Delegada Maria de Lourdes Cano, titular da Deaij |
Na tarde desta quinta-feira (22/11), a delegada responsável pela Deaij (Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude), Maria de Lourdes Cano, realizou interrogatório com dois adolescentes que estavam no carro que capotou e vitimou José Eduardo Menegati Manzione (que completaria 16 anos nesta terça-feira). O grave acidente ocorreu no sábado (19), quando sete menores, inclusive o motorista, estavam num Honda City, com placas de Campo Grande.
Os depoimentos começaram por volta das 13h30 de hoje e só terminaram quase 18h. A delegada revelou houve demora porque muitos detalhes foram repassados. Entre eles, confirmou o que o Midiamax já tinha informado no sábado: todos do carro estavam em uma festa na Chácara Cachoeira (região nobre de Campo Grande) regada com bebida alcoólica à vontade.
“O motorista pegou o carro e chamou os demais para buscar mais bebidas. Eles saíram mesmo para comprar mais cerveja. E, nesse momento, alguns colegas começaram a ‘incitar’, a incentivar o condutor a acelerar cada vez mais, enquanto outros pediam pra voltar, pra levar a bebida para o churrasco”, disse a delegada.
Segundo as informações dos dois menores, o motorista chegou a pegar a BR (rodovia) só para testar a ‘potência’ do carro, para acelerar mais ainda. No trajeto, segundo um dos ouvidos pela polícia, o veículo deve ter chegado a 150kms/h pelo menos.
“Os dois informaram que o carro, em alta velocidade, bateu no meio fio (calçada) algumas vezes, saiu capotando até antes de parar definitivamente no terreno na saída para Três Lagoas”.
A delegada disse à imprensa o que o Midiamax tinha noticiado anteriormente também. “Um menor falou contou que nem todos se conheciam tão bem entre eles. Mas confirmou que o condutor já estava sim ‘acostumado’ a dirigir em outras ocasiões”.
Outro detalhe que chamou a atenção foi quando a delegada revelou que o motorista teria ido até a festa com o carro tranquilamente, ou seja, chegou dirigindo e, depois de ingerir muita bebida alcoólica, ainda continuou conduzindo o automóvel.
A festa começou por volta das 10h30 da manhã do sábado, o acidente foi registrado por volta das 15h30; ou seja, os menores (inclusive o motorista) já estavam bebendo a pelo menos cinco horas.
Crimes praticados
De acordo com a delegada, os laudos do inquérito serão concluídos em aproximadamente 10 dias. De antemão, ela informou que o condutor, de 15 anos, poderá responder por homicídio doloso (quando há a intenção de matar) e por lesão corporal dolosa. Ele poderá ser recolhido em uma Unei da capital. O motorista ainda continua internado na Santa Casa de Campo Grande.
Já os pais desse adolescente poderão responder por omissão de cautela, mesmo se negarem que o filho pegou o veículo escondido. “O carro está em nome da mãe, mas temos que avaliar o contexto. Se ficar comprovado, por exemplo, que o pai era quem mais cedia o veículo ao filho, ele poderá responder também”. A mãe do menino deverá ser ouvida até quinta-feira.
O dono da casa onde ocorria a festa poderá responder por fornecer bebida alcoólica a menores de idade. Ele ainda será intimado para prestar depoimento.
“Vamos interrogá-lo, já que era o pai de um dos amigos do grupo que estava no carro”, disse a delegada.
Pelos depoimentos, ficou comprovado que a turma comprou cerveja em uma conveniência nas proximidades do bairro Chácara Cachoeira. “O proprietário também poderá responder criminalmente por ter vendido bebida alcoólica para menor de idade”.
Filhos da elite
Diferentemente de outras ocorrências policiais, quando menores filhos de famílias de baixa renda, são facilmente registrados pela imprensa (mesmo com a cautela de não mostrar o rosto), neste caso, os profissionais da imprensa não conseguiram imagens dos envolvidos. Inclusive, funcionários da delegacia fizeram questão de proteger de entrar na frente das câmeras.
Todos no carro e na casa eram filhos de família de alto poder aquisitivo. Hoje, por exemplo, um dos interrogados é filho de uma médica.
Traumatizados
Maria de Lourdes revelou que os dois ouvidos hoje estão traumatizados com o ocorrido e citou outro detalhe crítico. “Um deles disse que também tinha o costume de dirigir o carro dos pais, mas que depois dessa situação, tá muito assustado e vai esperar completar 18 anos pra pegar o carro novamente”.
Alerta
“Esse é um alerta para toda a sociedade, para os pais que têm filhos nessa idade principalmente. Eles têm que ser totalmente responsáveis pelos seus filhos. Mas alguns pais infelizmente até incentivam o filho a dirigir (no caso de menino) para mostrar, se ‘firmar’ como homem. Olha a mentalidade desses”.
Apenas um dos adolescentes poderia estar usando o cinto de segurança. José Eduardo, o menor que morreu, estava no banco do passageiro (ao lado do motorista) e outros cinco no banco detrás do veículo.
Um outro menor (16), que estava na Santa Casa de Campo Grande, foi transferido para uma clínica particular da capital.
Fonte: midiamax
Por: Ari Theodoro
Foto: Wille Zampiei