Defesa em MS diz que aguarda 'momento oportuno para citar fatos novos'. Família afirma estar indignada com andamento do processo criminal.
Motorista de caminhonete foi morto depois de briga no trânsito (Foto: Marcos Ribeiro/TV Morena) |
Quase dois meses após uma confusão no trânsito, envolvendo um policial rodoviário federal e que resultou na morte do empresário Adriano Correia do Nascimento, de 32 anos, uma sequência de falhas permeiam o real entendimento do crime. Mesmo com a conclusão do inquérito, a Polícia Civil realiza uma investigação complementar e, com isso, peritos devem explicar uma série de informações que não constam no laudo: de objetos encontrados posteriormente ao projétil ainda alojado no corpo da vítima.
De acordo com um dos peritos que atuam no Instituto de Criminalística (IC), que prefere não se identificar, o passageiro da caminhonete e a vítima, estariam com um objeto em mãos, para possivelmente simular uma arma e intimidar o PRF na data dos fatos. "Com o impacto da batida no poste, uma das portas permaneceu fechada durante a perícia. Já no pátio do IC, durante uma nova vistoria, dois objetos identificados como flambadores, foram encontrados", afirmou ao G1 o perito.
Tais objetos, nas cores preto e vermelho, poderiam ter sido facilmente confundidos com uma arma, pelo formato de pistola e por soltarem faíscas, ainda de acordo com o perito. "A análise dos áudios aponta que o agente entrou em contato com a polícia e dizia que, aparentemente, eles estavam armados. Os veículos estavam muito próximos e, com a discussão e ameaças, constatamos que os primeiros tiros foram direcionados ao passageiro que estava atrás e não ao Adriano", analisou.
Rumo ao blackout alcoólico
Na ocasião, mesmo com os tiros, o perito ressalta que o condutor da caminhonete ainda tentou "jogar" o carro contra o PRF. "A vítima continuou a avançar, pisou fundo, tanto que a velocidade estava entre 60 e 80 km/h. Os próximos tiros por parte do PRF então acertaram Adriano e ele colidiu contra o poste. Na boate onde estava, teria consumido, com os demais passageiros do carro, duas garrafas de vodca. A vítima ainda estaria sob efeito de ecstasy e faltando pouco para ter um blackout alcoólico", comentou.
Neste caso, o servidor explicou que a vítima estava em uma fase de euforia e agressividade exacerbada. "Ele estava a ponto de estourar, tanto que jogou o carro pra cima do PRF. A degravação da ligação ao 190 aponta que o agente pediu reforço policial e que seria necessário o etilômetro, sendo que ele desceu com a arma e se identificou. Ao mesmo tempo, ele tentava enxergar qual o objeto os outros envolvidos estavam segurando e pedia a elas para responder se era arma ou não", ressaltou.
Suposto esconderijo
Ainda durante a data dos fatos, parentes da vítima teríam comparecido a delegacia, buscando objetos no carro da vítima.
"Eles seguiram para o pátio do IC e lá disseram para um auxiliar de perícia que estavam procurando o RG do empresário. No entanto, este documento já estava na relação de pertences entregues para a família. Estas pessoas então teriam informado que a vítima tinha um esconderijo no veículo, onde precisavam pegar umn dinheiro. Eles então retiraram pertences e isto teria sido feito sem a presença de qualquer servidor", disse.
Outra constatação seriam os tiros. "A vítima foi enterrada com um projétil, que pode ser o responsável pela morte. A bala não foi localizada por conta do raio-X do Imol [Instituto de Medicina e Odontologia Legal] estar interditado, conforme também consta no laudo. Isso seria necessário inclusive fazer uma exumação do cadáver. É um caso que pode chegar a ser igual ao caso Motel, caso não for bem explicado. Ao menos três laudos diferentes foram feitos e refeitos", garantiu.
Momento oportuno
O advogado criminalista Renê Siufi, que atua na defesa do agente da PRF Ricardo Hyum Su Moon, conta que aguardo um retorno do Ministério Público Estadual (MPE). "Nós estamos respondendo ao pedido e pedimos que seja mantida a decisão de deixar meu cliente em liberdade. Além disso, estou analisando com muita calma estes fatos novos, principalmente essa questão da mistura da bebida alcoólica com ecstasy", afirmou ao G1 o advogado.
Segundo o jurista, a defesa está pedindo a comanda dos últimos 12 meses em que o empresário compareceu na boate. Nestas ocasiões, ele teria feito a "mistura de bebidas e o ecstasy". "O prazo vai até quarta-feira e estou verificando o momento oportuno para abordar esta questão, além de muitos erros na reprodução simulada", fala Siufi.
Indignação
A família do empresário, diante a tantas informações, diz estar indignada. "Ele foi brutalmente assassinado e estão encobrindo tudo isso. Nada justifica a forma como o policial agiu. E cada dia que passa é um sofrimento pior para a família, pois parece que meu tio se tornou um alcoólatra, drogado e depressivo. O cara matou, tem que pagar por isso e não é porque ele [Adriano] tinha substâncias no sangue que vai mudar a pessoa que ele era", comentou a sobrinha Paula Barbosa Nascimento.
Empresário foi morto a tiros em briga de trânsito com policial (Foto: Reprodução/ TV Morena) |
Ainda conforme a sobrinha, a vítima estava sempre na "correria" dos restaurantes e, nas horas vagas, estava sempre perto da família. "Nós saíamos junto com ele e não tínhamos conhecimento de ecstasy. Ele estava sempre com muito trabalho e passar por tudo isso, com as pessoas sempre querendo falar no assunto, é muito difícil", finalizou.
Entenda o caso
O crime aconteceu às 5h40, do dia 31 de dezembro de 2016, na avenida Presidente Ernesto Geisel, esquina com a rua 26 de Agosto, região central de Campo Grande. Após uma briga de trânsito, o policial rodoviário começou a disparar contra a caminhonete de Adriano. Agnaldo Espinosa da Silva, 48 anos, e o filho, de 17 anos, também estavam na caminhonete, que foi atingida por cerca de sete tiros.
A vítima foi atingida em regiões vitais, perdeu o controle do veículo e bateu em um poste. Ele morreu no local. O suspeito estava sozinho no carro. Equipes do Corpo de Bombeiros e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foram acionadas, sendo que isolaram a pista para os trabalhos da perícia e Polícia Civil.
Do G1 MS
Por: Graziela Rezende e Paulo Yafusso
Link original: http://g1.globo.com/mato-grosso-do-sul/noticia/2017/02/caso-prf-jurista-e-perito-apontam-falhas-tecnicas-na-investigacao.html