CAMPO GRANDE (MS),

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    05/12/2016

    OPINIÃO| Alexander Van der Bellen é eleito Presidente da Áustria

    Van der Bellen assumirá a presidência dia 26 de janeiro

    Domingo dia 4, foi confirmada a vitória de Alexander Van der Bellen como o próximo presidente da Áustria. Ao disputar e vencer a segunda etapa das eleições contra Norbert Gerwald Hofer, do Partido Austríaco da Liberdade, a corte austríaca decidiu anular o resultado das eleições, em função da numeração equivocada da abstenção de votos, dentre outros problemas funcionais, ter comprometido a eficiência e a confiabilidade da contagem. Não obstante, ao convocarem a população para comparecer novamente às urnas, a vitória de Alexander Van der Bellen foi confirmada neste domingo, dia 4. Décimo segundo presidente da Áustria, Van der Bellen assumirá oficialmente a presidência no dia 26 de janeiro. 

    Economista e professor de profissão, a carreira política de Van der Bellen começou na segunda metade dos anos 1990, quando o acadêmico já contava então com cinquenta anos de idade. Inicialmente filiado ao Partido Social Democrático, Van der Bellen integrou o conselho nacional pelo Partido Verde, vindo a representá-los a nível federal. Mantendo em paralelo a sua carreira acadêmica, conforme se aprofundava na imensidão da vida pública e na amplitude da esfera política, Van der Bellen permaneceu ativo também em nível municipal, tornando-se comissário de Viena para a integração da educação e pesquisa nas universidades, além de integrar o conselho municipal vienense. 
    Os resultados apontaram a vitória de Van der Bellen por 53% dos votos

    Van der Bellen candidatou-se como um político independente para as eleições de 2016, apesar de estar respaldado extraoficialmente pelo Partido Verde. Com uma visão política ostensivamente liberal, Van der Bellen apoia uma ainda frágil, mas consistente visão de federalismo europeu, por ele elaborada de forma mais detalhada em um livro que publicou em 2015. Com uma visão política de teor mais suave, pragmático e abrangente, aparentemente, Van der Bellen vai dar prosseguimento ao clima de progresso e prosperidade comuns à sociedade austríaca, habituada a ser um dos países mais estáveis e desenvolvidos do mundo. 

    Não obstante, a vitória de Van der Bellen está sendo celebrada pela União Europeia, que vê no político austríaco um mentor e um aliado. Apesar de uma carreira política que sob muitos aspectos é encarada como inexpressiva – em função de ser ainda muito recente, e só agora estar conquistando resultados mais palpáveis – Van der Bellen têm enorme conhecimento técnico e prático em diversos segmentos da gestão pública. Sua visão política de caráter mais moderado e sensato, destituída de radicalismos, é extremamente apreciada e bem recebida pela ala política mais conservadora da Europa ocidental e central, que acredita na consolidação da União Europeia, e, acima de tudo, deseja priorizar um processo político que permita aos países membros estreitar vínculos, depois de assimilar em um contexto continental a desfaçatez estrutural e política de uma Europa que ainda se recupera do Brexit. 

    Não obstante, ainda é muito cedo para afirmar quais serão de fato as políticas de Van der Bellen, e como serão implementadas. Definitivamente, introduzir a Áustria – por muitas vezes ainda tão periférica e marginal – em um programa estrutural mais sólido, dentro da conjuntura continental europeia, em um contexto político, econômico e social que a aproxime de reais possibilidades de progresso, é mais uma necessidade do que uma opção: praticamente não existem países no bloco que sejam tão autossuficientes, a ponto de não precisarem de aliados políticos ou parceiros comerciais. Na verdade, estas mesmas circunstâncias apresentam a ideia do federalismo europeu como um conceito viável e inovador, preponderante em termos de progresso político e econômico, e que se faz presente dentro de contextos e tratados políticos factuais, como a Área Schengen e a Zona do Euro. Para tanto, o federalismo europeu, embora mais complexo, se faz presente, em parte, dentro de integrações e associações supranacionais que são uma realidade na Europa há décadas. 

    Não obstante, a curiosidade persiste para ver em que contexto Van der Bellen irá se inserir, e onde se mostrará estar mais confortável, ou disposto a ir. Ainda que no presente momento possamos apenas especular, seus eleitores certamente estão ansiosos em averiguar se fizeram a escolha certa, ou não, para o homem que muito em breve irá liderar o seu país.

    Filho de pai russo e de mãe estoniana, Van der Bellen, apesar de ter nascido em Viena, só obteve cidadania austríaca aos quatorze anos de idade. Filho de refugiados dos estados bálticos, seus pais falavam russo fluentemente, mas não fizeram questão de ensinar o idioma ao filho. Fugindo do exército vermelho, e depois dos nazistas, Van der Bellen passou sua infância no estado do Tirol, e aos dezoito graduou-se na capital, Innsbruck. De lá, aos vinte e oito anos, mudou-se para Berlim. Pouco depois, Van der Bellen regressou a Innsbruck, transferindo-se, depois, para a capital, Viena. 

    Seu ingresso na vida pública parece ter sido uma evolução natural do ambiente acadêmico no qual viveu, além do seu envolvimento em ciências econômicas, dentre outras disciplinas e responsabilidades oriundas do campus universitário. Sendo um homem naturalmente pragmático, que não vê as disciplinas de forma isolada, mas possivelmente contempla cada uma delas como complementando umas às outras, Van der Bellen muito em breve assumirá a maior responsabilidade de sua vida pública: governar o seu país. 

    Tendo recebido os cumprimentos do seu adversário político, Norbert Hofer – que possivelmente tentará a presidência mais uma vez, em 2022 – seu rival na corrida presidencial escreveu, em seu perfil nas redes sociais: “Eu cumprimento Alexander Van der Bellen por seu sucesso, e peço a todos os austríacos para que fiquem juntos e trabalhem juntos”. Ao comemorar a vitória, sua segunda – após a primeira ter sido anulada em virtude do processo de contagem de votos ter ficado comprometido – Van der Bellen parece não apenas ser a opção mais segura para a grande maioria dos austríacos, mas reflete no apelo popular, também dos países vizinhos, o fato de que a consolidação de um futuro se materializa em um momento oportuno, que tornará propício e inexorável o progresso da nação. A despeito das barreiras políticas a serem enfrentadas, muito em breve a população poderá vangloriar-se com a súmula do êxito, ou a intempérie do fracasso. Não obstante, por enquanto, tudo o que há são especulações.





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