezas nestes tempos como: amarrar boca de sapo e enterrar na cancha junto com corujas amarradas para que o cavalo concorrente não conseguisse correr, eram as crendices destes tempos e todos respeitavam.
Só que naquela épica corrida da máquina contra o animal a mandinga não deu muito certo, pois a motocicleta ganhou, tem uns que dizem a reza não pega em máquina, pode até ser, mas o fato curioso relatado por quem conhece esta história, que nos primeiros metros desta corrida o cavalo estava na frente perdendo só no final.
História vira causo este segue sendo repassado pelo povo fronteiriço remanescentes de um passado cheio de mistérios típicos de nossa fronteira, o resgate de fatos históricos do passado é uma forma de manter viva estas memória cultural tipicamente fronteiriça e valorizar todas as famílias que acreditaram e acreditam no desenvolvimento de nossa fronteira.