A pavimentação da MS-112 deixa no passado histórias de atoleiro que vão do carro de boi aos ônibus de passageiros. No presente, a quase intransitável estrada de chão dá lugar a uma rodovia segura, bem sinalizada, que encurta os caminhos do desenvolvimento
Vila São Pedro, Inocência (MS) – A pavimentação da rodovia MS-112, que teve seu primeiro trecho (17 km) inaugurado neste sábado (26/11), deixa no passado histórias de atoleiro que vão do carro de boi aos ônibus de passageiros. No presente, a arenosa e quase intransitável estrada de chão dá lugar a uma rodovia segura, bem sinalizada, que encurta os caminhos do desenvolvimento e reflete até no custo do transporte para o usuário de ônibus.
A rodovia, incluída no Programa de Transportes e Desenvolvimento Sustentável de Mato Grosso do Sul (PDE/MS), está quase toda pavimentada – só restam dez dos 108 quilômetros para serem concluídos. Na inauguração do trecho inicial do lote 1 das obras (entroncamento da MS-377 à Vila São Pedro, em Inocência), a nova estrada foi comemorada por quem viveu pessoal ou profissionalmente as dificuldades da travessia em piso de chão.
O paulista Ataíde Valeriano Borges, 63 anos, não esquece do dia em que um caminhão carregado de carvão tombou no buraco à beira da pista, bem em frente à sua conveniência. Conhecer essa história, só mesmo no relato do comerciante, porque no trecho de travessia urbana de Vila São Pedro agora só se vê o asfalto lisinho, com guia, sarjeta, sinalização. “Teve muita gente que já dormiu atolada na estrada. Eu nunca cheguei a passar a noite, mas já tive que deixar o carro atolado, vir pra casa, e voltar pra desatolar no outro dia”, conta, ao relembrar as dificuldades para o trânsito de São Pedro a Três Lagoas. Mesmo para quem conseguia chegar, a viagem não era fácil: três, quatro horas para percorrer cerca de 117 quilômetros.
Ataide, o bar e a estrada: fornecedores agora entregam as mercadorias e o movimentou aumentou |
Com o asfalto, vieram as mudanças. Os fornecedores do “Bar do Ataíde” agora entregam na conveniência as bebidas e todo tipo mais de produtos que ele vende. “Antes não vinham, eu tinha que buscar, em Paranaíba, em Três Lagoas”. Animado no sábado de manhã por conta da grande festa que a comunidade fez para a inauguração do asfalto, o bar está mais cheio todos os dias, conta o comerciante. São trabalhadores de fazendas, moradores locais e entusiasmados moradores de Inocência, cidade a que pertence o distrito, e que fica a 17 km – distância agora curta pelo asfalto, e que é percorrida facilmente por quem não quer perder principalmente as noites de sábado, com pastel frito na hora, pizza, e música ao vivo.
O atoleiro que Ataíde viu por 22 anos desde que chegou ao distrito, o trabalhador rural Manuel Alves dos Santos enfrentava muitos anos antes. “Desde a época em que só passava carro de boi” e que sair de Inocência para Três Lagoas era “viagem de dois, até três dias”, ele conta. Mesmo com a modernidade dos veículos a motor, a dureza da travessia persistia. Seu Manoel, 78 anos, traz na memória histórias pitorescas, como o dia em que ele e o cunhado viajaram desde a localidade chamada Ponto do Tatu (mais adiante de Vila São Pedro) “pendurados”, agarrados na traseira de uma perua que transportava passageiros. O carro lotado era o único que se arriscava a prestar o serviço. “Quando chegou lá, a gente ‘tava’ vermelhinho de pó”.
O trabalhador rural Manuel Santos, 78 anos: drama nas décadas de viagens na estrada de chão |
Nesse ou em outros tipos de transportes, as condições ruins da estrada sempre trouxeram problemas, ele lembra, como as demoradas horas que pessoas doentes tinham que esperar para chegar a Três Lagoas para atendimento. “Era um sofrimento, embarcava um doente aqui, chegava lá tava pior. Agora ‘tá-que-tá’ uma beleza, em uma hora e pouquinho chega lá”.
Na contabilidade da empresa que hoje faz em modernos ônibus a linha intermunicipal Inocência-Três Lagoas, o tempo de viagem já reduziu exatamente à metade no transporte público: de 4 horas e meia para 2 horas e 15 minutos, mesmo sem a completa pavimentação do trecho. Outro ganho para o usuário é que a frenquencia deve aumentar, de três vezes por semana, para seis, com viagens de segunda-feira a sábado, revela o diretor da Viação São Luiz, Ângelo Possari.
A pavimentação ainda refletiu em dois itens técnicos que influenciam o custo da passagem, o que a médio prazo pode beneficiar quem embarca nessa linha. “Na nossa planilha, a redução do diesel já é de 30%”, revela o empresário. Como o tipo de piso onde o veículo transita também é um componente da estrutura tarifária, a linha deverá passar por reenquadramento, de piso 3 (chão) para piso 1, assim que a pavimentação dos 108 quilômetros da MS-112 estiver concluída.
Produção
Se o comércio e os serviços festejam a pavimentação, o setor agropecuário vê na concretização da obra a redenção da região de Inocência. Há décadas produtores filiados aos sindicatos rurais e outras entidades produtivas cobravam sucessivamente dos governos a execução do asfalto. “Essa estrada não tinha jeito. Os caminhões davam volta por Paranaíba, por Selvíria, Água Clara, porque na chuva era intransitável. Não tinha como escoar a produção”, cita o pecuarista Paulo Mariano Faria, emendando que a falta do asfalto atrapalhava também a nova vocação econômica da região. “O plantio de floresta aqui hoje é uma realidade. As fábricas de celulose precisam do eucalipto, da seringueira, e Inocência vai fornecer, vai ser um polo da madeira”, anima-se.
Faria e outros produtores também estão entusiasmados com o crescimento do cultivo de hortigranjeiros. Segundo ele, está sendo feito um trabalho de fomento aos pequenos produtores de hortaliças, e a garantia de uma boa estrada para transportar e comercializar esses produtos é fundamental.
Fonte: noticias.ms
Por: Gizele Cruz de Oliveira
Foto: Edemir Rodrigues