CAMPO GRANDE (MS),

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    10/09/2013

    Na véspera do julgamento do mensalão, Dirceu diz que decisão de amanhã não será ‘o último capítulo’

    Condenado no processo do mensalão, ele afirmou que vai pedir revisão criminal e apelar a cortes internacionais

    Ex-ministro foi entrevistado pelo presidente da Fundação Perseu Abramo, economista Márcio Pochmann


    SÃO PAULO - Na véspera de o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir se aceitará apreciar os embargos infringentes, o ex-ministro José Dirceu, do PT, afirmou nesta terça-feira que a decisão de amanhã não será o “último capítulo” de seu julgamento sobre o mensalão. E anunciou que deve pedir revisão criminal e apelar a cortes internacionais para reverter a condenação por formação de quadrilha e corrupção ativa.

    Em entrevista à Fundação Perseu Abramo, transmitida ao vivo pela entidade petista, Dirceu afirmou que passou os últimos oito anos, desde que foi demitido da Casa Civil, como um “exilado” e que foi “obrigado a trabalhar como consultor e advogado”.

    Dirceu se disse vítima de setores políticos do país que, segundo ele, sentem “inveja” do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do governo petista:

    - Fui escolhido para ser um pouco símbolo desse ressentimento, mágoa e um ódio contra nós que não é natural.

    O ex-ministro deu mostras de que não acredita que será aceito pelo STF o embargo infringente que será julgado amanhã e que poderia reverter sua condenação. Ele disse que continuará lutando:

    - Isso não vai acabar com a sentença do STF. Isso não vai acabar. Quero repetir que vamos trabalhar ainda com a revisão criminal e as cortes internacionais.

    Ao presidente da Fundação Perseu Abramo, o economista Marcio Pochmann, Dirceu disse que sua vocação é a política e não a consultoria que tem prestado a diversas empresas no país:

    - Eu lutei esses oito anos. Não parei de lutar um minuto. Fizeram tudo para eu não poder trabalhar, para eu viver como um exilado. Fui obrigado a ser consultor advogado, nunca foi a minha profissão.

    O ex-ministro negou ter cometido os crimes que lhe são atribuídos no processo do mensalão:

    - Evidentemente que cometi muitos erros, mas não os que me acusam - disse o ex-ministro, que concluiu: - Fico indignado quando dizem que eu vou fugir do Brasil.

    A entrevista da fundação petista durou cerca de uma hora e vinte minutos. Apesar da proximidade da decisão do STF, Márcio Pochmann ignorou a questão e apenas, no último bloco, destinado a perguntas da audiência, o economista abordou o tema, perguntando ao ex-ministro como ele se sentia, sendo um “homem de partido, homem de Estado”, com a situação.

    Oposição perdeu o discurso

    O ex-ministro disse ainda que a oposição perdeu o discurso e que o governo petista não é “refém” da coalizão política. Dirceu excluiu o PMDB, principal aliado político do PT, da coalizão de “centro-esquerda” que, em sua opinião, deve orientar a política nacional, e citou apenas PSB, PCdoB e PDT.

    - A direita brasileira está sem discurso neste momento. Está com um discurso do passado. Não consegue pensar o Brasil como ele é agora. Tem, sim, complexo de vira-latas. Falta a ela esse sentimento nacional - disse Dirceu, afirmando que a coalizão em torno do PSDB não vê a importância do país na política regional e que também não tem “sentimento popular”:

    - É avessa ao povo, é elitista. O governo (do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso) não fez a revolução social que nos fizemos nos últimos 11 anos.

    Dirceu defendeu a reforma política e disse que o “grito das ruas” pede pelo plebiscito, ideia aposentada pela presidente Dilma Rousseff depois da má repercussão. Para o ex-ministro, apesar de avanços do governo, a população pede novos direitos sociais. Segundo ele, “felizmente a juventude brasileira tem novos sonhos, novos direitos sociais”.

    - A democracia representativa está em crise de representatividade e de legitimidade. É um sistema político dominado pelo poder econômico - afirmou Dirceu ao defender a reforma política, com financiamento público exclusivo de campanha e o voto em lista: - Precisamos de uma reforma politica, eleitoral e institucional. É preciso discutir o poder do Senado.

    A entrevista foi transmitida ao vivo pelo site da fundação petista.


    Fonte: G1
    Por: Tatiana Farah