CAMPO GRANDE (MS),

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    20/03/2017

    OPINIÃO| Coréia do Norte prestes a deflagrar uma guerra?

    Com as tensões políticas elevadas, a comunidade internacional fica apreensiva diante da expectativa de uma possível conflagração bélica
    Os últimos acontecimentos políticos relacionados aos atritos diplomáticos que ocorreram entre a Coréia do Norte e a Coréia do Sul, o Japão e os Estados Unidos revelam uma progressão preocupante nas hostilidades. Com o andamento de testes de armamentos nucleares, e a desconsideração de Pyongyang contra resoluções da ONU, e de muitos outros países – como Singapura, Austrália, Alemanha, Índia e Israel, entre outros – desde seu último teste, em setembro de 2016, que gerou repercussões negativas em caráter global, as tensões aumentaram sobremaneira, especialmente com testes bélicos que passaram a invadir com frequência cada vez maior o espaço marítimo e terrestre do Japão e da Coréia do Sul. Como Pyongyang parece desconsiderar, de maneira arrogante e subversiva, todas e quaisquer convenções relacionadas à diplomacia internacional, o governo americano foi acionado em uma tentativa desesperada de buscar uma resolução para esta delicada e problemática questão. 

    Em uma recente reunião com autoridades governamentais da Coréia do Sul, o secretário de estado do governo federal americano, Rex Tillerson, discutiu possíveis medidas de contenção, bem como planos de contingência, para lidar com a crescente ameaça bélica representada por Pyongyang. Declarou, inclusive, que, se necessário, uma guerra será declarada. Um ataque frontal contra a Coréia do Norte parece ser inevitável e iminente. 
    Com um contingente expressivo, o exército da Coréia do Norte vem a ser um dos maiores do mundo
    Ao ficar sabendo da reunião entre os governos americano e sul-coreano, a China – único aliado político da Coréia do Norte –, decidiu agir prontamente como mediador do conflito. O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, criticou ambos os lados por suas posições, e reiterou a importância da busca por uma resolução pacífica para as hostilidades. Evidentemente, com o agravamento das tensões, ambos os lados lutarão por posições estratégicas. À medida que Pyongyang avança no fortalecimento de sua logística bélica em diversas frentes, a tensão na Coréia do Sul e no Japão tende a aumentar. Estes países, por sua vez, buscarão se defender, e igualmente posicionarão suas bases militares para que fiquem em estado de alerta permanente. Uma atitude destas tende a fomentar ainda mais a agressividade ofensiva de Pyongyang. Em função disto, é natural que a Coréia do Sul e o Japão busquem o apoio dos Estados Unidos, o que deixa a Coréia do Norte ainda mais de sobreaviso. O avanço de um lado tende a fomentar as temeridades do outro, e isso passa a ocorrer de forma sistemática, gerando uma cadeia de eventos em série, onde a estratégia de uma nação serve de prerrogativa para o próximo passo do inimigo. Desta maneira, tensões políticas e diplomáticas tendem a se acumular de uma forma tão intempestiva quanto imprevisível. 

    Entenda o contexto histórico da situação política na Península da Coréia:

    Em 1910, a Coréia foi anexada pelo Japão Imperial, assim permanecendo até o fim da Segunda Guerra Mundial. Da mesma maneira como os soviéticos e americanos derrotaram os nazistas, e dividiram a Alemanha, um destino similar acabou reservado à Península da Coréia. Ao derrotar o Japão, e erradicar o domínio japonês da península, os soviéticos e americanos concordaram em dividi-la, sendo que cada um administraria o território que lhe fora confiado da sua maneira. 

    Invariavelmente, os governos da União Soviética e dos Estados Unidos não foram capazes de chegar a um consenso, tampouco a um acordo salutar, no momento de devolver o território aos coreanos. Desta maneira, a península acabou dividindo-se em dois países: no norte, um governo baseado no modelo comunista, apoiado pela União Soviética, se desenvolvera, e no sul, um sistema divergente, baseado em uma política de entonação democrática, com pronunciada influência ocidental, se consolidou, com o apoio dos Estados Unidos. 

    A tensão entre os dois países recém-criados invariavelmente levou à Guerra da Coréia, que durou três anos, de 1950 a 1953. Como um armistício oficial nunca foi formalizado entre os dois países, tecnicamente, ambos ainda estão em guerra. A fronteira entre a Coréia do Norte e a Coréia do Sul – conhecida como zona desmilitarizada – atravessa toda a península, possuindo duzentos e cinquenta quilômetros de extensão, por quatro de largura. No lado norte-coreano, aproximadamente setecentos mil soldados guardam a fronteira, contra quatrocentos mil soldados no lado sul-coreano, com um contingente adicional de militares americanos. No interior da zona desmilitarizada, existe a área de segurança adjunta, onde são realizadas negociações entre as duas nações. Como é impossível passar pela zona desmilitarizada sem ser percebido, todos os anos norte-coreanos que desejam fugir para a Coréia do Sul o fazem através de uma arriscada jornada que passa pela China, pelo Laos e pela Tailândia – entre outras rotas alternativas no sudeste asiático – correndo o risco de serem repatriados, se por ventura forem capturados. 
    Kim Jong-un é o líder soberano da Coréia do Norte desde 2011, quando seu pai Kim Jong-il morreu
    Com a formalização da criação de um novo país, em 1948 a Coréia do Norte – que ironicamente têm por nomenclatura oficial o título de República Popular Democrática da Coréia – passou a ser governada por Kim Il-sung, considerado o fundador e grande líder da nação. Kim Il-sung governou o país por 46 anos, até morrer, em 1994, quando foi substituído por seu filho, Kim Jong-il, que por sua vez, também governou o país até a sua morte. Desde 2011, a Coréia do Norte é governada por Kim Jong-un, filho de Kim Jong-il. Em função da influência soviética, o regime governamental segue o modelo totalitário do comunismo stalinista. 

    De uma forma ou de outra, não importa o ângulo pelo qual se analise a atual conjuntura política, parece impossível mitigar a crescente tensão entre a Coréia do Norte e a Coréia do Sul. Com Japão, Estados Unidos e China envolvidos nesta equação, é possível esperar uma resolução pacífica para o problema. Não obstante, o caráter intransigente, belicoso e obstinado de Pyongyang levanta uma série de considerações divergentes, que tornam improvável a prospectiva formulação de um acordo pacífico entre as partes. Seja como for, sabemos que o Japão, a China, os Estados Unidos e a Coréia do Sul estão fortemente inclinados em aplacar as hostilidades. A Coréia do Norte, por outro lado, parece estar comprometida única e exclusivamente com as suas próprias ambições políticas e militares. Em todas as ocasiões possíveis, Pyongyang nada demonstrou, senão completa indiferença e apatia, com relação às consequências de suas ações.




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